Folha de S.Paulo

Estrela do MMA migra para telecatch em busca de mais dinheiro e audiência

Hoje Ronda Rousey é um dos maiores nomes da WWE, principal empresa do mundo de luta-livre

- Alex Sabino

são paulo Ronda Rousey, 31, passou sete horas sentada dentro de um ônibus. Era quase cárcere privado. Ela não podia sair, nem queria. Fazia parte do show. Foi naquela noite de janeiro que ela foi apresentad­a como nova contrataçã­o da WWE (World Wrestling Federation), a maior empresa do mundo de luta-livre.

No Brasil, o show ainda é chamado de telecatch, esporte de entretenim­ento em que as lutas são coreografa­das, e os resultados, combinados.

Ficar trancada no ônibus fazia parte do esquema para que sua entrada no final do Royal Rumble, evento em pay-per-view feito pela companhia, fosse uma surpresa e tivesse o maior impacto possível.

Nove meses depois, Ronda Rousey é um dos maiores nomes do elenco da WWE.

Do mesmo jeito que havia sido no UFC (Ultimate Fighting Championsh­ip) de 2011 a 2016. Mas o UFC era uma luta real, não marmelada. O que levaria uma das maiores atletas da história do MMA a abandonar o esporte para ir à WWE?

“Quando eu era criança, a luta livre era algo grande. Eu tinha obsessão por Hulk Hogan e, mesmo depois que cresci um pouco, achava que ele era o maior e mais durão sujeito do planeta”, diz, citando um dos lutadores mais famosos do wrestling, em declaração enviada pela assessoria de imprensa da WWE.

Há outra explicação para a troca. Ronda abraçou a chance de se tornar ainda mais famosa e rica do que era nos tempos de UFC. A WWE não para de crescer e é uma máquina de fazer dinheiro.

Com ações negociadas na bolsa de Nova York, a companhia vale mais de US$ 1 bilhão (R$ 3,75 bilhões). No segundo quadrimest­re deste ano, arrecadou US$ 281,6 milhões.

Além de 1,8 milhão de pessoas que pagam US$ 9,99 por mês para assistir à WWE Network, serviço online com conteúdos exclusivos e reprises, a empresa tem dois programas semanais na TV americana por assinatura. Um deles, o Monday Night Raw, é o programa há mais tempo no ar no país em horário nobre. É transmitid­o desde 1993.

A WWE produz 273 shows por ano ao vivo apenas nos EUA (sem contar excursões mundiais). No ano passado, 1,6 milhão de pessoas comparecer­am, pagando em média US$ 53 pelo ingresso. Por um contrato de cinco anos para ter um dos programas semanais, a Fox americana pagou US$ 1 bilhão. O acordo valerá a partir de outubro de 2019.

A última luta de Ronda pelo UFC foi em dezembro de 2016, quando foi nocauteada pela brasileira Amanda Nunes. Foi seu único evento naquele ano e lhe rendeu uma bolsa de US$ 3 milhões. Essa derrota e a da luta anterior, diante de Holly Holm, catapultar­am sua saída do MMA.

“Eu chorei muito [após os nocautes] e me isolei. Meu marido [o também lutador Travis Browne] me segurou e me deixou chorar. Durou dois anos. Tive de aprender com a experiênci­a. Dos piores momentos saem as melhores coisas”, ela disse em entrevista no lançamento do filme Mile 22, em que teve participaç­ão.

O contrato dela com a WWE, que não teve o tempo de duração revelado, é lucrativo. Mais do que o acordo com o UFC.

O valor fixo é US$ 1,5 milhão por ano, mas não inclui percentual no faturament­o com produtos licenciado­s e participaç­ão em outros empreendim­entos do conglomera­do, como produções da WWE Filmes ou comerciais para a Tap, empresa de material esportivo da qual a companhia de luta livre detém 50% das ações.

O potencial indica que pode receber bem mais. O maior salário da WWE é de John Cena, lutador que fatura US$ 10 milhões por ano. Pelo seu valor de mercado e pelo que pode render, a adaptação de Ronda foi acelerada para que ela logo se tornasse “campeã” da categoria feminina.

Quando venceu o título, ela chorou no ringue. “Foram lágrimas de verdade. Toda a emoção no meu rosto foi real. A maior mudança foi ter de confiar em outra pessoa e trabalhar com ela para criar algo grande, enquanto antes eu trabalhava sozinha para criar algo grande”, diz, sobre o trabalho de coreografi­a da luta contra a adversária.

Ronda não foi a primeira a deixar um esporte profission­al de competição e ir para a WWE. A maior estrela da história da empresa, The Rock, hoje ator, foi jogador de futebol americano na universida­de. Um dos principais nomes atualmente é Brock Lesnar, outro ex-campeão do UFC.

A diferença é que Ronda entrou na companhia no que deveria ser o auge da carreira de lutadora. Questionad­a sobre um possível retorno ao UFC, ela nunca disse sim ou não.

Bronze na categoria 70 kg do judô nos Jogos de Pequim-2008, ela também não é a única medalhista olímpica na WWE. Kurt Angle ganhou o ouro na luta olímpica em Atlanta-1996.

 ?? Divulgação/WWE ?? Ronda Rousey pula na direção de Nikki Bella, outra estrela do elenco da WWE
Divulgação/WWE Ronda Rousey pula na direção de Nikki Bella, outra estrela do elenco da WWE

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil