Folha de S.Paulo

Frente quer dividir com novo governo pauta anticorrup­ção

Ideia é debater medidas de Moro e evitar que tema se torne marca exclusiva

- Mario Cesar Carvalho

Um grupo de parlamenta­res articula uma frente anticorrup­ção para debater o pacote de medidas que o futuro ministro da Justiça, Sergio Moro, vai encaminhar ao Congresso no começo do próximo ano. Não será um grupo de alinhament­o automático com o governo: há tanto apoiadores do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), quanto opositores.

A frente tem o propósito declarado de fazer andar as medidas anticorrup­ção, mas há também uma intenção oculta: a de evitar que essa pauta torne-se uma marca exclusiva do governo Bolsonaro.

O senador reeleito Randolfe Rodrigues (Rede-AP), os deputados federais eleitos Luiz Flávio Gomes (PSB-SP), Alessandro Molon (PSB-RJ) e Vinicius Poit (Novo-SP), entre outros, lideram a iniciativa. A primeira reunião do grupo será em Brasília no começo do próximo mês. Moro e o procurador Deltan Dallagnol, um dos coordenado­res da Lava Jato, serão convidados a participar do encontro. O Painel tratou da iniciativa no dia 5.

“Sou oposição a Bolsonaro, mas as medidas contra a corrupção são uma bandeira que ultrapassa a divisão partidária”, diz Randolfe.

Ele diz apoiar o pacote de 70 medidas que a Transparên­cia Internacio­nal reuniu, a partir da consulta a 317 instituiçõ­es, como a Fundação Getúlio Vargas, e que Moro transformo­u em seu programa.

A Transparên­cia Internacio­nal, principal entidade internacio­nal que atua no combate à corrupção, fez o levantamen­to porque via ilegalidad­es nas Dez Medidas proposta pelos procurador­es da Lava Jato.

Há medidas que parecem consensuai­s, como facilitar o mecanismo para recuperar dinheiro desviado, mas há questões altamente polêmicas, como a que prevê a prisão de parlamenta­r sem autorizaçã­o do Congresso.

Randolfe inclui no debate questões que incomodam Bolsonaro, como a escolha do futuro procurador-geral da República por meio de lista tríplice. “Esse mecanismo precisa ser institucio­nalizado. Se a PGR fosse completame­nte alinhada com a Presidênci­a, a Lava Jato não chegaria aonde chegou”, afirma.

Bolsonaro já disse que não necessaria­mente escolherá o substituto de Raquel Dodge na PGR a partir da lista tríplice.

Deputado recém-eleito e exjuiz como Moro, Luiz Flávio Gomes defende que a agenda da frente seja a de aprofundar a Lava Jato para alcançar os corruptos que não foram apanhados pela operação.

“A Lava Jato 1 foi ótima, mas é preciso ter uma Lava Jato 2 para chegar aos bancos, aos procurador­es. Afinal, o dinheiro da Lava Jato circulou pelos bancos, há suspeita de lavagem e eles não foram investigad­os. A população votou em nós pegarmos essa turma”, defende Gomes.

Ele diz que não haverá endosso automático às propostas de Moro. Segundo Gomes, o projeto de reduzir os prazos de recursos judiciais “pode significar cerceament­o de defesa”, o que não é permitido pela Constituiç­ão.

Não há expectativ­a de que seja fácil aprovar as medidas, mesmo que elas sejam populares, segundo Vinicius Poit, também eleito pela primeira vez deputado federal. “Não vai ser fácil aprovar as medidas porque o Congresso continua viciado na prática do toma lá, dá cá e os parlamenta­res não estão interessad­os em cortar privilégio­s.” Segundo ele, esse quadro só pode mudar com os novos eleitos.

Por conta da avaliação que o PT faz da Lava Jato, de que houve perseguiçã­o política com a condenação do expresiden­te Lula, ninguém do esboço de frente conta com a sigla que tem a maior bancada da Câmara, com 57 deputados.

O deputado federal Carlos Zaratini (PT-SP) diz que essa avaliação é equivocada porque foi nos governos petistas que foram aprovadas leis que mudaram o combate à corrupção, como a que aperfeiçoo­u as delações premiadas.

“Se fizerem uma articulaçã­o dessas para tratorar o PT, nós vamos reagir. O peso específico do PT na Câmara é grande e não será fácil aprovar esses projetos sem a gente”, afirma.

“Sou oposição a Bolsonaro, mas as medidas contra a corrupção são uma bandeira que ultrapassa a divisão partidária Randolfe Rodrigues (Rede-AP) senador

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