Concentração de gases do efeito estufa na atmosfera atinge recorde, afirma ONU
genebra Os gases responsáveis pelo aquecimento global, alcançaram níveis recorde de concentração na atmosfera em 2017, anunciou a ONU nesta quinta-feira (22), fazendo um apelo por uma ação para inverter essa tendência.
“Os dados científicos são inequívocos. Caso não sejam reduzidas rapidamente as emissões de gases do efeito estufa e, em particular, do CO2 [dióxido de carbono], as mudanças climáticas terão consequências irreversíveis e cada vez mais destrutivas para a vida na Terra”, diz Petteri Taalas, secretário-geral da Organização Meteorológica Mundial (OMM), agência da ONU.
“O período favorável para a ação está prestes a acabar”, afirma Taalas, dias antes da COP24 sobre o clima, que acontece em dezembro, em Katovice, na Polônia.
Nesse encontro, a comunidade internacional deve finalizar o Acordo de Paris para atingir o objetivo de limitar o aquecimento climático a menos de 2°C em relação ao nível da revolução industrial.
“Não podemos ter pessoas com boa saúde, pessoas com acesso à comida, à água potável e a um ar saudável sem atacar as mudanças climáticas”, diz a secretária-geral adjunta da OMM, Elena Manaenkova.
Em comunicado aos Estados nesta quinta, a alta comissária da ONU dos Direitos Humanos, Michelle Bachelet, pediu à comunidade internacional que “tome medidas eficazes, ambiciosas e urgentes” para conter a mudança climática. “Nações inteiras, ecossistemas, povos e modos de vida poderão simplesmente deixar de existir.”
Além do CO2, as concentrações do CH4 (metano) e do N2O (óxido nitroso), também gases do efeito estufa, voltaram a aumentar em 2017, alcançando novos recordes.
“E nada indica inversão desta tendência, que é o fator determinante da mudança climática, da elevação do nível do mar, da acidificação dos oceanos e de aumento do número e da intensificação dos fenômenos meteorológicos extremos”, afirma a OMM.
Os gases-estufa captam parte da radiação solar que atravessa a atmosfera, que, assim, se aquece. O fenômeno cresceu 41% desde 1990. O CO2 é de longe o maior responsável.
“CO2 persiste durante séculos na atmosfera e ainda mais tempo no oceano. Não temos uma varinha mágica para fazer desaparecer o conjunto desse excedente de CO2 atmosférico”, diz Manaenkova.
Sua concentração na atmosfera atingiu 405,5 partes por milhão (ppm) em 2017. No ano anterior, o valor era de 403.3 ppm e em 2015, de 400.1 ppm. “A última vez que a Terra conheceu um teor comparável em CO2 foi há 3 a 5 milhões de anos: a temperatura era de 2°C a 3°C mais elevada, e o nível do mar era superior entre 10 metros a 20 metros em relação ao nível atual”, diz Taalas.
O metano, segundo gás mais importante relacionado ao efeito estufa, também atingiu novo pico —257% do nível da época pré-industrial.
Os especialistas também observaram um recrudescimento inesperado de um poderoso gás do efeito estufa que prejudica a camada de ozônio, o CFC-11 (triclorofluorometano), cuja produção é regida por um acordo internacional.
As concentrações do gás dependem de quantidades emitidas e de interações que acontecem entre a atmosfera, a biosfera, a litosfera, a criosfera e os oceanos. O oceano absorve cerca de 25% das emissões totais, e a biosfera, outros 25%.