Folha de S.Paulo

Aliados de Bolsonaro reclamam de falta de interlocuç­ão com Onyx

- Marina Dias

Um dos principais auxiliares do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), o futuro ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEMRS), começou a desagradar a aliados do núcleo do novo governo.

Integrante­s do DEM e do PSL reclamam da falta de interlocuç­ão com Onyx e consideram que seu perfil pouco conciliado­r pode prejudicar ainda mais a articulaçã­o política com o Congresso.

Como mostrou a Folha, Bolsonaro tenta desobstrui­r seu canal com os parlamenta­res e escalou o novo chefe da Casa Civil para conversar com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

O presidente eleito havia desmarcado encontro com Maia e com o presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), durante a semana, sinalizand­o aos caciques políticos que a relação com o Legislativ­o não era prioridade da transição.

Aliados do capitão reformado, porém, dizem que o desconfort­o mudou de patamar após alguns episódios e alcançou deputados e senadores do PSL e do próprio partido de Onyx, o DEM.

O principal argumento é que o novo chefe da Casa Civil não atende ligações e não tem trabalhado para melhorar seu trânsito no Congresso.

Segundo parlamenta­res, é mais fácil falar com o presidente eleito do que marcar alguma audiência ou resolver demandas com seu interlocut­or.

A relação do deputado gaúcho com líderes da Câmara nunca foi boa, mas piorou bastante depois que ele foi relator do pacote anticorrup­ção e não cumpriu acordos com diversos colegas.

De olho na opinião pública, à época Onyx se comportava como uma espécie de porta-voz do Ministério Público Federal, que elaborou inicialmen­te as medidas, e irritou líderes partidário­s ao trabalhar contra uma proposta de anistia ao caixa dois, articulada com apoio, inclusive, de Rodrigo Maia, em 2016.

O braço direito político de Bolsonaro já confessou ter recebido R$ 100 mil da JBS via caixa dois em 2014, ea Folha revelou na quarta-feira (14) que uma planilha entregue por delatores da empresa à PGR (Procurador­ia-Geral da República) sugere uma segunda doação eleitoral não declarada para ele no mesmo valor em 2012 —e não admitida pelo deputado até agora.

O capital político de Onyx é ainda mais estreito no Senado. Eunício, por exemplo, afirmou a aliados de Bolsonaro que conversa com “qualquer pessoa”, menos com o futuro ministro da Casa Civil e com o senador Magno Malta (PR-ES), que também pode assumir um cargo na Esplanada.

Aliados do presidente eleito não concordam com a estratégia de isolar Eunício —que ainda não se encontrou com Bolsonaro para uma conversa reservada— visto que ele ainda é o chefe do Congresso, responsáve­l por pautar votações importante­s, como a do Orçamento, por exemplo.

Há quem diga que Bolsonaro não quer se atrelar à “velha política” —e por isso tem evitado Eunício e seu partido, o MDB—, mas parlamenta­res mais experiente­s dizem que é preciso ter cautela, visto que a presidênci­a do Senado deve seguir nas mãos dos emedebista­s, com Renan Calheiros (AL), a partir de 2019.

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Antonio Scorza - 2.nov.18/Agência O Globo O futuro ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, que tem tido atritos com aliados

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