Folha de S.Paulo

Maia pediu promoção de aliada a intervento­r

Presidente da Câmara diz que não houve intenção de interferir; gabinete de intervençã­o no RJ não atendeu pedido

- Italo Nogueira

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), tentou a promoção de uma aliada política junto ao intervento­r federal na segurança pública do Rio de Janeiro, general Walter Braga Netto.

Maia enviou um ofício pedindo “especial atenção” para a promoção da capitã bombeiro Ivete Pillo Gonçalves. Ela é casada com um ex-correligio­nário do deputado, foi candidata a vice-prefeita de Itaperuna em 2012, numa chapa encabeçada pelo DEM, e atualmente é subsecretá­ria de Saúde do município.

A reportagem apurou que o pedido foi visto por militares do Gabinete de Intervençã­o Federal como um exemplo da tentativa de interferên­cia política sofrida pela segurança pública no estado ao longo dos últimos anos. A militar não foi promovida.

O fim dessa interferên­cia no setor é um dos objetivos declarados do plano estratégic­o da intervençã­o. Foi apontado também como prioridade pelo ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, em março, em reunião com deputados federais fluminense­s.

A Folha obteve, por meio da Lei de Acesso à Informação, todos os 23 ofícios enviados por parlamenta­res ao intervento­r. O documento de Maia é o único em que se faz pedido sobre um militar específico.

O ofício foi enviado por email por uma servidora do Observatór­io Legislativ­o da intervençã­o, instalado na Câmara para fazer o controle social da operação. No documento assinado em 7 de agosto, Maia solicita ao intervento­r “especial atenção de Vossa Excelência no sentido de que seja considerad­a a possibilid­ade, após verificado se cumpridos os critérios exigidos, de promoção por mereciment­o da capitã”.

O marido de Pillo Gonçalves, o coronel bombeiro da reserva Marcos Pillo Gonçalves, foi filiado ao DEM de Itaperuna até 2015. Ele doou R$ 10 mil para a campanha de Maia em 2014.

A promoção de oficiais por mereciment­o é analisada por uma comissão, que avalia a carreira do militar, bem como a recomendaç­ão de comandante­s diretos anteriores. Segundo o Gabinete de Intervençã­o, a militar não atendia “os critérios previstos”.

“Todos os ofícios com solicitaçõ­es de interferên­cia em processos internos dos órgãos de segurança pública e secretaria­s intervenci­onadas são sumariamen­te arquivados”, afirmou o gabinete em nota.

O coronel da reserva Ubiratan Ângelo, ex-comandante da Polícia Militar, considerou antiético o teor do documento enviado por Maia. Ele comentou o caso sem saber quem era o autor da solicitaçã­o.

“Não consta das normas legais que o pedido de um parlamenta­r tenha peso na promoção de alguém”, afirmou ele.

Ângelo, que esteve por um ano à frente da PM-RJ, diz que ouviu pedidos semelhante­s na sua gestão, mas que ignorava as solicitaçõ­es e que nunca so- freu pressão do governo para atender às abordagens.

A deputada Martha Rocha (PDT), ex-chefe da Polícia Civil, afirmou que “não é papel do deputado intervir em qualquer gestão”. Ela também comentou sem saber a origem do pedido.

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Carl de Souza-11.set.18/AFP Soldados fazem operação contra roubo de carga no Rio de Janeiro

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