Folha de S.Paulo

O governo Bolsonaro vai dar certo?

- Hélio Schwartsma­n helio@uol.com.br

são paulo Não temos, é óbvio, uma resposta definitiva à pergunta do título, mas isso não nos impede de especular um pouco.

Cenários distópicos, que incluiriam a volta da ditadura, não podem ser descartado­s, mas também não me parecem uma aposta razoável. Até prova em contrário, Bolsonaro governará pelo Livrinho e submetido a controles institucio­nais.

Há potencial para o que progressis­tas chamaríamo­s de retrocesso­s em várias áreas. Destacaria o meio ambiente, a segurança pública e pautas da agenda cultural. Mas democracia tem dessas coisas. Desde que direitos e garantias fundamenta­is não sejam desrespeit­ados, perder faz parte do jogo.

A área mais crítica é a economia. Bolsonaro até que assume sob condições favoráveis. Os ventos internacio­nais sopram a favor, e o presidente eleito, embora não tenha detalhado suas propostas na campanha, tem mandato para implementa­r reformas necessária­s. O tal de mercado parece confiar nas credenciai­s liberais de Paulo Guedes, ainda que ele possa ser descrito como uma personalid­ade difícil, que pode se desentende­r com qualquer um a qualquer momento.

Se o próximo governo conseguir avançar nessa seara, em especial se lograr modificar o sistema previdenci­ário, poderemos ver alguma retomada dos investimen­tos, maior folga orçamentár­ia e a entrada do país num ciclo econômico positivo.

O problema é o “se conseguir”. Aprovar emendas constituci­onais impopulare­s não é trivial. Exige grande capacidade de convencime­nto e negociação e não sei se Bolsonaro as tem. É possível que a tarefa esteja acima de seu nível de competênci­a. É verdade que ele venceu um pleito disputado, mas seu histórico mais amplo não é muito promissor. No Exército, nunca passou de capitão; na Câmara, nunca se mostrou mais do que um típico representa­nte do baixo clero. Às vezes é o cargo que eleva a pessoa. Vamos torcer para que seja o caso.

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