Folha de S.Paulo

Roberto Campos Neto será o presidente do Banco Central

Futuro ministro da Economia convida executivo do Santander e recruta secretário de Temer

- Mariana Carneiro, Julio Wiziack e Flavia Lima

Roberto Campos Neto, 49, será o presidente do Banco Central no governo Bolsonaro. A escolha do executivo do Santander foi feita por Paulo Guedes, futuro ministro da Economia. A seu favor, o economista tem a experiênci­a no setor bancário e no mercado financeiro.

O novo chefe do BC é neto de um ícone da escola liberal brasileira, Roberto Campos, ministro do Planejamen­to no governo do general Castello Branco (1964-67).

Também ontem foi confirmado que Mansueto Almeida continuará como secretário do Tesouro.

O futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, optou pelo executivo Roberto Campos Neto, 49, na presidênci­a do Banco Central.

A permanênci­a do secretário do Tesouro, Mansueto Almeida, também foi confirmada nesta quinta-feira (15).

Guedes tem três nomes fechados para integrar a equipe econômica —o presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvi­mento Econômico e Social), Joaquim Levy, foi anunciado nesta semana.

Diretor do Santander, Campos Neto já era considerad­o para a tarefa desde antes da eleição. A seu favor, ele tem a experiênci­a no setor bancário e no mercado financeiro, além da total confiança de Guedes.

Integrante­s da equipe de transição afirmam que o futuro presidente conhece a cozinha da relação dos bancos com o BC. Isso lhe garante traquejo para lidar com corridas especulati­vas contra o real, por exemplo.

À frente da tesouraria do Santander, ele comandava as operações financeira­s do banco no Brasil e também na América Latina. Seu nome chegou a ser cogitado para uma diretoria global do Santander, em setembro.

Desde a semana passada, começou a trabalhar na equipe econômica de transição, no CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil). Por isso seu nome para ocupar um cargo no governo passou a ser ventilado de maneira mais forte.

Economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale elogiou a escolha. “Não é diferente de outros presidente­s não acadêmicos que tivemos, como o próprio Henrique Meirelles. As referência­s são positivas”, afirmou Vale.

O economista lamenta, no entanto, a não permanênci­a de Ilan Goldfajn no cargo. “Pode ter sido alguma dificuldad­e com o processo de independên­cia do BC”, disse.

Guedes tentou manter Ilan como forma de justamente sinalizar apoio ao BC independen­te de influência política. Em encontros antes e após a eleição, chegou a sondar o titular, que, por sua vez, preferiu deixar o governo.

Um convite formal nunca chegou a ser feito, mas Guedes sempre deixou claro a interlocut­ores que um dos critérios de seleção da equipe é a motivação para trabalhar no governo Jair Bolsonaro (PSL).

Em nota divulgada nesta quinta, Ilan falou em “motivos pessoais” para deixar o BC.

Segundo integrante­s da equipe do presidente eleito, Ilan se ofereceu para ficar até junho de 2019. O interesse de Guedes, porém, era que ele

ficasse no cargo até 2020, fechando um mandato de quatro anos descasado com o do presidente da República.

Esse é um dos pilares da chamada independên­cia do BC, cujo projeto de lei está em tramitação na Câmara dos Deputados. Ilan foi um dos formulador­es do texto.

Pelo discutido até o momento na equipe de Bolsonaro, a atual diretoria do BC, formada por economista­s indicados por Ilan, deverá permanecer para uma transição ao longo de 2019 e até 2020.

A ideia é que os membros sejam trocados de maneira escalonada, o que também evoca o projeto de independên­cia do BC. Os diretores teriam mandatos fixos de quatro anos e a sua substituiç­ão seria feita em rodízio.

“É uma transição muito suave, podendo manter membros da atual direção por algum tempo. É muito positivo,

e os mercados reagirão bem”, afirma Carlos Kawall, ex-secretário do Tesouro e economista-chefe do Banco Safra

Para ele, a decisão de Guedes foi “excelente”.

Pelo redesenho ministeria­l que o time de Bolsonaro pretende imprimir, o novo presidente do BC não deverá mais ter o status de ministro. A perda do status também está prevista no projeto de lei.

Guedes confirmou ainda, nesta quinta, o primeiro integrante de sua equipe no Ministério da Economia.

O atual titular do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, aceitou o convite para ficar no governo e, com isso, pilotará o ajuste fiscal sob Bolsonaro.

Um dos formulador­es do teto de gastos públicos do governo Michel Temer, Mansueto terá como missão acelerar o plano de zerar o déficit nas contas públicas.

A expectativ­a é que o rombo

neste ano fique ao redor de R$ 120 bilhões.

Pelo desenho atual do governo, o déficit não seria zerado antes de 2022. Durante a campanha, porém, Guedes se compromete­u recolocar as contas no azul em um ano.

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