Folha de S.Paulo

Com travas na atuação, ‘Annie’ vale mais pelas crianças em cena

Musical conta com sete atrizes mirins, um cachorro e duas canções de sucesso

- Nelson de Sá

Annie, o Musical

Teatro Santander, av. Presidente Juscelino Kubitschek, 2.041. Qui. e sex., às 21h; sáb., às 16h30 e às 21h; dom., às 15h e às 19h. R$ 75 a R$ 310. Classifica­ção livre Os dois números só com as atrizes mirins —e o cachorrinh­o— derrubam quaisquer resistênci­as que se ergam contra o musical “Annie”.

Em “Vida Dura Irmão” e “Amanhã”, nas fluentes versões do diretor Miguel Falabella para as célebres “It’s the Hard Knock Life”, hoje talvez mais conhecida pelo rap de Jay-Z, e “Tomorrow”, as sete meninas não só cantam e dançam, mas brincam.

Os quadros têm seus passos marcados, seus gestos, mas o que importa é vê-las tão próximas da emoção genuína, honesta, das crianças.

O elenco infantil muda constante e necessaria­mente, mas a Annie daquela tarde de sábado, Sienna Belle, 10, se mostrou uma profission­al, no comando do elenco em “Vida Dura Irmão” e sobretudo no solo de “Amanhã”.

Esta última é a canção que transmite esperança, que vira de ponta-cabeça a inspiração do musical, que vem ao longe de romances ingleses como “Oliver Twist”.

A americana Annie não é infeliz como Oliver, apesar da infância passada no orfanato. Todo o desenrolar da história e o próprio final são de otimismo, apesar de retratar o auge da recessão nos EUA, nos anos 1930.

Fora dos quadros das crianças, o musical cai bastante, na montagem.

Muito do espírito leve e cômico de “Annie” depende da senhora Hannigan, a diretora trapaceira do orfanato, supostamen­te malvada, mas na verdade o foco do humor no espetáculo, enganada e zombada pelas crianças.

A atriz Ingrid Guimarães foi vista pela primeira vez no palco no início dos anos 1990, em “Confissões de Adolescent­e”, e era de longe o melhor da peça, engraçadís­sima. Décadas de TV e cinema depois, o palco não é mais seu ambiente natural.

As tiradas de sua Hannigan são estanques, como cacos repetidos artificial­mente, talvez pelo desgaste das seis apresentaç­ões semanais, com quase três horas cada.

Da mesma maneira, Falabella, na matinê vista já com dois meses em cartaz, se apoiou na comicidade que desenvolve­u para o programa “Sai de Baixo”, há duas décadas.

E seu personagem, o benfeitor de Annie, é quem força em cena o paralelo insustentá­vel entre o presidente democrata Franklin Roosevelt, pai da legislação trabalhist­a e de previdênci­a social nos EUA, com Jair Bolsonaro, com reflexo sobre o tema da peça.

Em meio aos tropeços, Sara Sarres e Cleto Baccic, tarimbados de musical, interpreta­m os seus papéis e canções com uma desenvoltu­ra que se destaca, mas os personagen­s não são centrais.

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Lenise Pinheiro/Folhapress Luiza Gattai e Miguel Falabella em ‘Annie’

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