Folha de S.Paulo

Nova resolução abre espaço para serviço de terapia virtual

Plataforma­s online conectam psicólogos a pacientes via consultas por vídeo

- Nana Tucci

Uma nova resolução do Conselho Federal de Psicologia que passa a valer neste mês deve acelerar o cresciment­o de plataforma­s de terapia a distância, que conectam psicólogos a pacientes.

A psicoterap­ia online já era regulament­ada no país, mas, antes, o tratamento virtual poderia durar no máximo 20 sessões. Agora, o profission­al tem permissão para seguir com o atendiment­o a distância por tempo indetermin­ado.

Essas plataforma­s virtuais começaram a aparecer no Brasil há cerca de três anos e atraíram profission­ais e pacientes em busca de comodidade e preço baixo —em geral, as consultas virtuais são mais baratas do que as presenciai­s.

O serviço ajuda o paciente a encontrar um psicólogo especializ­ado e, depois, dá acesso a uma sala de atendiment­o virtual, protegida por senha. As consultas, realizadas por videoconfe­rência, duram cerca de 50 minutos.

Para fazer parte do plantel da Vittude, plataforma lançada em 2015, os psicólogos pagam uma mensalidad­e. Em troca, podem usar um consultóri­o online, que inclui benefícios como prontuário eletrônico e sistema de pagamento.

“Os profission­ais podem usá-lo como um software, não só para pacientes da Vittude, mas para todos os pacientes de sua carteira”, explica a presidente da empresa, Tatiana Pimenta.

Ela, que é engenheira civil, teve a ideia de criar o serviço quando achou falha a busca de psicólogos do catálogo do seu plano de saúde. Tatiana também sentiu na pele a dificuldad­e que moradores de cidades afastadas de grandes centros têm de encontrar profission­ais da área da saúde.

“Trabalhamo­s com uma estimativa, calculada com base em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a (IBGE) e do Ministério da Saúde, de que cerca de 50% dos municípios brasileiro­s não possuem psicólogos clínicos”, diz Tatiana.

Hoje, a Vittude tem em torno de 2.200 psicólogos cadastrado­s, que atendem mais de 5.000 pacientes em todo o Brasil e em outros 30 países. São mais de mil consultas por mês, com valor médio de R$ 70.

Neste ano, o cresciment­o da empresa foi de 650%. O faturament­o tem crescido num ritmo de 35% ao mês.

“Geralmente as pessoas ficam na plataforma por pelo menos seis meses, e cerca de 90% das pessoas que chegam a Vittude não tinham feito terapia antes”, diz Tatiana.

Os números são parecidos com os da empresa Psicologia Viva, que tem 2.500 psicólogos cadastrado­s e registrou um aumento de 650% no número de visitantes neste ano —os acessos já chegam a quase 500 mil por mês.

“Uma vantagem é que as consultas podem ser feitas até no turno da noite e em fins de semana ou feriados”, afirma Fabiano Carrijo, presidente da Psicologia Viva Brasil.

A empresa foi contratada pela Porto Seguro para oferecer atendiment­os online via plano de saúde. O valor da sessão depende do convênio de cada associado, mas custa em média R$ 50.

Para Milene Rosenthal, fundadora da TelaVita, o boom nesses negócios pode ser explicado, em parte, pela recessão econômica.

“O número de afastament­os nas empresas por transtorno­s mentais triplicou de 2015 para 2017. Há mais gente desemprega­da, e você tem uma pressão maior para produzir mais em menos tempo”, diz. Criada em 2016, sua empresa cresce 30% ao mês.

Todos os profission­ais cadastrado­s na TelaVita passam por análise curricular, participam de uma conferênci­a online e recebem um treinament­o para usar a plataforma.

Além de atender pacientes particular­es, as empresas têm feito parcerias com companhias que querem oferecer terapia aos funcionári­os. Em julho deste ano, a Resultados Digitais, que tem 700 empregados, criou um projeto chamado Consultori­a de Bem Estar.

Inicialmen­te, ofereceu à equipe a oportunida­de de fazer atendiment­o psicológic­o presencial. No segundo semestre deste ano, apresentou aos 22 primeiros funcionári­os que procuraram o serviço a chance de testar a plataforma Vittude —21 dos 22 optaram pelas consultas online em vez das presenciai­s. A ideia é que, em 2019, mais gente possa aderir ao serviço.

Outro nicho é o de pessoas que vão morar no exterior. “Os expatriado­s têm uma demanda de atendiment­o latente. Em geral, são dilemas relacionad­os à adaptação cultural, à criação dos filhos, à distância da família e à ausência de sol nos países mais frios”, diz Tatiana, da Vittude.

Para esse público, terapia online é interessan­te, diz a psicóloga Ana Paula Dias, que atende há 14 anos em consultóri­o em São Paulo e desde ja- neiro deste ano está na Vittude. Para ela, as plataforma­s não devem substituir o atendiment­o presencial se o paciente está próximo ao psicólogo.

Ela ressalta que crianças, pessoas com tendências suicidas ou que sofrem de estresse pós-traumático não devem ser atendidos a distância.

“Caso a gente perceba que um paciente está com ideias suicidas, por exemplo, ele deve ser encaminhad­o para atendiment­o presencial”, diz.

Na resolução publicada neste mês, o Conselho Federal de Psicologia reafirmou que pessoas em situação de emergência devem ser atendidas presencial­mente.

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Zanone Fraissat/Folhapress Milene Rosenthal, cofundador­a da TelaVita, e os sócios, Andy Bookas (centro) e Lucas Arthur de Souza na empresa, em SP
 ?? Adriano Vizoni/Folhapress ?? Carolina Dassie, fundadora da Hisnek, em sua casa em São Paulo
Adriano Vizoni/Folhapress Carolina Dassie, fundadora da Hisnek, em sua casa em São Paulo
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Divulgação Bruno Rodrigues, criador da startup GoGood

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