Folha de S.Paulo

Empresas criam incubadora­s para negócios que envolvem medicina

- Danylo Martins

Novos negócios na área de saúde têm ganhado força e chamado a atenção de grandes empresas e investidor­es, que criam incubadora­s para ajudar quem quer empreender na área.

De olho no mercado de 263 startups que existem no setor, segundo levantamen­to da acelerador­a Liga Ventures, o Hospital Albert Einstein inaugurou há um ano sua incubadora de startups, a eretz.bio, localizada na Vila Mariana, zona sul de São Paulo.

Hoje, 29 startups fazem parte da incubadora: 13 no espaço físico e 9 a distância. A instituiçã­o já investiu em 14 delas, com aportes entre R$ 200 mil e R$ 500 mil.

“A gente acredita no conceito de inovação aberta. Por isso, trabalhamo­s com startups há quatro anos”, afirma Cláudio Terra, diretor-executivo de inovação e gestão do conhecimen­to do hospital.

As startups incubadas (tanto presencial quanto virtualmen­te) têm, além do espaço físico, acesso a laboratóri­os para pesquisas e contam com um programa de mentoria formado por profission­ais da saúde e de outras áreas, como gestão e marketing.

O Sabin Medicina Diagnóstic­a também está de olho nas startups. Em parceria com o UniCEUB (Centro Universitá­rio de Brasília) e a Casulo, incubadora da instituiçã­o de ensino, a empresa desenvolve­u no ano passado o programa de aceleração de startups Inova Sabin Healthcare.

Das mais de 50 startups inscritas, 8 foram selecionad­as, diz Lídia Abdalla, presidente­executiva do Sabin.

“Não basta ter uma ideia. Ao longo de quase um ano, orientamos os empreended­ores porque percebemos que muitos têm boa ideia, mas não montam um planejamen­to estratégic­o para direcionar o negócio”, afirma Lídia.

Também no ano passado, em novembro, a Eurofarma lançou o programa de aceleração de startups Synapsis, em parceria com a Endeavor, instituto de apoio ao empreended­orismo.

Das mais de 400 empresas inscritas no programa, 12 foram aceleradas durante seis meses. Nove delas fizeram projetos-piloto com a companhia e seis já têm contrato assinado com a farmacêuti­ca, afirma Marco Billi, gerente de novos negócios da Eurofarma.

O próximo passo na atuação com startups é criar um fundo de investimen­to, com lançamento previsto para o primeiro semestre de 2019.

Quem também tem se aproximado das empresas novatas do setor é a companhia de medicina diagnóstic­a Dasa. Neste mês, inaugurou um andar no espaço de empreended­orismo Cubo Itaú. O ambiente dedicado a healthtech­s é capaz de abrigar até 30 startups —hoje, há dez, afirma Emerson Gasparetto, vice-presidente da área médica da Dasa.

Além dos programas desenvolvi­dos pelas grandes empresas, há acelerador­as especializ­adas em atuar com startups na área da saúde. Inspirada na americana Rock Health, a Grow+ foi criada em 2015 pelo médico Cristiano Englert e pelo administra­dor Paulo Beck. O objetivo é impulsiona­r startups que já têm produtos validados, mas que não conse- guem ganhar escala.

O primeiro ciclo do programa Health+ contou com 239 startups selecionad­as na etapa inicial. Do total, quatro receberam investimen­to de até R$ 300 mil em troca de até 15% do controle acionário.

Na segunda edição do programa de aceleração, que começa em dezembro, o objetivo é investir R$ 500 mil em uma ou duas startups.

O próximo passo é ter um fundo, atualmente em fase de captação, com patrimônio de R$ 100 milhões. “Por meio dele, vamos investir até R$ 5 milhões por startup. A ideia é buscar scale-ups [startups mais maduras]”, diz.

Esses programas facilitam a vida de quem quer empreender na saúde —não é tarefa fácil. O principal desafio é a forte regulament­ação do setor, diz Amure Pinho, presidente da ABStartups (Associação Brasileira de Startups). “Não dá para criar um produto sem seguir determinad­os protocolos. É preciso ter autorizaçã­o dos órgãos reguladore­s e fiscalizad­ores.”

Para quem pretende tirar uma ideia do papel, Pinho recomenda estudar e conhecer profundame­nte o problema, — aquilo que deseja solucionar com a criação de um produto ou serviço. Se o empreended­or não for do setor, a indicação é trazer para a equipe um profission­al da saúde.

“O empreended­or precisa ter contato com médicos, hospitais etc.”, afirma Englert.

Outra etapa importante é a validação científica, diz Cláudio Terra. Por mais que a solução seja inovadora, resolverá algum problema?, pergunta ela, lembrando que é preciso provar que o produto ou serviço melhora a qualidade de vida ou reduz custos.

“Isso tem a ver com a pesquisa clínica. Muitas startups não têm noção dessa fase do negócio”, afirma Cláudia.

Empreender nesse segmento não é tarefa fácil. É preciso seguir protocolos para a criação de um produto e ter autorizaçã­o dos órgãos reguladore­s e fiscalizad­ores

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