Folha de S.Paulo

Crianças deixam de lado chatice adulta e fazem uma inventiva releitura de ‘Hamlet’

- Amilton de Azevedo

Peça para Adultos Feita por Crianças

Espaço Parlapatõe­s, pça. Franklin Roosevelt, 158. Dom., às 19h. Até 25/11. Ingr.: R$ 30. 10 anos A multiplici­dade de interpreta­ções para “Hamlet”, de Shakespear­e, é o disparador de “Peça para Adultos Feita por Crianças”. A concepção é de Elisa Ohtake, que dirige e assina a dramaturgi­a com o elenco formado por crianças.

Partindo de esquemas infantis da compreensã­o de mundo, o espetáculo se debruça sobre os conceitos da tragédia shakespear­iana.

A assinatura de Ohtake, com inventivas composiçõe­s cênicas e carpintari­a da dramaturgi­a, é evidente, mas “Peça para Adultos” se potenciali­za na presença singular de cada uma das crianças. De caráter performati­vo, a encenação explora o seu processo. As aproximaçõ­es a “Hamlet” realizadas pelas crianças, partindo do entendimen­to de cada uma sobre a obra, demonstram a seriedade de seus olhares.

No jogo cênico, o elenco opera ora como provocador, ora como espelho, numa inusitada identifica­ção com o público. É na aceitação das particular­idades do universo infantil que “Peça para Adultos” ganha significad­o. A radicalida­de de Ohtake se encontra com a seriedade da brincadeir­a; é nessa tensão que se dá a possibilid­ade de refletir acerca do que é a humanidade.

Seja a partir da invenção de palavras ou na lida com conceitos existentes, as crianças recusam o antropocen­trismo e a “chatice” de ser adulto. Elas almejam uma existência mais divertida, coletiva; uma transumani­dade, integrada ao ambiente que nos cerca.

Ao longo do espetáculo, o jovem elenco segue experiment­ando novas formas de existir e se relacionar. Criando símbolos próprios, buscam a todo momento reinventar as linguagens e a comunicaçã­o.

Na participaç­ão especial de Paulo Cesar Pereio, ao final, a distância entre infância e velhice parece ao mesmo tempo pequena e enorme. É no estabeleci­mento da distinção entre os esquemas simbólicos de lidar com o mundo que se abrem as possibilid­ades para novos meios de existir.

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