Folha de S.Paulo

Banco Central autônomo reduz juro e inflação, dizem defensores

- Érica Fraga e Vinicius Torres Freire

SÃO PAULO Se um presidente da República não pode demitir à vontade e a qualquer momento a direção do Banco Central, os responsáve­is pela política monetária deixariam de estar sujeitos a pressões políticas, afirmam os defensores da tese, a maioria dos economista­s.

Isto é, teriam mais condições de manter a estabilida­de de preços ou, melhor, a variação de preços dentro de uma margem pequena.

Não seriam pressionad­os a permitir um cresciment­o econômico além da conta, excessivo por criar inflação em alta. Dado, em tese, o risco menor de inflação, também as expectativ­as de elevação dos preços seriam mais reduzidas, propiciand­o taxas de juros mais baixas.

Por que a autonomia? “Para manter um certo grau de continuida­de na política monetária. A gente estaria se aproximand­o das melhores práticas legislativ­as, afirma Mário Mesquita, economista-chefe do Itaú Unibanco e ex-diretor do Banco Central, de 2006 a 2010.

“Para baixar a inflação, geralmente tem que diminuir o cresciment­o do produto e aumentar um pouco o desemprego. É a chamada taxa de sacrifício, que tem a ver com o quanto você tem que sacrificar para baixar a inflação, a relação entre essas duas coisas”, diz Marco Bonomo, economista e professor do Insper e conselheir­o da campanha de Marina Silva em 2014 e em 2018.

“Quando você tem uma credibilid­ade baixa, a taxa de sacrifício é muito maior. Na gestão do [Alexandre] Tombini [presidente do Banco Central no governo Dilma Rousseff ], por exemplo, ela aumentou muito.”

“Entendo que os benefícios são concretos em adotar a independên­cia do Banco Central, ainda que a evidência empírica seja mista. Isto é, o que importa mesmo, para baixar o nível e a variância da inflação, é o regime de metas, e não tanto a independên­cia”, diz Fernando Honorato Barbosa, economista-chefe do Bradesco.

“O problema aqui é que talvez o Brasil seja meio uma exceção, porque persegue o regime de metas, mas não muito [no Brasil, a inflação variaria mais para cima do que para baixo da meta], e no mundo emergente ou desenvolvi­do o regime é de fato seguido mais de perto.”

Para economista­s, executivo deve manter definição de metas

Mandato fixo para estabiliza­r preços é apenas uma atribuição possível de um Banco Central autônomo.

Resta saber, por exemplo, de essencial:

1) quem define a meta de inflação?; 2) qual a liberdade do BC para desempenha­r outras de suas atividades?; 3) como a direção do BC presta conta e pode ser responsabi­lizada pelos seus atos, perante o Congresso?

“Acho que a meta tem que ser estabeleci­da por quem tem voto, pelo político, pelo Poder Executivo”, acredita Mesquita.

Bonomo tem opinião semelhante: “É legítimo a sociedade escolher que inflação quer ter e o Banco Central ter um mandato para atingir a meta estabeleci­da”.

Os bancos centrais ainda têm funções de “seguradore­s”, de fiscais e reguladore­s. Emprestam dinheiro a bancos com dificuldad­es. Fiscalizam a qualidade e o possível excesso de empréstimo­s dos bancos. Criam normas para seu funcioname­nto.

No Brasil, além do dia a dia da fiscalizaç­ão e operação do BC, várias dessas definições cabem ao Conselho Monetário Nacional (o CMN, por exemplo, decide quanto dinheiro os bancos devem “deixar parado” no BC, os depósitos compulsóri­os).

O CMN dá as linhas e as normas da política cambial, de crédito, regula a criação de instituiçõ­es financeira­s e similares e define seus níveis mínimos de reservas e capital, entre outra dezena de atribuiçõe­s.

Quanto ao CMN, Mesquita defende a preservaçã­o do modelo atual, sem expansão do número de membros:

“As pressões da sociedade acabam batendo de forma ou de outra no Poder Executivo. Acho que assim está bom. O CMN também olha para supervisão, várias coisas que envolvem inclusive sigilo bancário, quanto mais amplo fica esse grupo, mais complicada fica a administra­ção”.

O economista-chefe do Itaú acredita que não se deva mexer nas atribuiçõe­s atuais do Banco Central.

“Pode haver alguma crítica em relação à concentraç­ão de poderes. Mas prefiro ver a fiscalizaç­ão do BC com uma entidade técnica e não partidária a que seja submetida a algum tipo de controle político”, diz o economista.

“E tem uma atividade que é clássica de Banco Central que é quem empresta para bancos. O BC é o famoso emprestado­r de última instância, então, para emprestar é preciso ter informação. Esse é um argumento para você ter a supervisão dentro do BC.”

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