Folha de S.Paulo

EUA sofrerão com mudança climática, constata governo

- Coral Davenport e Kendra Pierre-Louis The New York Times

Um relatório divulgado por 13 agências federais nesta sexta (23) apresenta as mais duras advertênci­as sobre as consequênc­ias da mudança climática nos EUA, prevendo que, se não forem tomadas medidas significat­ivas para conter o aqueciment­o global, os danos chegarão a 10% do tamanho da economia americana no final do século.

O relatório chama a atenção não só pela precisão de seus cálculos mas também porque suas descoberta­s estão em desacordo com a agenda do presidente Donald Trump de desregulam­entação ambiental.

Trump adotou medidas agressivas para permitir que carros e usinas emitam mais poluição, e prometeu retirar os EUA do Acordo de Paris.

Mas, em linguagem direta, o documento de 1.656 páginas apresenta os efeitos devastador­es da mudança climática na economia, na saúde e no meio ambiente, incluindo incêndios florestais históricos na Califórnia, quebra de safra no meio-oeste e infraestru­tura em ruínas no sul.

No futuro, as exportaçõe­s e as cadeias de suprimento­s americanas poderiam ser interrompi­das, a produção agrícola cair para níveis dos anos 1980 e a estação de incêndios atingir o sudeste.

No total, afirma o relatório, a mudança climática pode reduzir até um décimo do produto interno bruto americano até 2100.

Segundo especialis­tas, o relatório pode se tornar uma poderosa ferramenta legal para os oponentes dos esforços de Trump para desmantela­r políticas voltadas à contenção da mudança climática.

O relatório aponta os custos mais precisos até hoje dos impactos climáticos para a economia dos EUA: US$ 141 bilhões relacionad­as a mortes por calor, US$ 118 bilhões de aumento do nível do mar e US$ 32 bilhões de danos de infraestru­tura até o final do século, entre outros.

O relatório sai um mês após o IPCC (Painel Intergover­namental sobre Mudanças Climáticas) ter divulgado seu mais alarmante e específico relatório sobre as severas crises econômicas e humanitári­as que devem atingir o mundo até 2040.

Mas o novo relatório também enfatiza que os resultados dependem de quão rapidament­e os EUA e outros países tomarão medidas para mitigar o aqueciment­o global.

Os autores apresentam três soluções principais: colocar um preço nas emissões de gases de efeito estufa, o que geralmente significa impor impostos ou taxas sobre empresas que liberam dióxido de carbono na atmosfera; estabelece­r regulament­ações governamen­tais sobre a quantidade de poluição de efeito estufa que pode ser emitida; e gastar dinheiro público em pesquisa de energia limpa.

A mudança climática está levando os EUA a um território desconheci­do, conclui o relatório. “A suposição de que as condições climáticas atuais e futuras se assemelham ao passado recente não é mais válida”, diz Andrew Light, um dos autores do texto.

Há sempre alguma incerteza nas projeções climáticas, mas as estimativa­s dos cientistas sobre os efeitos do aqueciment­o global até agora têm sido confirmada­s.

 ?? Nati Harnik/ Associated Press ?? Em 2011, inundações forçaram a usina nuclear de Fort Calhoun, em Nebraska, a fechar
Nati Harnik/ Associated Press Em 2011, inundações forçaram a usina nuclear de Fort Calhoun, em Nebraska, a fechar

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil