Folha de S.Paulo

Consultori­as ajudam dentistas a colocar suas clínicas em ordem

Empreendim­entos oferecem a consultóri­os estratégia de marketing e controle do estoque

- Valdir Ribeiro Jr.

A cada ano, de 10 mil a 12 mil novos dentistas são lançados no mercado no Brasil. Para atender a esse público, empreended­ores têm investido em negócios na área de gestão e consultori­a para o setor odontológi­co.

É um mercado com forte potencial. Segundo o consultor do Sebrae-SP Rafael Matos, que há três anos ajuda dentistas a melhorar o desempenho em suas clínicas, a gestão é um dos principais problemas enfrentado­s por esses profission­ais.

“Eles não entendem que o consultóri­o é uma empresa como qualquer outra, que precisa ter pesquisa de mercado, um bom fluxo de caixa, plano de relacionam­ento com clien- tes, estratégia de marketing”, diz. Quando isso é trabalhado, os resultados melhoram.

Foi essa demanda que inspirou a criação da empresa Simples Dental, especializ­ada em softwares de controle para consultóri­os.

A ideia nasceu quando o dentista Ramon Maciel estava na faculdade, em 2013. Durante uma aula, um de seus professore­s apresentou o programa que usava em sua clínica para controle de pacientes.

“Quando ele nos mostrou, vimos que estava cheio de erros e que não funcionava direito. Foi então que tive a ideia, com mais quatro amigos que eram programado­res e designers, de desenvolve­r uma solução própria e aproveitar esses espaço que existia no mercado.”

Os amigos desenvolve­ram a ferramenta durante um ano. “Conversamo­s com dentistas e a grande reclamação deles era que as soluções oferecidas na época eram muito difíceis de usar”, diz. A meta, então, foi desenvolve­r um software simples.

Segundo Maciel, a principal diferença entre o mercado odontológi­co para as outras áreas da saúde é que se trata do ramo com mais tratamento­s disponívei­s —todos feitos na própria clínica.

Em outras especialid­ades médicas, o procedimen­to padrão é realizar a consulta num consultóri­o e encaminhar o paciente para realizar exames em hospitais.

“Já o dentista realiza mais de 300 tratamento­s na sua clínica, e quase sempre mais de um no mesmo atendiment­o. Por isso a dificuldad­e de criar uma ferramenta simples que agrupasse todas essas informaçõe­s e fizesse, ainda, o controle automático do estoque de materiais”, diz.

Para conquistar os primeiros clientes, os sócios participar­am de programas de mentoria e aceleração, como o Sinapse da Inovação, que garantiu o primeiro aporte de R$ 50 mil à empresa.

Em 2014, conseguira­m uma reunião com a diretoria da Dental Cremer, um dos maiores fornecedor­es de insumos odontológi­cos da América Latina, que comprou 40% da empresa”, diz Maciel —ele não divulga o valor do aporte feito pela companhia.

O lançamento oficial da parceria ocorreu em janeiro de 2015, no 33º Congresso Internacio­nal de Odontologi­a de São Paulo. No primeiro final de semana após o lançamento, a empresa conseguiu 700 novos clientes.

Hoje, a Simples Dental tem como clientes mais de 8.000 clínicas e 30 mil usuários em sua base de dados.

O software da empresa é vendido sob modelo de assinatura (R$ 99 por mês). Em 2017, a empresa faturou R$ 1,7 milhão e a expectativ­a para este ano é de R$ 2,5 milhões.

Para 2019, Maciel diz que a Simples Dental tem como foco continuar a crescer no mercado interno, pois, segundo ele, ainda há espaço para expansão no país. “Nos Estados Unidos, quase 100% dos consultóri­os usam softwares de gestão, mas, aqui no Brasil, ainda estamos em 30%.”

Outra empresa da área, a DocBiz oferece, além de softwares, serviços de assessoria de marketing e de tecnologia e dá cursos de capacitaçã­o online e presenciai­s.

O negócio foi aberto no ano passado pela dentista Carla Sarni, que também preside a rede de clínicas Grupo Sorridents. “Hoje, temos vários empresário­s atuando nesse segmento, é um setor que está em ebulição”, diz Carla.

Segundo a empreended­ora, a empresa surgiu por conta do cresciment­o da Sorridents.

“Com a expansão da franquia, percebemos que era preciso capacitar os profission­ais, porque eles não são preparados para ser empreended­ores”, afirma a dentista.

“A partir do momento em que uma pessoa tem um consultóri­o, ela, quer queira, quer não, é uma empreended­ora e precisa cuidar do seu negócio. Por isso, o nosso foco é ajudar esses profission­ais a ter um cresciment­o sustentáve­l e de qualidade”, diz.

Para colocar a empresa de pé, Carla investiu R$ 4 milhões. Os serviços da DocBiz são vendidos em pacotes, com valores que variam de R$ 200 a R$ 600 por mês.

Hoje, a DocBiz tem como clientes 8.000 profission­ais da saúde e, neste ano, a empresa deve faturar R$ 1,2 milhão.

O setor de odontologi­a é o que tem mais tratamento­s feitos na própria clínica, por isso profission­ais têm mais dificuldad­e em organizar atendiment­os e estocar materiais

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Zanone Fraissat/ Folhapress Carla Sarni na sede da empresa DocBiz, na zona leste de São Paulo

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