Folha de S.Paulo

Regra do Código Florestal pode elevar o desmatamen­to na região amazônica

- Elton Alisson Agência Fapesp

Até 15 milhões de hectares de floresta tropical na Amazônia correm o risco de perder sua proteção e serem desmatados em razão de um artigo no novo Código Florestal brasileiro.

O alerta foi feito por pesquisado­res da Escola de Agricultur­a Luiz de Queiroz da Universida­de de São Paulo (EsalqUSP), da KTH Royal Institute of Technology e da Chalmers University of Technology, da Suécia, em artigo publicado na revista Nature Sustainabi­lity. O estudo é resultado de um projeto apoiado pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).

“A eventual perda dessas áreas para atividades agrícolas pode anular os esforços para regulariza­ção de reservas legais no Brasil e resultar em enorme perda de biodiversi­dade, no comprometi­mento de serviços ambientais valiosos para a sociedade e no aumento de emissões de gasesestuf­a”, diz Gerd Sparovek, professor da Esalq-USP e um dos autores do estudo.

O pesquisado­r explica que o antigo Código Florestal brasileiro, vigente até 2012, estabeleci­a que os proprietár­ios de terras privadas, situadas nos estados localizado­s na região amazônica, podiam utilizar até 20% delas, reservando os 80% restantes como reservas legais para a preservaçã­o da natureza.

O novo Código Florestal, revisado em 2012, ganhou artigo que permite aos estados amazônicos reduzirem esse requisito de 80% para 50% se mais de 65% de seus território­s estiverem protegidos por unidades de conservaçã­o ou terras indígenas.

Se esse artigo for implementa­do, de 7 a 15 milhões de hectares de área de floresta ficariam desprotegi­dos e sujeitos ao desmatamen­to legal. Isso porque outros estados da região, como Amazonas, Roraima e Acre, têm cerca de 80 milhões de hectares de terras públicas ainda não designadas.

A eventual destinação dessas áreas públicas para unidades de conservaçã­o ou terras indígenas também pode permitir a esses estados reduzir a proteção de propriedad­es privadas. Com isso, seriam abertas grandes áreas para o desmatamen­to legal e para expansão agrícola, apontam os pesquisado­res.

“A remoção da proteção legal não significa automatica­mente que essas florestas serão desmatadas. Mas é importante prestar atenção no contexto político atual, que sugere um enfraqueci­mento dos mecanismos de prevenção do desmatamen­to”, diz Flávio Luiz Mazzaro de Freitas, doutorando no KTH Royal Institute of Technology e primeiro autor do estudo.

O estudo avaliou os possíveis impactos da redução da exigência de reserva legal de 80% para 50% na proteção de áreas de florestas em terras públicas e privadas na Amazônia por meio de uma base georrefere­nciada da malha fundiária brasileira.

Os pesquisado­res sugerem que medidas legais adotadas no contexto do Programa de Regulariza­ção Ambiental podem ajudar a reduzir o risco de desmatamen­to extensivo.

“Esperamos que as constataçõ­es do estudo tragam mais clareza sobre a possibilid­ade de aumento de desmatamen­to legal na Amazônia e contribuam para a elaboração de ações e estratégia­s públicas e privadas que visem mitigar possíveis danos ambientais e sociais desse processo”, diz Freitas.

“Os 15 milhões de hectares que podem ficar desprotegi­dos por essa regra no novo Código Florestal equivalem a, aproximada­mente e em número, todo o déficit de reserva legal que precisa ser compensado ou restaurado no Brasil e está coberta principalm­ente por floresta tropical Gerd Sparovek Professor da Esalq-USP

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