Folha de S.Paulo

Mostra no Rio exibe telas do mais popular santo católico

Museu Nacional de Belas Artes traz 27 pinturas de são Francisco dos períodos renascenti­sta e barroco

- João Perassolo

Uma pintura de três metros de altura por quase dois de largura retrata são Francisco recebendo de Cristo, através de linhas que se assemelham a raios vindos das nuvens, os estigmas, que são os ferimentos nas mãos e nos pés do Redentor crucificad­o. Ao fundo da cena, vê-se algumas montanhas verdes e outras nevadas, além de um céu cintilante com nuvens propositad­amente borradas.

Intitulada “São Francisco Recebe os Estigmas”, a pintura do renascenti­sta Tiziano (1480-1576) foi concluída pouco depois da metade do século 16, quando o artista tinha 80 anos. “Ele pintava diretament­e na tela e nunca trabalhou com assistente­s. A paisagem foi feita com os dedos, e não com pinceis, o que faz você se lembrar dos impression­istas, que viriam três séculos mais tarde”, diz o curador Stefano Papetti.

Papetti, diretor da Pinacoteca de Ascoli Piceno, município italiano onde são Francisco passou alguns anos de sua vida, reuniu a grande tela de Tiziano e mais 26 representa­ções do santo conhecido por seu voto de pobreza e dedicação aos animais na mostra “São Francisco na Arte de Mestres Italianos”, inaugurada na terça-feira (6), no Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro.

Datadas dos períodos renascenti­sta e barroco (séculos 15 a 17), as obras vieram de pinacoteca­s, coleções particular­es e igrejas da região central da Itália, não por acaso as cidades nas quais o “Pobrezinho” —nas palavras do outro curador da mostra, Giovanni Morello— viveu os seus 44 anos.

Nascido em 1181 em Assis, “Francisco não se interessav­a por dinheiro, vivia uma vida simples e em sintonia com a natureza. Este último fator o torna moderno, de alguma forma”, diz Papetti, em referência à valorizaçã­o do verde em voga atualmente.

O curador afirma ainda que o santo é o mais popular da história, tendo sido representa­do por artistas de todo o mundo. A poderosa influência advém do fato de que Francisco foi o único beato a receber os estigmas, tornando-o muito próximo a Cristo.

A maioria das pinturas da mostra retratam, justamente, cenas ao redor das chagas. Há um estandarte duplo —um quadro com pinturas dos dois lados— no centro do espaço expositivo do museu no qual o bolonhês Guido Reni pintou os estigmas como se naturalmen­te fizessem parte das palmas das mãos. A tela apresenta um Francisco mais idealizado, menos realista.

“Como não há retrato de São Francisco em vida, cada pintor o represento­u de um jeito”, diz Papetti. A diversidad­e de abordagens constitui o segundo núcleo da exposição, na qual o santo aparece careca e altivo, cercado por discípulos no quadro de cores fortes de Perugino; ou com expressão de devoção no óleo de tons sombrios “São Francisco de Assis Mostrando o Crucifixo”, de Annibale Carracci.

A mostra tem ainda um terceiro núcleo, chamado “Conversas Sagradas”. Na seção, a imagem de Francisco vem associada à Virgem com o Menino, à Cruz de Cristo e a outros santos franciscan­os. A tela emblemátic­a, aqui, é um trabalho de Andrea Lilio que traz o jogo de claro-escuro tão caro à obra do maior pintor barroco, Caravaggio.

Montada pela primeira vez na Itália, em 2016, “São Francisco na Arte de Mestres Italianos” chega ao Rio depois de ter passado pela Casa Fiat de Cultura, em Belo Horizonte.

São Francisco na Arte de Mestres Italianos

Museu Nacional de Belas Artes - av. Rio Branco, 199, Rio de Janeiro. Até 27/1/2019. De ter. a sex., das 10h às 18h; sáb., dom. e fer., das 13h às 18h. R$ 8; grátis aos domingos

 ?? Divulgação ?? Tela de Andrea Lilio retrata são Francisco, santo Antônio de Pádua e são Boaventura
Divulgação Tela de Andrea Lilio retrata são Francisco, santo Antônio de Pádua e são Boaventura

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil