Folha de S.Paulo

Com R$ 675 mi de dívida, Saraiva pede recuperaçã­o judicial

Rede de livrarias que deve R$ 675 mi tenta medida de curto prazo para garantir Natal e volta às aulas, afirma sindicato

- Eduardo Moura

são paulo Após fechar 20 lojas em todo o país e ter uma proposta de acordo recusada pelo Snel (Sindicato Nacional dos Editores de Livros), a Saraiva entrou com um pedido de recuperaçã­o judicial nesta sexta-feira (23).

Trata-se de mais um capítulo do revés que atinge o ramo livreiro no Brasil.

A centenária rede de livrarias acumula dívida de cerca de R$ 675 milhões.

Com a aprovação do pedido, as dívidas existentes até esta sexta serão suspensas e pagas de acordo com o plano. Caso descumpra o compromiss­o, credores podem pedir a falência da Saraiva.

“A gente reconhece que o ambiente é desfavoráv­el, mas nossas expectativ­as são positivas”, diz Ismael Borges, gestor da Nielsen e responsáve­l pela ferramenta Bookscan. “Não acreditamo­s na hipótese de a Saraiva fechar.”

A Cultura, que junto com a Saraiva domina o mercado de redes de livrarias, entrou com pedido de recuperaçã­o judicial no fim de outubro.

A Saraiva informou, em nota: “Optamos por esse movimento devido à necessidad­e da companhia em buscar proteção para a repactuaçã­o de seu passivo junto aos seus fornecedor­es e garantir a perenidade da operação”.

“É uma questão de ‘timing’. Se tivéssemos negociado na época da Copa do Mundo, teríamos tido tempo”, diz Marcos da Veiga Pereira, presidente da Snel e dono da Sextante.

Para ele, o pedido de recuperaçã­o judicial é uma forma de “estancar a sangria”, ou seja, uma medida de curto prazo para garantir o abastecime­nto de livros para períodos fundamenta­is para a indústria: Natal e volta às aulas. O longo prazo —e como a empresa conseguirá de fato se recuperar—, porém, ainda é incerto. “Depois tem que ver qual é o plano”, diz Pereira.

O comunicado da Saraiva diz que “o plano de recuperaçã­o será apresentad­o aos credores em breve, no momento oportuno”, sem dar detalhes. “O que não está muito claro para ninguém é como vai ser o cotidiano de tudo isso, na pratica”, diz Cassiano Elek Machado, diretor editorial da Planeta.

O mercado funciona, em grande parte, pelo modelo de consignaçã­o, ou seja, as editoras emprestam os livros às livrarias, e só são pagos aqueles que forem vendidos —os pagamentos podem demorar meses para ser efetuados.

Como as duas maiores redes de livraria do país estão em situação financeira periclitan­te, Machado acredita que “editoras não vão querer continuar fornecendo sob o regime de consignaçã­o”.

“A recuperaçã­o judicial não altera, de forma alguma, o funcioname­nto da operação da Saraiva”, diz o comunicado.

O pedido agora será avaliado pela Justiça, o que deve ocorrer ainda neste mês. Laura Bumachar, especialis­ta em direito empresaria­l, diz que esse tipo de processo costuma ser longo. “De nada adianta pedir recuperaçã­o judicial se você não tem como se recuperar.”

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