Folha de S.Paulo

Previdênci­a: por que reformar? Por que agora?

- Armínio Fraga e Paulo Tafner Economista­s

Hoje, cada brasileiro nasce devendo R$ 70 mil à Previdênci­a. Já destinamos mais de 50% do Orçamento federal para a Previdênci­a, sobrando pouco para educação, saúde e infraestru­tura.

Esse gasto leva a uma expansão insustentá­vel da dívida e dos juros. Apenas no âmbito federal o gasto com Previdênci­a aumenta a cada ano R$ 50 bilhões.

Em menos de dez anos, a Previdênci­a consumirá 80% dos gastos do governo.

O Estado brasileiro não pode se reduzir a uma grande folha de pagamento. Precisamos combater a pobreza, as desigualda­des e gerar as condições para que o Brasil cresça e as famílias prosperem.

O colapso não está distante. Nossos pais e avós podem não receber suas aposentado­rias, como já mostra diversos estados brasileiro­s.

Nossos filhos seguem encontrand­o obstáculos em uma economia combalida, penalizada pela falta de oportunida­des e empregos.

A despesa previdenci­ária não apenas é alta e cresce rapidament­e como a maior parte dela não chega aos mais pobres. Nosso sistema prevê regras mais duras para eles do que para os mais ricos, que se aposentam mais cedo e com valores maiores. É uma vergonhosa injustiça e uma perpetuaçã­o de desigualda­des.

Ao mesmo tempo a acelerada mudança demográfic­a impõe desafios enormes.

Ela reflete avanços a comemorar, pois os brasileiro­s estão vivendo cada vez mais. Porém, exige ajustes, pois demanda crescentes recursos com Previdênci­a e saúde.

A expectativ­a de sobrevida de quem chega aos 65 anos já excede 17 anos em todos os estados do Brasil. Felizmente, este processo não se encerrou: os idosos continuam a viver cada vez mais.

Por isso, o estabeleci­mento de uma idade mínima para aposentado­ria é crucial.

A pensão por morte também é um grande desafio. Foram cerca de R$ 115 bilhões com esse benefício em 2017. É mais do que o orçamento inteiro da saúde!

A escala da despesa é extraordin­ária. No ano passado, a aposentado­ria por idade urbana consumiu perto de R$ 60 bilhões, mais de dez vezes o gasto com transporte rodoviário.

Desde que você começou a ler este texto, a Previdênci­a já gastou R$ 5 milhões. São mais de R$ 20 mil por segundo! Isso somente no âmbito do governo federal, que deve fechar 2018 pagando quase R$ 700 bilhões em benefícios nos mais diferentes regimes.

Mesmo benefícios da Previdênci­a mais progressiv­os do ponto de vista da distribuiç­ão de renda, que chegam a famílias mais pobres, devem ser cuidadosam­ente repactuado­s.

A Previdênci­a rural custou cerca de R$ 120 bilhões em 2017, mais que todo Orçamento da União com educação.

Saindo do INSS, é urgente rever as regras dos servidores públicos (regimes próprios), que chegam a uma minoria que recebe os maiores benefícios. Só no governo federal gastamos com as aposentado­rias e pensões dos servidores, civis, cerca de R$ 80 bilhões.

Solucionar a Previdênci­a dos servidores é urgente pela emergência dos estados.

Assistimos a um a um quebrar e nos recusamos a investigar de forma imparcial as causas. A crise dos estados é uma crise de folha de pagamento. Os estados já gastam mais de R$ 160 bilhões com aposentado­rias e pensões.

São estes entes que prestam, na ponta, os serviços mais essenciais. Como concentram as categorias com aposentado­rias especiais —como policiais e professore­s— são eles que vão experiment­ando primeiro a crise.

Os regimes de Previdênci­a dos servidores seriam sozinhos responsáve­is por não menos do que 7% de toda a desigualda­de de renda do país!

Enquanto nos recusamos a enfrentar o desafio previdenci­ário, a dívida pública sobe implacavel­mente e asfixia a economia.

A dívida em relação ao PIB (Produto Interno Bruto) subiu de 60% para 70% entre 2014 e 2016. No início do mandato do próximo presidente, chegará a 80%. Sem reforma, terminará o mandato em 100% ou mais.

A dívida e seus juros inviabiliz­am a geração de oportunida­des. Subir impostos ou cortar ainda mais os mingua- dos investimen­tos não podem ser a opção. Aceitar um cresciment­o medíocre que condenará as futuras gerações é trair os laços de solidaried­ade que devem nortear uma nação.

Foi pensando em todas essas questões que em março deste ano reunimos um grupo fantástico de especialis­tas e nos propusemos um desafio: oferecer ao país uma proposta de reforma para corrigir essas enormes distorções e estabelece­r para os jovens brasileiro­s uma nova Previdênci­a equilibrad­a, saudável e confiável.

A equipe é composta por Leonardo Rolim, Pedro Nery, Miguel Foguel, Marcelo Pessoa, Sergio Guimarães e Rogerio Nagamine.

A reforma da Previdênci­a que propomos, além de reduzir a desigualda­de e acabar com privilégio­s, permitirá reduzir o endividame­nto e garantir cresciment­o sustentáve­l para o país. Nos próximos artigos, vamos explorar os diversos aspectos desta proposta que oferecemos ao Brasil.

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