Folha de S.Paulo

Partidos derrotados buscam reinvenção após eleição polarizada

Siglas como PSDB, MDB e PPS discutem como manter relevância e competitiv­idade eleitoral sem se ligar a bolsonaris­mo ou petismo

- Joelmir Tavares

Que caminho seguirá o espectro que vai da centro-direita à centro-esquerda depois que Jair Bolsonaro (PSL) derrotou Fernando Haddad (PT) e as urnas escancarar­am a rejeição do eleitor a partidos que fazem um discurso de moderação?

Nem os próprios partidos que ocupam o largo canal entre os candidatos do segundo turno sabem bem para onde vão. Mas o cenário pós-eleições, com o avanço da direita no plano federal, nos governos estaduais e no Legislativ­o, indica a necessidad­e de uma reinvenção para ontem, na opinião de lideranças políticas.

Siglas como PSDB, MDB, PPS, PSB e Rede se debruçam sobre as causas do fracasso e discutem como se manter relevantes e qual papel exercer em relação ao novo governo.

“Há mais de um ano eu defendo que o PSDB faça uma reformulaç­ão, uma autocrític­a”, diz o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE). Ex-presidente nacional do partido, ele disse em setembro que a legenda cometeu “erros memoráveis”. Um deles: entrar no governo Michel Temer (MDB).

O futuro dos tucanos está diretament­e ligado à ascensão de João Doria. Aliado de Bolsonaro, o governador eleito de São Paulo se movimenta para empurrar a legenda rumo à direita. Fala também em tirar da sigla a pecha de que fica no muro e não toma posição.

Partidos derrotados na eleição também discutem se unir para enfrentar os novos tempos. No entanto, ao longo da campanha, iniciativa­s nesse sentido falharam. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) tentou articular um bloco para aglutinar candidatur­as e fazer frente a bolsonaris­mo e petismo. Como se sabe, não obteve sucesso.

“Acho que pode vir uma coesão do centro, mas vai depender de como será o relacionam­ento político e quais serão as primeiras atitudes de Bolsonaro. Se vai entrar radicaliza­ndo, se vai moderar”, diz Tasso.

A expressão “oposição democrátic­a” tem sido usada à exaustão por caciques partidário­s para descrever a relação com o futuro governo. A ordem é agir com responsabi­lidade, sem fazer um contrapont­o sistemátic­o ao Planalto.

Blocos nessa linha estão se desenhando no Congresso, com partidos como PDT, Rede, PPS, PV, PSB e até de siglas distantes do centro do espectro, como o esquerdist­a PC do B. Membros poderiam votar com o novo governo em pautas como reformas econômicas, mas buscariam marcar posição em temas como direitos humanos e respeito às liberdades.

A intenção é constituir uma oposição sem o PT, ideia defendida pelo ex-presidenci­ável Ciro Gomes (PDT) e que conta com a adesão de siglas que querem abandonar o guardachuv­a do partido de Haddad.

O MDB, por anos fiel da balança de qualquer governo e que saiu menor e menos relevante das urnas, aposta na eleição de Renan Calheiros (AL) para a presidênci­a do Senado para garantir algum protagonis­mo no governo Bolsonaro.

Presidente nacional do PDT, Carlos Lupi diz que o papel de terceira via assumido por Ciro, o terceiro colocado da eleição, continuará sendo necessário. “Tivemos a onda que elegeu Lula e agora a que deu vitória a Bolsonaro. É cíclico. Daqui apouco vi rad enovo .”

Lupi compartilh­a do entendimen­to de que o candidato do PSL deu um baile na velha política ao estabelece­r comunicaçã­o direta com os eleitores. “Deveríamos ter trabalhado com mais eficácia a rede social. Isso o Bolsonaro conseguiu”, constata o líder do PDT.

“O ciclo de governos mais progressis­tas se encerrou com um acrise profundada­s instituiçõ­es e partidos ”, diz o presidente nacional do P PS, Roberto Freire .“Apolítica tradiciona­l foi derrotada ”, segue ele, que tem mandatos há 44 anos, é suplente de deputado federal e não conseguiu uma vaga na próxima legislatur­a.

Para se manter no time das legendas “que serão ouvidas e terão espaço lá no futuro”, nas palavras de Freire, o PPS aposta na refundação do partido, processo que já estava em curso e agora se mostrou urgente.

Ametamorfo­se, que inclui troca de nome (“Movimento” é uma opção ), sedará coma adesão de membros do Agora!, do Acredito e do Livres, grupos que erguem abandeira da renovação política, e com a possível fusão coma Rede.

A legenda da ex-senadora Marina Silva está coma sobrevivên­cia ameaçada porque elegeu só uma deputada federal e, com isso, não superou a cláusula de barreira. Acon se quênciaéa restrição no acessoa recursos do fundo partidário e ao tem pode televisão.

Embora ainda falte apalavra final, tudo se encaminha para a união dos dois partidos. O molde também é incerto, já que, pela lei, só siglas com no mínimo cinco anos de registro pode ms efundir. Oficializa­da em 2015, a Rede tentará na Justiça derrubara regra.

“O PPS não está discutindo mudança por deleite de mudar, mas porque é necessário”, afirma Freire. A expectativ­a é que a aliança com organizaçõ­es de oxigenação da política ajude a reformular os quadros, estabelece­r nova ponte coma população eter conexão maior com redes sociais.

“A sociedade brasileira não está majoritari­amente nos extremos”, analisa Freire. “No primeiro turno, um movimento anti-PT deu impulso a Bolsonaro e, no segundo, um grande grupo votou em Haddad para ser anti-Bolsonaro.”

Para o cientista político José Álvaro Moisés, a existência de uma força de centro é estratégic­a para a sobrevivên­cia da democracia brasileira. Massua chance de desapareci­mento é real, adverte o pesquisado­r, caso lideranças não tenham capacidade de ouviras bases e apresentar soluções para problemas na economia ena segurança.

“Uma condição fundamenta­l é que as elites políticas e os partidos que se envolveram em corrupção venham a público assumir os erros e pedir desculpas”, afirma Moisés, professor aposentado da USP.

Ele diz que, sem uma reinvenção, o bloco de centro que historicam­ente tem uma posição mais apaziguado­ra corre o sério risco de ser superado pelas novas forças políticas.

“Não foi capaz de entender a natureza da crise e deixou um espaço que foi aproveitad­o por Bolsonaro e seus apoiadores. Tudo bem que foi uma campanha atípica; não era simples para os líderes de centro apresentar uma proposta, mas não era impossível.”

“Acho que pode vir uma coesão do centro, mas vai depender de como será o relacionam­ento político e das atitudes de Bolsonaro Tasso Jereissati (PSDB-CE) senador e expresiden­te do partido

“O ciclo de governos mais progressis­tas se encerrou com uma crise profunda das instituiçõ­es e partidos. A política tradiciona­l foi derrotada Roberto Freire (PPS-SP) suplente na Câmara e presidente nacional do PPS

“Deveríamos ter trabalhado com mais eficácia a rede social. Isso o Bolsonaro conseguiu. Tivemos a onda Lula e agora a que deu vitória a Bolsonaro. É cíclico Carlos Lupi (PDT-RJ) ex-deputado e presidente nacional do PDT

 ?? Janine Moraes/MinC ??
Janine Moraes/MinC
 ?? Jefferson Rudy/Agência Senado ??
Jefferson Rudy/Agência Senado
 ?? Jane de Araújo/Agência Senado ??
Jane de Araújo/Agência Senado

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil