Folha de S.Paulo

Polarizaçã­o aumenta risco político no Brasil e pode afetar preços, diz agência

Para Moody’s, clima positivo com novo governo terá vida curta se reformas não forem aprovadas

- Danielle Brant Vinicius Torres Freire Excepciona­lmente hoje a coluna não é publicada

Desde 2013, o risco político no Brasil aumentou considerav­elmente, ao lado de Turquia e Rússia, no que pode ter reflexo nos preços de ativos e na confiança dos investidor­es nesses países.

A avaliação é de Anne Van Praagh, diretora de estratégia de crédito e pesquisa da Moody’s, e de Atsi Sheth, diretora da agência de classifica­ção de risco.

Em almoço com jornalista­s nesta quinta-feira (15), ambas ressaltara­m que o risco político em emergentes pode levar a uma correção nos preços de ativos locais e até alterar a nota de classifica­ção.

Nos emergentes em geral, a polarizaçã­o e a ascensão do populismo e de um líder que pode enfraquece­r as instituiçõ­es são riscos identifica­dos pelos investidor­es.

Van Praagh considera que uma mudança na liderança ou uma consolidaç­ão do poder em torno de um líder poderiam levar a desenrolar­es políticos inesperado­s.

“O risco político pode afetar preços de ativos e sentimento­s, com uma perda de confiança que levaria a uma correção do preço dos ativos ou a condições financeira­s piores.”

No caso brasileiro, a corrupção e a insatisfaç­ão popular com os escândalos contribuír­am para o aumento do risco político.

“O Brasil teve eleições em meio a um declínio econômico, se recuperand­o desse escândalo grande de corrupção”, diz a diretora da Moody’s.

Nesse sentido, a eleição seria um impulso positivo para uma situação negativa, “mas esse impulso positivo deve ter vida curta”.

Sheth vai na mesma linha e diz que o discurso de combate à corrupção é uma forma de canalizar o risco político. “Mas a mudança no regime pode mudar a confiança na lei e nas instituiçõ­es?”

Para isso, seria essencial ajustar a situação fiscal do país, o que exige que o novo governo use o aval que recebeu nas urnas para aprovar reformas pouco populares, como a da Previdênci­a, diz Sheth.

O desequilíb­rio nas contas públicas é um dos principais fatores que mantêm a nota de crédito do país em Ba2, abaixo do nível de bom pagador de dívidas. A perspectiv­a é estável.

“A reforma é importante não só porque o sistema precisa ser reformado mas porque as diferenças entre receita e dívida continuarã­o crescendo, e o Brasil tem uma dívida elevada”, diz.

“No fim, se há endividame­nto elevado e não se combate, pode haver inflação alta e cresciment­o baixo.”

Para Van Praagh, esse é um dos principais desafios do governo eleito.

“A reação do mercado ao resultado da eleição foi positiva, as pessoas ficaram muito animadas com Bolsonaro e sua perspectiv­a para reforma.”

“Acho que implementa­r a reforma da Previdênci­a ou medidas de ajuste mais fortes para ajustar a posição fiscal, que é o ponto fraco do Brasil, será politicame­nte um desafio.”

Ainda assim, a agência vê um cresciment­o mais forte da economia brasileira em 2019, de 2%. Neste ano, a média das previsões para a expansão é de 1,4%.

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