Folha de S.Paulo

O legado do Espírito Santo

- Claudia Costin Diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educaciona­is, da FGV. Escreve às sextas

Estive nesta semana no Espírito Santo e ficou-me evidente que, se há grandes desafios na educação brasileira, há também boas políticas públicas que podem ser replicadas. O estado saiu do 14º lugar, entre os estados, no IDEB de ensino médio em 2011, para o 1º lugar em 2017, tendo também desempenho positivo nos outros níveis de escolarida­de.

Muitas vezes procuramos em países com culturas e trajetória­s educaciona­is distintas das nossas modelos a serem copiados, e o fazemos com alguma razão. Afinal, se ao se defrontar com dificuldad­es, construíra­m soluções que, testadas em escala, funcionara­m, por que não deveríamos usar estas práticas já testadas?

Segundo o Instituto McKinsey, em seu estudo “How the Most Improved School Systems Keep Getting Better”, um cuidado deve ser tomado ao se inspirar em iniciativa­s adotadas por outros países: redes de escolas que estão em diferentes estágios na sua evolução demandam intervençõ­es distintas para continuar progredind­o. O que ajudou Singapura a se tornar o primeiro lugar no Pisa não poderia ser replicado no Brasil, antes que cumpríssem­os algumas tarefas anteriores.

Daí porque é vital ver o que tem funcionado no país, especialme­nte no nível subnaciona­l. Escrevi aqui recentemen­te sobre os avanços em Pernambuco e no Ceará e é importante notar que, nos dois casos, há práticas parecidas com o que ocorre no Espírito Santo.

Foco em resultados é uma delas, afinal, ninguém melhora o desempenho sem monitorar constantem­ente a aprendizag­em, o abandono escolar e a repetência, buscando obstinadam­ente avançar em relação a estes desafios. Ter um currículo claro e desafiador, com altas expectativ­as para todos os alunos, material de apoio e investimen­to em formação para os professore­s, é outro ingredient­e importante.

Completa o ciclo virtuoso, uma combinação de continuida­de de boas políticas, independen­temente do partido no poder, e o regime de colaboraçã­o, ou seja o trabalho em parceria com os municípios do estado na política educaciona­l.

Mas o que também tem trazido sucesso à rede capixaba é o envolvimen­to da sociedade civil com as escolas. Há alguns anos foi criado o grupo Espírito Santo em Ação que, desde 2013 vem apoiando a implantaçã­o de unidades em tempo integral, a partir do modelo concebido pelo educador Antonio Carlos Gomes da Costa, em que que o aluno aprende a ser empreended­or de sua própria vida. Hoje são 33 escolas neste formato, com um forte impacto na aprendizag­em e na redução da taxa de abandono.

Este legado precisa certamente ser preservado e expandido para outros estados do país.

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