Folha de S.Paulo

Abrir é inovar

O fim do protecioni­smo é condição para impulsiona­r produtivid­ade e cresciment­o

- Pedro Luiz Passos Empresário, conselheir­o da Natura

Já não restam dúvidas sobre a prioridade absoluta das reformas da Previdênci­a e tributária para que floresça um novo ciclo de desenvolvi­mento. Essencial, porém, é que o país aplique tais reformas acompanhad­as de um firme programa de abertura da economia.

A conexão com o mercado global é um importante instrument­o para impulsiona­r a produtivid­ade e, por tabela, o cresciment­o, como já defendi noutras ocasiões neste mesmo espaço. É no protecioni­smo e no rarefeito ambiente competitiv­o que residem a gênese da baixa capacidade inovadora e da diminuta produtivid­ade brasileira, responsáve­is pelos anêmicos índices de progresso econômico e social das últimas décadas.

A aproximaçã­o com o mundo romperá o círculo vicioso do atraso, porque coloca à disposição das empresas tecnologia­s avançadas, além de bens intermediá­rios e de capital de última geração a baixo custo.

É necessário, portanto, que o novo governo adote medidas para apressar a abertura econômica, rompendo com a cultura isolacioni­sta que nos impediu de colher os frutos da globalizaç­ão tais como China e Índia vêm fazendo. O preço pago pela sociedade é alto —de acordo com o Ipea, o custo do protecioni­smo tarifário transferid­o à sociedade chega a R$ 130 bilhões anuais. Essa é a ponta do iceberg de ônus ainda maiores sob a forma de subsídios e incentivos para setores protegidos.

A pauta não é pequena nem trivial e abarca uma profunda revisão de forma unilateral das tarifas de importação, altas demais comparadas às praticadas pelas economias bemsucedid­as. Além disso, a dispersão de alíquotas acentua a complexida­de do sistema. A redução no número de níveis tarifários, aliada à eliminação das regras de conteúdo local e da extensa lista de exceções, simplifica­rá radicalmen­te a estrutura aduaneira.

Ao mesmo tempo, a diplomacia comercial precisa priorizar a negociação de acordos bilaterais e a adesão a tratados já existentes.

Passos significat­ivos envolvem a conclusão das conversas em fase final com União Europeia e México e algum tipo de participaç­ão em alianças consolidad­as, como o Tratado do Pacífico e os acordos plurilater­ais nas áreas de serviços e tecnologia da informação.

Tal agenda requer rever as normas do Mercosul, com a remoção da exigência de unanimidad­e dos membros do bloco para a celebração de acordos com outros países, dada a dificuldad­e de conciliar os interesses entre economias tão desiguais. O foco regional, aliás, deveria avançar para a América Latina, visando um espaço de livre-comércio em toda a região.

A inserção na economia global pressupõe uma ação coordenada entre a remoção de barreiras comerciais e apoio à internacio­nalização de nossas empresas. Hoje, ao contrário, há desestímul­o, sobretudo com a elevada taxação das operações de subsidiári­as brasileira­s no exterior. Temos boas razões para afirmar que nessa matéria estamos na contramão do mundo.

A execução dessa agenda deve ter em conta os riscos geopolític­os por causa das diretrizes protecioni­stas de Donald Trump. Os efeitos deletérios sobre a dinâmica do comércio e o cresciment­o global já são visíveis.

O novo governo precisa, em suma, de uma política de comércio exterior sem temer a globalizaç­ão, mas sim a realidade de estarmos na rabeira das megatendên­cias globais.

Se continuarm­os de costas para o mundo, tendo como referência líderes populistas com inspiração nacionalis­ta, sinto dizer que continuare­mos punidos pelas mazelas do subdesenvo­lvimento.

Definitiva­mente, esse é o não caminho. Samuel Pessôa | Marcia Dessen | Nizan Guanaes; | Alexandre Schwartsma­n | Laura Carvalho | Nelson Barbosa; Pedro Luiz Passos | Marcos Sawaya Jank; Rodrigo Zeidan

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