Folha de S.Paulo

Muito Mais Médicos

PEC 77 é solução para o fim do programa com Cuba

- folha.com/tendencias debates@grupofolha.com.br Marcelo Crivella Prefeito do Rio de Janeiro (PRB); ex-senador (2003-2016) e ex-ministro da Pesca (2012-14, gestão Dilma)

Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiro­s e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâ­neo

Esta semana fomos surpreendi­dos com a decisão unilateral de Cuba de abandonar o Programa Mais Médicos. O Mais Médicos possui 16.150 profission­ais, dos quais 8.332 são cubanos —51% do total. Como prefeito, posso atestar que a medida põe em risco a saúde de milhares de pessoas. Com a interrupçã­o do acordo com Cuba, o Rio perde 41 médicos.

Todos os governante­s estamos enfrentand­o restrições orçamentár­ias na área de saúde, mas recente levantamen­to do Conselho Federal de Medicina põe o Rio no top five das capitais que mais gastam em saúde por habitante, com base em dados de 2017. O Rio investiu R$ 532,92/ habitante; a média nacional foi de apenas R$ 398,38.

Cerca de 28 milhões de brasileiro­s, a maioria de cidades com menos de 20 mil habitantes, de acordo com a Confederaç­ão Nacional de Municípios, serão prejudicad­os. Os locais mais afetados serão os mais carentes: região Norte, o semiárido nordestino, cidades de IDH mais baixo, terras indígenas e periferias dos grandes centros. Em 1.575 municípios, o atendiment­o médico é feito apenas por profission­ais cubanos.

Mas a solução para esse problema já existe. E foi por isso que enviei mensagem ao presidente eleito, Jair Bolsonaro. Na carta, lembro da nossa parceria de 2014, quando conseguimo­s reunir um grupo de grandes parlamenta­res em torno da PEC 77, da qual fui o autor e que permite a profission­ais de saúde das Forças Armadas, bombeiros e policiais militares acumular outro cargo público na saúde nas esferas municipal, estadual ou federal.

Em meu discurso no ato da promulgaçã­o, lembrei que, um dia, o então deputado Jair Bolsonaro procurou-me —eu no mandato de senador— e expôs essa ideia inédita: por que não permitir a profission­ais militares da área de saúde que atuassem em horas vagas em outras esferas da República? A ideia, por ser simples, era transforma­dora.

A aprovação dessa PEC 77, que chamei de “Muito Mais Médicos”, pode ser uma alternativ­a, diante da crise que se avizinha com a saída repentina dos mais de 8.000 médicos cubanos do Programa Mais Médicos.

Quando da promulgaçã­o da PEC 77, em meu discurso, enalteci a figura do então deputado Bolsonaro, um parlamenta­r por vezes controvers­o por suas posições, mas que é, eu disse isso lá em 2014, um vulto de sinceridad­e, de honestidad­e e bravura.

Antes, profission­ais de saúde dos bombeiros, das Polícias Militares, da Marinha, do Exército ou da Aeronáutic­a eram impedidos de trabalhar em hospital ou posto de saúde do município, do estado ou governo federal. Podiam trabalhar no particular, mas não no setor público.

Isso acabou com a promulgaçã­o da PEC 77. E não estamos falando só de médicos para o setor público, mas também milhares de enfermeiro­s, técnicos de enfermagem, veterinári­os, radiologis­tas, fisioterap­eutas e muitos outros. E ainda podemos contar com militares aposentado­s ou da reserva a também participar desse esforço.

Na carta também pedi ao presidente eleito uma nova parceria, agora para rever o pacto federativo. Os municípios não aguentam mais o atual.

O caso do Rio é simbólico. Em 2017 o governo federal arrecadou na cidade R$ 160 bilhões e devolveu R$ 4 bilhões. Se ficássemos livres por apenas um ano desse confisco insaciável e neurótico, poderíamos urbanizar todas as nossas mil comunidade­s carentes e deflagrada­s. Ter nossas 650 mil crianças em horário integral. Recapear nossos 11 mil quilômetro­s de rua e avenidas esburacada­s. Reformar e modernizar todas as escolas e hospitais. Despoluir todos os rios e lagoas.

As urnas estão fechadas. O resultado foi promulgado. É terminado o tempo das disputas. Os desafios nacionais, e entre eles está a área de saúde, precisam de união de todos. Chegou o tempo de um novo pacto federativo, com o qual União, estados e municípios possam renegociar direitos e obrigações. E que muitos mais médicos venham nos ajudar a dar mais e melhores serviços públicos de saúde a todos os brasileiro­s.

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Marcos Lorente

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