Folha de S.Paulo

Professora universitá­ria, transexual lutou pela igualdade

LEILANE ASSUNÇÃO (1981-2018)

- Ricardo Hiar

Todos os anos a professora Leilane Assunção promovia em sua casa o que chamava de “Natal dos sem Natal”. Ela reunia muitas pessoas para festejar, principalm­ente membros da comunidade LGBT que passariam a data sozinhos por problemas com preconceit­os familiares.

“Ela amava receber visitas, e se esforçava para ser uma boa anfitriã”, lembra a amiga Soraya, que sempre era recebida com um chá de ervas colhidas frescas da horta. A atenção de Leilane só era dividida com seus 20 gatos, que ela tinha como sua família.

Mulher transexual, a educadora sabia o que era uma vida marcada por preconceit­os. No entanto, buscou trilhar um caminho diferente, pautado na educação e na luta pelo respeito.

Formada em história com mestrado e doutorado, fazia questão de compartilh­ar conhecimen­tos e experiênci­as para tentar amenizar o fardo de outras pessoas. “Ela deixava de pensar nela mesma para ajudar os outros. Lutava pelo respeito sobre a diversidad­e de gênero, contra o racismo ou qualquer tipo de preconceit­o”, diz o amigo Kleyton.

Até ingressar na graduação na UFRN, era chamada de Leandro. Primeiro passou a se aceitar como homossexua­l, mas sentia que faltava algo, até entender que era uma mulher num corpo masculino.

O próximo passo foi o processo de transição. Batalhou para ser chamada pelo nome social e para ter o direito de usar o banheiro feminino.

“Ela trilhou um caminho diferente, mas como ela própria reconhecia, não menos difícil do que outras pessoas trans que acabam nas ruas, ou na prostituiç­ão”, diz Kleyton.

Em 2018, ela chegou a comentar com os amigos que estava feliz por conseguir superar a expectativ­a média de vida das pessoas trans, que é de 36 anos, mas encerrou a jornada de lutas aos 37, no dia 14 de outubro. Leilane deixa a mãe e cinco irmãs.

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