Folha de S.Paulo

Por que temos filhos?

- Hélio Schwartsma­n helio@uol.com.br

A pergunta do título comporta vários níveis de resposta. No plano biológico, a reprodução é um imperativo, fazendo parte de várias das definições de vida. Mas a biologia é só parte da história. A paternidad­e também encerra dimensões culturais, econômicas e emocionais.

Inspirado em “Anti-Pluralism”, de William Galston (agradeço ao colega JP Coutinho pela boa dica), arrisco algumas reflexões sobre a matéria. Até o começo do século 19, filhos eram um ativo econômico. Ajudavam desde cedo com o trabalho doméstico, colaborand­o para o bemestar da família, e ainda faziam as vezes de plano de aposentado­ria para os pais.

Hoje, contudo, crianças ficaram caras. E, para piorar, elas demoram muito até começar a trazer contribuiç­ões econômicas. Como observa Galston —e isso foi, para mim, um verdadeiro insight—, no espaço de dois séculos, a criação de filhos deixou ser um bem privado para tornarse um bem público.

Embora a paternidad­e possa trazer recompensa­s emocionais, do ponto de vista estritamen­te econômico, ela favorece a sociedade como um todo, enquanto a maior parte dos custos recai sobre os genitores.

E por que crianças beneficiam a sociedade? A crer na análise de economista­s como Julian Simon, riqueza são pessoas. Quanto mais gente, melhor, já que são indivíduos que têm ideias (além de consumir produtos) e são as novas ideias que vêm assegurand­o o brutal aumento de produtivid­ade a que assistimos nos últimos 200 anos.

E isso nos coloca diante de um dos grandes dilemas dos tempos modernos. Para assegurar a sustentabi­lidade da exploração dos recursos naturais do planeta, precisaría­mos estabiliza­r ou até reduzir a população. Só que fazê-lo é uma espécie de suicídio econômico, já que ficaria muito difícil manter taxas positivas de cresciment­o, sem as quais instituiçõ­es como previdênci­a e até democracia representa­tiva podem entrar em colapso.

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Jean Galvão

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