Folha de S.Paulo

OAB é uma entidade obsoleta e burocrátic­a, diz candidato

Antonio Ruiz Filho considera necessário cortar privilégio­s na entidade em SP

- Rogério Gentile

Candidato a presidente da OAB de São Paulo, o criminalis­ta Antonio Ruiz Filho considera que é necessário cortar privilégio­s na entidade.

Segundo ele, não faz sentido haver carro oficial para diretores nem celulares corporativ­os. “Com uma profunda reforma administra­tiva é possível reduzir a anuidade em 30%”, afirma sobre a taxa de cerca de R$ 1.000 que cada advogado precisa pagar por ano.

Ruiz Filho afirma também que a OAB-SP tornou-se obsoleta, lenta e burocrátic­a, perdendo seu protagonis­mo histórico perante a sociedade.

A eleição será no dia 29 de novembro e envolve 322,7 mil advogados.

Qual é sua avaliação sobre a OAB hoje?

A OAB é obsoleta, burocrátic­a, lenta e anacrônica. Costumo dizer que é analógica e precisa se tornar digital. Não conseguiu ainda ingressar no século 21. As práticas são as mesmas de quando comecei na profissão, nos anos 80.

O que deveria mudar?

A defesa das prerrogati­vas, por exemplo, deveria ser um foco institucio­nal da OAB para que o advogado possa atuar com liberdade, sem nenhum obstáculo. Hoje não é. Às vezes, no exercício regular da profissão, o advogado é envolvido em investigaç­ões e até em processos criminais de maneira injusta. Sem a retaguarda da ordem, fica muito vulnerável. Muitas vezes está enfrentand­o o poder estatal. É necessário que tenha uma retaguarda institucio­nal para fazer um equilíbrio de forças.

Na sua plataforma de campanha, o senhor diz que a OAB faz vistas grossas para as mazelas do Judiciário. Que mazelas são essas?

São muitas mazelas. A OAB tem de atuar para que o Judiciário permita a atuação regular do advogado. O advogado tem o sentimento de que é visto como um empecilho pelo poder Judiciário.

Em que tipo de situação?

Por exemplo, quando a Justiça não lhe dá acesso aos autos de um processo. Ou quando não lhe é permitido acompanhar uma diligência. Ou ainda quando não é recebido por um desembarga­dor para despachar, situação prevista na lei.

A OAB não tem feito essa defesa de modo adequado?

Não. É necessário uma atuação muito mais firme. A ordem sempre exerceu um protagonis­mo perante a sociedade civil. Sempre participou da história da evolução da democracia no país. De uns tempos para cá, em razão da fragilidad­e dos nossos dirigentes, esse protagonis­mo foi se perdendo. Como em política não há vácuo, esse espaço foi ocupado pelo Ministério Público e por parte da magistratu­ra, que está na origem de muitos problemas da atualidade.

Quais problemas?

A falta de cumpriment­o de algumas garantias fundamenta­is, por exemplo.

Ao longo da Operação Lava Jato muitos advogados reclamaram que o direito de defesa foi atropelado. O senhor pensa assim?

Tenho essa opinião. Todos queremos o combate à corrupção, mas esse combate precisa respeitar as garantias fundamenta­is dos investigad­os, o que não ocorreu em algumas situações, como no caso das conduções coercitiva­s.

Qual sua expectativ­a sobre a atuação de Sergio Moro no Ministério da Justiça?

Como juiz, ele decide. Como ministro, vai ter de convencer as pessoas para que as suas propostas sejam aceitas. Temos de esperar para ver se vai ser bem-sucedido. Mas sou crítico, por exemplo, em relação a alguns pontos. Como o Judiciário é lento, ele quer, por exemplo, aumentar os prazos prescricio­nais. O correto deveria ser o oposto. Fazer com que a Justiça fosse mais célere.

E em relação ao governador João Doria, que na campanha chegou a declarar que a polícia vai atirar para matar?

Essa questão é extremamen­te preocupant­e. Nossa polícia é uma das mais letais do mundo. É preciso que se faça o combate ao crime dentro dos parâmetros legais.

O senhor prometeu reduzir em 30% a anuidade da OAB. Como é possível fazer?

Hoje muitos advogados têm dificuldad­e para pagar a anuidade, que é de quase R$ 1.000. É possível fazer uma profunda reforma administra­tiva para enxugar a máquina. Há muita gordura. Privilégio­s podem ser cortados. Não faz sentido haver carro para diretor e celulares institucio­nais. Quem quer colaborar com a entidade precisa ter altruísmo, cedendo seu tempo e seus recursos para atuar em prol da advocacia. Historicam­ente, a OAB foi o coroamento de uma carreira profission­al bem-sucedida. Hoje há uma inversão de valores. Muitas pessoas procuram ascender na ordem para fortalecer a sua atividade profission­al.

 ?? Zanone Fraissat/Folhapress ?? Antonio Ruiz Filho, 56É candidato a presidente da Ordem dos Advogados do Brasil do Estado de São Paulo. Formado pela PUC-SP, é criminalis­ta. Foi presidente comissão de prerrogati­vas da OAB e presidente da Associação dos Advogados de São Paulo (AASP)
Zanone Fraissat/Folhapress Antonio Ruiz Filho, 56É candidato a presidente da Ordem dos Advogados do Brasil do Estado de São Paulo. Formado pela PUC-SP, é criminalis­ta. Foi presidente comissão de prerrogati­vas da OAB e presidente da Associação dos Advogados de São Paulo (AASP)

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil