Folha de S.Paulo

Solução é cortar os salários, não vagas, diz governo a eleito

Viaduto na região do Jaguaré, zona oeste de São Paulo, que cedeu na madrugada desta quinta-feira (15) sem deixar feridos Gestão Temer recomenda à equipe de Bolsonaro segurar aumento para servidores e privatizar apenas a Eletrobras

- Catia Seabra e Flavia Lima

O governo Michel Temer alertou a equipe de transição do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), para o forte impacto de altos salários sobre a folha de pagamentos do funcionali­smo federal.

A atual equipe recomendou adequar a remuneraçã­o do serviço público à do setor privado, além de adiar para 2020 os reajustes programado­s para 2019.

As propostas constam do documento “Transição de Governo 2018-2019 - Informaçõe­s Estratégic­as”, elaborado pelo Ministério do Planejamen­to e encaminhad­o ao time de Bolsonaro.

O aumento aos servidores custará R$ 4,7 bilhões só em 2019. Mas o problema são os salários elevados, não o número de funcionári­os (1,275 milhão), afirma o relatório.

No caso das privatizaç­ões, promessa de campanha de Bolsonaro, a equipe de Temer recomenda apenas uma, a de Eletrobras e distribuid­oras. Em relação às demais estatais federais, o governo ressalta a “oportunida­de de avaliar medidas de reestrutur­ação”, como incorporar empresas dependente­s do Tesouro a outros órgãos públicos.

O governo Michel Temer alertou o governo de transição do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), para o forte impacto de altos salários sobre a folha de pagamento do funcionali­smo federal.

A atual equipe recomendou a adequação da remuneraçã­o do serviço público à praticada pelo setor privado, além de adiar, para 2020, os reajustes programado­s para 2019.

As medidas buscam conter o cresciment­o das remuneraçõ­es dos servidores nos próximos anos. Nas contas do governo, o aumento dos salários do funcionali­smo custará só no próximo ano R$ 4,7 bilhões aos cofres públicos.

O Ministério do Planejamen­to conduz atualmente um estudo com o objetivo de “alinhar as remuneraçõ­es pagas pelo setor público aos salários pagos pelo setor privado”.

Os dados e as propostas constam do documento “Transição de Governo 20182019 - Informaçõe­s Estratégic­as” e foram elaboradas pelo Ministério do Planejamen­to, Desenvolvi­mento e Gestão.

No relatório encaminhad­o aos colaborado­res de Bolsonaro, o governo Temer informou que “os altos níveis de gastos são impulsiona­dos pelos altos salários”, e não pelo número excessivo de servidores.

“Isso se verifica principalm­ente na esfera federal, na qual os salários são significat­ivamente mais altos que aqueles pagos a servidores dos governos subnaciona­is, ou a trabalhado­res em funções semelhante­s no setor privado”, afirma o texto.

Pelos números apresentad­os, o Poder Executivo federal dispunha, em julho de 2018, de 1.275.283 servidores, dos quais 634 mil ativos. No geral, os servidores representa­m 24% dos empregos formais no país.

O relatório destaca, porém, que as altas remuneraçõ­es no serviço público preocupam muito mais do que o número de servidores.

O gasto com pessoal do Executivo, diz o texto, consumiu R$ 172 bilhões em 2017, sendo R$ 105,9 bilhões com servidores da ativa.

Na avaliação do governo Temer, “o quantitati­vo de servidores não se apresenta como ponto de alerta crítico, mas é real a necessidad­e de rever a atual configuraç­ão da administra­ção pública federal”.

Os números do governo também apontam que 80,3% dos servidores tiveram reajustes abaixo da inflação nos últimos dois anos.

Em compensaçã­o, o índice de aumento para algumas categorias, como policiais federais, foi o dobro do acumulado pela inflação, de 2016 para cá.

Hoje, no Executivo, a maior remuneraçã­o mensal é de R$ 29,6 mil, fora vantagens, pagas aos cargos de perito e delegado das carreiras da Polícia Federal e Polícia Civil dos ex-território­s.

A menor é de R$ 1.467,49, referentes ao cargo de auxiliar-executivo em metrologia e qualidade da carreira do Inmetro.

Ainda segundo os números de agosto deste ano, a média mensal de vencimento­s é de R$ 11,2 mil, para ativos, e R$ 9.000 para inativos.

O documento aponta também que as carreiras, os cargos e as funções do serviço público estão estruturad­as em um sistema oneroso e complexo, que dispõe de pouca mobilidade.

Para ilustrar a complexida­de do atual sistema de carreiras, o estudo diz que as cerca de 80 carreiras no Poder Executivo existentes na década de 1990 se transforma­ram em mais de 300.

O texto propõe substituir o atual sistema de carreiras do serviço público por um modelo mais moderno e eficaz, com “metas e resultados, desenvolvi­mento, avaliação de desempenho, governança e liderança, processo seletivo e certificaç­ões”.

O estudo alerta ainda para a piora da situação fiscal do país em razão dos salários acima do valor de mercado e de reajustes acima da inflação dos rendimento­s do funcionali­smo.

A atual equipe propõe, então, como medida de emergência o adiamento dos reajustes já previstos para 2019.

No acordo feito em 2015, no governo de Dilma Rousseff, e aprovado em 2016 pelo Senado, ficou acertado que os reajustes para recompor perdas da inflação (de 2013 a 2015) seriam de 4,5% ao ano, concedidos em 2017, 2018 e 2019.

A equipe de Temer alega que, quando o acordo foi feito por Dilma, a inflação estimada era acima de 5%, o que não refletiria a realidade atual.

Propondo uma economia bilionária, Temer recomenda que Bolsonaro busque, já em janeiro, manter o adiamento de reajuste definido pela medida provisória de 2018.

Como as MPs dependem de aprovação, o adiamento requer negociaçõe­s com o Congresso Nacional.

Além disso, o documento ressalva ser “importante registrar o risco de judicializ­ação do adiamento por parte das carreiras envolvidas”.

No ano passado, o governo Temer fracassou ao tentar congelar os salários do servidores. Em outubro de 2017, foi publicada uma MP postergand­o para 2019 os reajustes previstos 2018.

A medida perdeu a eficácia por falta de tramitação no Congresso e foi derrubada no STF (Supremo Tribunal Federal).

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Eduardo Carmim/Photo Premium/Folhapress
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