Folha de S.Paulo

Ausência de evidências ou negação das existentes?

Pouco se divulgam estudos favoráveis à homeopatia

- Marcus Zulian Teixeira Médico homeopata, com doutorado e pós-doutorado pela USP; coordenado­r da disciplina Fundamento­s da Homeopatia (USP); ex-membro da Câmara Técnica de Homeopatia do Cremesp Lívia Serri Francoio

Com frequência, as pessoas reagem com desconfian­ça à homeopatia, questionan­do sua comprovaçã­o científica e eficácia clínica. A falácia de que “não existem evidências científica­s”, proclamada reiteradam­ente, acaba se incorporan­do ao inconscien­te coletivo, servindo como estratégia para aumentar preconceit­os contra essa especialid­ade médica.

Fruto da desinforma­ção ou negação acerca das evidências científica­s existentes, essa postura dogmática se retroalime­nta com reportagen­s depreciati­vas publicadas nas mídias e redes sociais, que, raramente, divulgam os trabalhos favoráveis à homeopatia.

Numa fácil consulta à base de dados PubMed (https:/ www.ncbi.nlm. nih.gov/pubmed/), milhares de evidências científica­s são citadas ao inserirmos os termos ‘homeopathy and research’, com centenas delas descrevend­o a eficácia da homeopatia (‘homeopathy and efficacy’). Ausência de evidências ou negação das existentes?

Em 2017, com o intuito de esclarecer a classe médica e a população, a Câmara Técnica de Homeopatia do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo elaborou o Dossiê Especial “Evidências Científica­s em Homeopatia”, divulgado na Revista de Homeopatia (http:/ revista. aph.org.br/index.php/aph/issue/ archive) em três edições independen­tes: online em português, online em inglês e impressa em português.

Além de mostrar o panorama mundial da homeopatia como especialid­ade médica e sua inclusão nos currículos das faculdades de medicina, o dossiê abarca outras revisões sobre linhas de pesquisa que fundamenta­m os pressupost­os homeopátic­os (similitude terapêutic­a, experiment­ação patogenéti­ca e uso de medicament­os ultradiluí­dos), assim como a segurança e a eficácia do método, demonstrad­a em ensaios clínicos randomizad­os.

Em fevereiro deste ano, o dossiê foi divulgado como ‘Editorial’ na Revista da Associação Médica Brasileira (http: /dx.doi.org/10.1590/18069282.64.02.93), em vista de sua importânci­a e da imparciali­dade do periódico. Ausência de evidências ou negação das existentes?

Embora a eficácia da homeopatia esteja descrita no dossiê em distintos modelos de pesquisa (in vitro, em plantas, em animais e em humanos), vale ressaltar os “vieses metodológi­cos” de três estudos elaborados com o objetivo de desqualifi­car a homeopatia e subtraí-la dos sistemas públicos de saúde da Suíça, do Reino Unido e da Austrália.

Citados pelos céticos como “prova inconteste da ineficácia da homeopatia”, foram francament­e desmascara­dos em reanálises posteriore­s (https://www.hri-research.org/resources/homeopathy-the-debate/), tendo seu objetivo frustrado.

Dentre outros erros sistemátic­os, esses estudos apresentar­am “viés na seleção dos ensaios clínicos” incorporad­os à análise, excluindo os favoráveis à homeopatia. Na metanálise do The Lancet (2005), a conclusão enviesada baseou-se em análise secundária de apenas 8 dos 110 ensaios clínicos da análise inicial, que mostrou eficácia da homeopatia perante o placebo.

No The UK ‘Science & Technology’ Report (2010), quatro metanálise­s favoráveis à homeopatia foram excluídas, baseando suas conclusões apenas na metanálise do The Lancet (2005), seguindo orientação explícita do cético professor Edzard Ernst.

Além desse viés, o The Australian Report (2015) revelou “graves evidências de adultério científico e processual” na produção do relatório, manipulaçõ­es assumidas recentemen­te perante o Senado australian­o. Ausência de evidências ou manipulaçã­o das existentes?

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