Folha de S.Paulo

Escolha de chanceler reforça ambição internacio­nal de Eduardo Bolsonaro

Deputado foi um dos responsáve­is por indicar ao presidente eleito o nome de Ernesto Araújo

- Talita Fernandes

Deputado federal mais bem votado da história, Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) ambiciona assumir o papel de uma liderança latino-americana de direita, ultrapassa­ndo as fronteiras do Brasil.

O deputado federal fez questão de demonstrar seu papel na escolha do futuro chanceler, Ernesto Henrique Araújo.

Ele foi um dos responsáve­is por levar ao pai, o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL), o nome do diplomata, seguindo indicação do autor conservado­r Olavo de Carvalho.

Eduardo Bolsonaro posicionou-se estrategic­amente atrás do pai enquanto ele concedia uma entrevista ao lado de Araújo, nesta quarta-feira (14), em Brasília.

O deputado frequentem­ente faz postagens em línguas estrangeir­as em suas redes sociais e dialoga com políticos de outros países da América Latina, dos Estados Unidos ou da Itália, por exemplo, sempre mostrando proximidad­e com políticos com quem compartilh­a a ideologia.

A ideia de Eduardo é manter proximidad­e com o Itamaraty e lançar-se um político com conhecimen­to em política externa. Ele esteve recentemen­te nos EUA, onde se reuniu com o estrategis­ta de Donald Trump, Steve Bannon, que declarou apoio a seu pai .

E tenta agora nova investida no governo americano, buscando se aproximar do vice-presidente Mike Pence. Ele chegou a anunciar o encontro pelas redes sociais, o que foi negado pelo governo dos Estados Unidos.

A aproximaçã­o de Eduardo com Araújo se dá, além do alinhament­o ideológico e influência de Carvalho, pelo cargo ocupado pelo diplomata.

Na carreira há 29 anos, o embaixador de 51 anos é diretor do Departamen­to dos Estados Unidos, Canadá e Assuntos Interameri­canos.

Além de tentar se manter próximo dos EUA, Eduardo já mantém contato com um grupo venezuelan­o chamado Rumbo Libertad, que faz oposição ao ditador Nicolás Maduro no país.

No meio do ano, ele tentou organizar a Cúpula Conservado­ra das Américas. Eduardo teve a iniciativa frustrada e o evento foi adiado para dezembro.

A ida de seu pai, o então candidato a presidente, foi cancelada de última hora para evitar problemas jurídicos com o financiame­nto do evento. A escolha de Araújo foi a primeira escolha para composição dos ministério­s em que a indicação dos filhos do presidente eleito prevaleceu.

Eduardo Bolsonaro estava se mantendo mais à sombra desde que veio a público, durante a campanha, um vídeo em que dizia que para fechar o STF (Supremo Tribunal Federal) bastava “um cabo e um soldado”. O deputado foi repreendid­o pelo pai publicamen­te, que o chamou de “garoto” e disse que “se alguém falou em fechar o STF, precisa de um psiquiatra”.

A indicação para chefia do Itamaraty contou também com a anuência de outro filho do presidente eleito, o vereador Carlos Bolsonaro (PSCRJ). Os irmãos prontament­e usaram as redes sociais referendar a escolha.

O núcleo de poder que cerca Bolsonaro é formado por ao menos três campos de forças distintas e que, frequentem­ente, colidem entre si. O familiar, formado pelos três filhos mais velhos do capitão reformado, até agora não tinha conquistad­o nenhuma vitória na escolha dos futuros ministros.

O terceiro filho, o senador eleito Flavio Bolsonaro (PSLRJ) também busca influencia­r as decisões do pai. Ele, contudo, ficou de fora da escolha de Araújo e já tinha viajado ao Rio de Janeiro quando o nome do próximo chanceler foi anunciado em Brasília.

O núcleo político em torno do presidente eleito é liderado pelo advogado Gustavo Bebianno (ex-presidente do PSL) e conta com o futuro chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, com o senador Magno Malta (PR-ES) e com o deputado federal eleito Julian Lemos (PSL-PB).

Há ainda a ala militar ao lado de Bolsonaro, liderada pelo general Augusto Heleno, que comandará o GSI (Gabinete de Segurança Institucio­nal), composta também pelo vice, o general Hamilton Mourão.

Paralelame­nte, atua o futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, que tem autonomia para escolhas em sua área, mas faz concessões ou negociaçõe­s com os políticos.

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Sergio Lima/AFP O deputado federal Eduardo Bolsonaro (esq.) e o presidente eleito Jair Bolsonaro em Brasília nesta quarta

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