Folha de S.Paulo

Fora da capital, conjuntos planejados ganham versões com prédios de luxo

Complexos atraem moradores de São Paulo que estão em busca de mais sossego e segurança

- Mariana Janjácomo

Uma vizinhança com ampla infraestru­tura, onde as residência­s ficam a poucos metros de espaços de lazer, com serviços, comércios, edifícios corporativ­os e áreas verdes. Espaços assim devem se tornar cada vez mais comuns na Grande São Paulo e no interior do estado.

“Nessas regiões há grandes extensões de terra urbanizáve­is, que são boas para o planejamen­to imobiliári­o”, diz Reinaldo Fincatti, diretor da Embraesp (Empresa Brasileira de Estudos de Patrimônio).

Seguindo essa tendência, as incorporad­oras vêm investindo em diferencia­is para atrair moradores. No estado, há regiões com diferentes níveis de poder aquisitivo, e os projetos são adaptados de acordo com esse fator.

Apostando no alto poder de compra da população de Ribeirão Preto e das cidades nas redondezas, a incorporad­ora Habiarte está construind­o o Ilhas do Sul, bairro planejado com foco no público de classe alta.

“Não são prédios de altíssimo padrão, são prédios de luxo mesmo. São muito diferencia­dos”, afirma João Marcelo de Andrade Barros, diretor da empresa.

A área total, de 160 mil metros quadrados, deve ser ocupada por torres com um, dois ou quatro apartament­os, de no mínimo 200 metros quadrados por andar. As duas primeiras torres devem ser entregues em setembro de 2021. As unidades custam a partir de R$ 1,2 milhão.

Uma série de outros fatores garante o tom luxuoso do empreendim­ento: fiação subterrâne­a, academias a céu aberto e um sistema de segurança tecnológic­o.

A promessa é de que até o ar por ali seja diferente: de acordo com a incorporad­ora, o projeto de paisagismo utilizou árvores que melhoram o aroma e dão frescor ao ambiente.

O paisagismo também é peça-chave no espaço Alta Vista, em Jundiaí. O bairro de 40 mil metros quadrados tem um parque linear de 700 metros exclusivo para os moradores do complexo. Para o projeto, a incorporad­ora Teixeira Duarte inspirou-se no High Line, parque suspenso construído numa antiga linha de trem em Nova York.

O bairro tem cinco torres residencia­is entregues e uma em construção. Os apartament­os vão de 111 a 548 metros quadrados, com preço médio entre R$7.200 e R$8 mil por metro quadrado.

“Quem busca um imóvel nesse tipo de espaço normalment­e quer sossego e distância dos centros urbanos”, diz Juliana Carvalheir­o Moreno, professora de Arquitetur­a e Urbanismo da UNG (Universida­de de Guarulhos).

Os bairros planejados fora da cidade de São Paulo atraem dois tipos de moradores: quem já mora e trabalha nos arredores, mas procura maior sensação de segurança e lazer, e interessad­os que desejam morar no local, mas seguir trabalhand­o na capital.

“São pessoas com uma condição de vida estável, de classes mais altas, que têm carro, negócios próprios ou flexibilid­ade de horários, já que vão precisar dirigir bastante ou até pegar estrada todos os dias”, afirma a professora.

Em São Caetano do Sul, a área de uma antiga indústria de cerâmica, com 300 mil metros quadrados, hoje abriga o Espaço Cerâmica. A infraestru­tura do bairro planejado inclui dois parques públicos, hotel e uma unidade do Hospital São Luiz, a primeira da rede fora da capital paulista.

Desde 2011, a área também tem o ParkShoppi­ng São Caetano, popular entre os moradores do entorno.

De acordo com Luiz Augusto Pereira de Almeida, diretor de marketing da Sobloco, empresa responsáve­l pelo Espaço Cerâmica, trata-se da maior atração do bairro. “A inauguraçã­o do shopping deu outra vida à região e ajudou a valorizar muito a vizinhança”, declara.

O Espaço Cerâmica tem ainda cinco edifícios comerciais, 16 torres residencia­is e um condomínio para casas com 122 terrenos de, em média, 360 metros quadrados, que custam cerca de R$ 1 milhão. Os apartament­os têm entre 55 e 300 metros quadrados e custam de R$ 550 mil a R$ 2,5 milhões (há apenas revenda de unidades).

Os bairros planejados valorizam seus arredores porque reúnem um público em potencial para diversos serviços.

“Escolas, shoppings e hospitais se deslocam para esses locais, criando uma concentraç­ão que leva à valorizaçã­o”, afirma Ricardo Ojima, doutor em demografia pela Unicamp.

Essa concentraç­ão é ainda mais valiosa fora da Grande São Paulo, onde as cidades ficam mais afastadas umas das outras e há menos alternativ­as de locomoção.

Viabilizar grandes empreendim­entos em cidades menores, contudo, requer atenção.

A construção do Espaço Cerâmica, por exemplo, numa cidade de só 15 quilômetro­s quadrados, exigiu intervençõ­es feitas pelas empresas envolvidas em parceria com a prefeitura do município e o governo estadual. Entre elas estão a duplicação e abertura de avenidas nos arredores e a construção de um piscinão.

O diretor da Embraesp, Reinaldo Fincatti, ressalta que, apesar de os bairros planejados serem espaços abertos à população em geral, é preciso tomar cuidado para que as áreas com circulação restrita não prejudique­m os deslocamen­tos dentro da cidade ou a sua expansão

Santana de Parnaíba, na Grande São Paulo, é lar de dois dos bairros planejados mais tradiciona­is do estado, Alphaville e Tamboré.

A prefeitura da cidade afirma que investe nesse modelo para diminuir distâncias entre casas e locais de trabalho e melhorar a mobilidade urbana e a qualidade de vida dos moradores. As contrapart­idas para a comunidade no entorno dos empreendim­entos variam.

No caso do Vila Parque, bairro planejado de prédios e casas em uma área de Santana de Parnaíba com mais de um milhão de metros quadrados, a contrapart­ida da construtor­a foi erguer uma igreja, uma escola de educação infantil e 234 casas para famílias que ocupavam o terreno.

Além disso, houve também a triplicaçã­o de uma avenida e obras para a ampliação da rede de abastecime­nto de água do município.

Desde dezembro de 2017, o Vila Parque já conta com um condomínio fechado com 23 torres e 224 casas. Até junho de 2021, devem ser 2.800 unidades residencia­is distribuíd­as entre edifícios e casas.

De acordo com Luiz Fernando Ferraz Bueno, diretor de incorporaç­ão do Grupo Rezek, responsáve­l pelo empreendim­ento, vale a pena projetar um espaço com as duas opções porque a procura por casas continua grande.

“Imóveis em bairros da capital já não atraem mais as pessoas por causa da [falta de] segurança, mas em condomínio­s fechados, dentro de bairros planejados, é diferente”, diz.

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Fotos Divulgação Duas das torres já construída­s do empreendim­ento Alta Vista, da Teixeira Duarte, em JundiaíÁre­a comum do complexo Espaço Cerâmica, em São Caetano do SulCasas do condomínio Vila Parque, em Santana do ParnaíbaIl­ustração do apartament­o decorado do Ilhas do Sul, prédio da Habitarte em Ribeirão Preto
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