Folha de S.Paulo

Desmatamen­to na Amazônia é o maior desde 2008

Ministério do Meio Ambiente atribui alta a câmbio favorável ao agronegóci­o, clima seco e queimadas

- Phillippe Watanabe e Fabiano Maisonnave

O desmatamen­to na Amazônia atingiu o maior nível em dez anos, com 7,9 mil km² de mata derrubada. O número é 13,7% superior ao de 2016-2017. Câmbio favorável ao agronegóci­o, o que estimula abertura de novas áreas, e seca acima da média são explicaçõe­s, diz o governo.

O desmatamen­to na Amazônia voltou a crescer entre 2017 e 2018 e atingiu o maior patamar da última década, com 7.900 km² de floresta derrubados. O número representa um cresciment­o de 13,7% em relação ao período anterior (2016-2017).

Os dados foram divulgados nesta sexta-feira (23) pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) e pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicaçõ­es (MCTIC).

As informaçõe­s são relativas ao Prodes (Projeto de Monitorame­nto do Desmatamen­to na Amazônia Legal por Satélite), sob responsabi­lidade do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).

Na avaliação do MMA, o aumento no desmatamen­to tem quatro motivos principais: sinais de mudança nos ventos políticos, câmbio favorável ao agronegóci­o, o que estimula a abertura de novas áreas, um período de seca mais agudo do que a média e, em decorrênci­a disso, um grande aumento no número de queimadas.

Nas áreas desmatadas, o período pré-eleitoral foi marcado por um forte apoio ao então presidenci­ável Jair Bolsonaro (PSL), um feroz crítico das políticas ambientais e da atuação do Ibama, principal órgão responsáve­l pelo combate ao desmatamen­to.

Durante o período eleitoral de 2018, de agosto a outubro, houve uma explosão no des- matamento amazônico, que cresceu 48,8% em relação ao mesmo espaço de tempo do ano anterior. O monitorame­nto em questão, porém, é relacionad­o ao Deter B, outro projeto do Inpe que acompanha o desmatamen­to quase em tempo real, mas possui menor resolução que o Prodes. De toda forma, os dois sistemas apresentam grande convergênc­ia de informaçõe­s.

Esses dados, contudo, só farão parte do Prodes 2019, pois o sistema considera as taxas anuais de desmatamen­to entre os períodos de agosto do ano anterior e julho do ano atual.

O clima mais seco também teria facilitado o desmate. Usadas para a supressão ilegal da floresta, as queimadas bateram recorde no passado na série do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), iniciada em 1999.

Para ambientali­stas, medidas tomadas pelo governo Michel Temer (MDB), apoiado pela bancada ruralista, também estimulara­m o desmate ilegal. Uma das mais importante­s, sancionada em julho do ano passado, foi o Programa Nacional de Regulariza­ção Fundiária, apelidado de “MP da Grilagem”.

Pela nova legislação, o aumento da área pública grilada passível de regulariza­ção subiu 1.500 hectares (15 km²) para 2.500 hectares (ou 25 km²), a serem pagos a preços bem abaixo do mercado. Além disso, a medida incluiu áreas invadidas ilegalment­e até 2011 —antes, o prazo era 2004.

“Essa medida criou a perspectiv­a de ganhos bilionário­s para invasores de terras públicas”, afirma Paulo Barreto, pesquisado­r da ONG Imazon, que critica outras ações de Temer.

O pesquisado­r aponta falhas no combate ao desmatamen­to ilegal relacionad­o à pecuária, o principal vetor de destruição da floresta.

Barreto lembra que, no ano passado, o então ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho (PV-MA), desculpou-se pela operação do Ibama Carne Fraca, contra frigorífic­os no Pará que compram gado de áreas desmatadas ilegalment­e, entre os quais a JBS.

Ele citou também a falta de colaboraçã­o dos estados amazônicos para fornecer informaçõe­s do GTA (Guia de Trânsito Animal), inviabiliz­ando a fiscalizaç­ão do Ibama.

Desde 2013, os dados de desmatamen­to Prodes vêm apresentan­do uma tendência de cresciment­o. O pico de destruição nesse período ocorreu em 2016, com 7.800 km², o que represento­u um aumento de 29% em relação ao ano anterior.

Em nota, o MMA afirmou que tem feito esforços para combater o desmate na Amazônia, com orçamento reforçado e intensific­ação de ações.

“O Ibama aumentou o número de autuações em 6%, de áreas embargadas em 56%, de madeira apreendida em 131% e de equipament­os apreendido­s 183%, em operações voltadas a ilícitos contra aflora, em relação ao período anterior”, diz a pasta.

O ministério destaca também a ação do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservaçã­o da Biodiversi­dade), que resultou em aumento de 40% em autuações, 20% em áreas embargadas e 40% em apreensões de madeira e equipament­os em áreas de conservaçã­o.

A ONG Observatór­io do Clima( OC) diz que o aumento não surpreende ejáévisíve­ln os dados mensais divulgados pelo governo federal e pelo I maz on(Instit uto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia). Segundo o OC, mesmo com os esforços de fiscalizaç­ão do MMA, o aumento entra para a conta de acenos feitosà bancada ruralista por Temere pelos governos estaduais.

“Aexpect ativa de a nis tiaéo quanto basta para que as quadrilhas que atuam na extração de madeira ena grilagem de terras acelerarem a predação sobre a floresta, e foi isso oques e verificou ”, diz anota.

A ONG Greenpeace e o Observatór­io do Clima também se dizem preocupada­s com o possível impacto que o governo Jair Bolsonaro terá no desmatamen­to. Durante a campanha e depois dela, o presidente eleito atacou a atividade de órgãos ambientais de fiscalizaç­ão e combate ao desmate, como o Ibama.

Para as taxas anuais de desmatamen­to são considerad­as derrubadas maiores do que 6,25 hectares. Os dados apresentad­os são uma estimativa, sendo que a versão consolidad­a só será apresentad­o no primeiro semestre de 2019.

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Carl de Souza - 22.set.17/AFP Área desflorest­ada da Amazônia Legal em setembro de 2017, mês incluído no período recém-analisado

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