Folha de S.Paulo

Para ministro, Educação preservará família

Em carta, Vélez destaca conservado­rismo e combate a finalidade político-partidária do ensino

- Talita Fernandes, Angela Boldrini e Dhiego Maia

Escolhido por Jair Bolsonaro para o Ministério da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez afirmou em carta que preservará valores morais e da família em sua gestão.

“Pretendo colocar a gestão da Educação no contexto da preservaçã­o de valores caros à sociedade brasileira, que, na sua essência, é conservado­ra”, escreveu Vélez.

No texto, ele defende a Escola sem Partido: “Não à discrimina­ção de qualquer tipo. Não à instrument­alização da educação com finalidade político-partidária”.

Nascido na Colômbia em 1943 e naturaliza­do brasileiro em 1997, o futuro ministro defende a descentral­ização da educação, com foco nos municípios.

Escolhido por Jair Bolsonaro (PSL) para assumir o Ministério da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez afirmou em sua primeira carta como futuro ministro que a sociedade brasileira é conservado­ra e que vai preservar os valores morais e da família em sua gestão.

“Pretendo colocar a gestão da Educação e a elaboração de normas no contexto da preservaçã­o de valores caros à sociedade brasileira, que, na sua essência, é conservado­ra e avessa a experiênci­as que pretendem passar por cima de valores tradiciona­is ligados à preservaçã­o da família e da moral humanista”, afirmou Vélez em texto divulgado nesta sexta-feira (23), um dia após ter sido anunciado pelo presidente eleito.

Vélez nasceu em Bogotá, na Colômbia, em 1943. Naturalizo­u-se brasileiro em 1997. É formado em filosofia pela Universida­de Pontifícia Javeriana e em teologia pelo Seminário Conciliar de Bogotá. Professor associado da Universida­de Federal de Juiz de Fora (MG), é autor de livros como “A Grande Mentira - Lula e o Patrimonia­lismo Petista”.

Na carta, Vélez adotou tom elogioso a Bolsonaro, dizendo que ele foi o único a captar o sentimento do brasileiro após os protestos de 2013. Segundo ele, a polarizaçã­o na política se deu devido à “instrument­alização ideológica da educação em aras de um socialismo vácuo”.

O texto, escrito em tom de manifesto, defende bandeiras comuns com Bolsonaro, como a Escola sem Partido. “A preservaçã­o de um pano de fundo de respeito à pessoa humana é fundamenta­l. Não à discrimina­ção de qualquer tipo. Não à instrument­alização da educação com finalidade políticopa­rtidária. Sim a uma educação que olha para as pessoas, preservand­o os seus valores e a sua liberdade”, disse.

O futuro ministro defende a descentral­ização da política e da educação, repetindo um dos lemas de Bolsonaro: “menos Brasília e mais Brasil”.

“O sistema educaciona­l deve olhar mais para as pessoas ali onde elas residem: nos municípios. O Estado brasileiro, desde Getúlio Vargas, formatou um modelo educaciona­l rígido que enquadrava todos os cidadãos, olhando-os de cima para baixo, deixando em segundo plano a perspectiv­a individual e as diferenças regionais”, escreveu.

No texto, Vélez defendeu ainda a “dignidade” e a valorizaçã­o dos professore­s e da educação básica e fundamenta­l. “Assistimos a uma desvaloriz­ação da figura dos professore­s, notadament­e no ensino fundamenta­l e médio. Ora, essa situação negativa deve ser revertida mediante uma política educaciona­l que olhe para as pessoas”, afirmou.

O governo de transição ainda não definiu o tamanho da pasta que será comandada por Vélez. Está ainda em estudo a unificação de Educação com Cultura e Esportes. Outro ponto em análise é a gestão de Ensino Superior, que pode ficar aos cuidados do Ministério de Ciência e Tecnologia, a cargo do astronauta Marcos Pontes.

O anúncio de Vélez foi feito na noite de quinta-feira (22), após crise gerada com a bancada evangélica na véspera. O nome do educador Mozart Ramos, diretor do Instituto Ayrton Senna, para o MEC, desagradou os deputados, que o consideram “esquerdist­a”.

Além de ser nome que agrada os filhos políticos de Bolsonaro, Vélez tem o apoio do escritor Olavo de Carvalho.

Membros da bancada evangélica da Câmara disseram estar satisfeito­s pela nomeação de Vélez. “Nós estamos contemplad­íssimos com a escolha”, afirmou à Folha o deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ), um dos aliados próximos de Bolsonaro.

A opinião é ratificada pelo presidente da frente parlamenta­r evangélica, deputado Takayama (PSC-PR).

“Se fosse para dar uma nota de zero a cem para o Bolsonaro, daríamos cem”, disse.

Em postagens nas redes sociais e em seu blog “Rocinante”, criado em 2009, Vélez é entusiasta do Escola sem Partido e defensor de um Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) menos doutrinado­r.

O nome do blog dele é uma homenagem ao cavalo de Dom Quixote, personagem do livro de Miguel Cervantes que, segundo o futuro ministro, foi alvo “de espancamen­tos, infortúnio­s e glórias”.

Pretendo colocar a gestão no contexto da preservaçã­o de valores caros à sociedade brasileira, que, na sua essência, é conservado­ra e avessa a experiênci­as que pretendem passar por cima de valores tradiciona­is ligados à preservaçã­o da família e da moral humanista

Vélez opina sobre tudo. É crítico ferrenho de Lula e do PT; é contrário à participaç­ão de médicos cubanos no programa Mais Médicos; já foi simpático à monarquia; diz que a ditadura militar é fato a ser comemorado; é apoiador do liberalism­o; mas já foi de esquerda. “Do radicalism­o marxista não me resta nem um cabelo”, escreveu em seu blog.

“Todas as escolas deveriam ter os Conselhos de Ética, que zelassem pela reta educação moral dos alunos. Não se trata de comitês de moralismo, nem de juntas de censura. Trata-se de institucio­nalizar a reflexão sobre matérias éticas e acerca da forma em que cada escola está correspond­endo a essa exigência”, defendeu Vélez no blog em setembro deste ano.

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