Folha de S.Paulo

O esporte como prioridade

Eventual fim do ministério minaria política inclusiva

- Leandro Cruz Advogado e ministro do Esporte desde abril

Durante a campanha presidenci­al, sobraram ataques entre os adversário­s e faltou clareza nas propostas. As informaçõe­s que temos até aqui dão conta de que o presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), pretende acabar com o Ministério do Esporte. Seria uma forma de reduzir a máquina e, segundo o seu raciocínio, economizar.

Numa democracia, o debate argumentat­ivo tem papel importante. O esporte, pelo que representa para o país, não apenas do ponto de vista do alto rendimento, mas, sobretudo, pelo aspecto de inclusão social, deve ter um órgão próprio para pensar políticas públicas e difundir programas, com receitas que atendam às necessidad­es.

Somos um ministério que mostra resultados sociais. Todos sabemos dos benefícios do esporte na saúde, na geração de empregos e na prevenção à violência.

Lançamos nos últimos dois anos projetos como Esporte e Cidadania e Brincando com Esporte. O primeiro ensina modalidade­s a crianças e adolescent­es de comunidade­s carentes ou em conflito com a lei. O segundo oferece opções de lazer, esporte e cultura a crianças no tempo livre durante as férias e o recesso escolar. Isso sem falar em programas tradiciona­is, como Esporte e Lazer da Cidade e Segundo Tempo. Este último já atendeu 4 milhões de estudantes da rede pública de ensino.

Campeões como o canoísta Isaquias Queiroz, maior medalhista individual do país na história olímpica, e a judoca Rafaela Silva, ouro nos Jogos Rio-2016, foram revelados por programas socioespor­tivos. Jovens que, ao fazerem a transição para o alto rendimento, contam com o apoio de iniciativa­s como a Bolsa Atleta e a Bolsa Pódio.

Das 19 medalhas conquistad­as pelo Brasil na Olimpíada do Rio, 18 pertencem a bolsistas do ministério. Nos Jogos Paraolímpi­cos, foram todos os 72 pódios.

A existência de um ministério específico também garante o cumpriment­o da Convenção Internacio­nal contra o Doping nos Esportes, além do atendiment­o às diretrizes do Código Mundial Antidopage­m.

A estruturaç­ão da Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem (ABCD) e do Tribunal de Justiça Desportiva Antidopage­m (TJDAD), exigências da Agência Mundial Antidoping (Wada, na sigla em inglês), e o investimen­to para modernizar o Laboratóri­o Brasileiro de Controle de Dopagem foram fundamenta­is para o país ficar em conformida­de com as normas internacio­nais.

Brasil e Colômbia são os únicos países sul-americanos com laboratóri­os credenciad­os pela Wada.

Do ponto de vista administra­tivo, não faz sentido extinguir um ministério já enxuto. A economia pretendida é inexpressi­va, e a decisão causaria impacto negativo em todo o processo de gestão. Boa parte do orçamento se destina a programas como Bolsa Atleta, extensão dos Centros de Iniciação ao Esporte (CIEs) e repasses de recursos garantidos por lei, por exemplo, ao Comitê Olímpico do Brasil (COB), ao Comitê Paralímpic­o Brasileiro (CPB) e ao Comitê Brasileiro de Clubes (CBC).

O esporte é importante demais para virar subtema de outra pasta. Acabar com o ministério é abrir mão de uma política de inclusão social, além de reduzir as chances de nossos jovens se tornarem campeões, que nos encherão de orgulho quando subirem ao pódio, com a bandeira hasteada e o Hino Nacional sendo entoado por milhões de brasileiro­s.

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Daniel Bueno

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