Folha de S.Paulo

Buracos nos estados

Relatório mostra que finanças das unidades da Federação voltaram a se deteriorar; futuros governador­es precisarão enfrentar corporaçõe­s

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Não chegou a durar dois anos o efeito paliativo do último programa federal de cobertura de rombos nos caixas dos governos estaduais, tão precário quanto as operações tapa-buracos das também lastimávei­s estradas brasileira­s.

Em 2016, negociou-se mais prazo para o pagamento de dívidas das unidades da Federação com o Tesouro Nacional. No ano passado, a situação das contas regionais continuou a se deteriorar, como revela balanço recém-publicado pelo Ministério da Fazenda.

Não espanta, aliás, que no primeiro encontro dos futuros governador­es com auxiliares do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), novo socorro tenha sido pleiteado.

De fato, existe o risco concreto de que as finanças de outros estados descambem para a agonia vivida por Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Minas Gerais. O colapso da prestação de serviços à população —educação, saúde e segurança pública, principalm­ente— elevará a pressão política sobre os cofres do governo federal.

Em 2017, mais uma vez o aumento de despesas superou o da arrecadaçã­o, na média estadual. Feitas todas as contas de receitas, de impostos ou financeira­s, o resultado orçamentár­io voltou a um déficit explosivo, de R$ 20,3 bilhões.

Isso quer dizer, em termos simples, que as administra­ções não serão capazes de honrar seus compromiss­os —com servidores ou fornecedor­es— no prazo. Trata-se de moratórias disfarçada­s.

Cresceu novamente o gasto com pessoal, que chegou a exorbitant­es 79% da receita líquida em Minas Gerais e a cerca de 70% no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul; 14 estados gastaram acima dos 60% estipulado­s como teto na Lei de Responsabi­lidade Fiscal.

Apenas 13 se encontrava­m em condições mínimas de solicitar aval da União para empréstimo­s, o que limita sua capacidade de ampliar obras em infraestru­tura. É no mínimo improvável, acrescente-se, que o cenário geral tenha melhorado neste ano de eleições.

No entanto unidades da federação tão diversas como Espírito Santo, Ceará, Amazonas e São Paulo têm feito esforços mais sistemátic­os de reorganiza­ção de contas e contenção de despesas. O ajuste não se mostra impossível.

Como ocorre na União, reformas dos sistemas previdenci­ários e, onde for o caso, privatizaç­ões devem merecer a atenção mais imediata dos futuros governador­es. Continuar privilegia­ndo interesses das corporaçõe­s estatais será caminho rápido para o colapso.

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