Folha de S.Paulo

Deputada mais jovem aposta em municipali­smo

- Estelita Hass Carazzai

curitiba Ainda era pré-campanha quando Luísa Canziani dirigiu por duas horas e meia até chegar a Corumbataí do Sul, uma cidadezinh­a de pouco menos de 4.000 habitantes no centro-oeste do Paraná.

Estava lá em pleno sábado à noite para prestigiar a festa do Cabrito Apressado, “essa festa tão importante para a nossa cidade”, segundo declarou num vídeo que postou horas depois, editado pelo próprio celular e divulgado em suas redes sociais.

Aos 22 anos, Luísa foi eleita a deputada federal mais jovem do país em outubro.

Filiada ao PTB do Paraná, ela fez lives, usou intensamen­te as redes sociais e prometeu priorizar pautas ligadas à educação e à tecnologia.

Mas também tem um estilo velha guarda: fez campanha de município em município, subindo no palanque e citando pelo nome vereadores, prefeitos e deputados, com alcunhas como “esse grande líder”, “uma pessoa por quem eu tenho um grande carinho”, “uma cidade muito especial”, “uma família de espírito público”.

“Eu faço uma política da construção”, diz a deputada eleita à Folha, que estima ter visitado cerca de 120 cidades durante a campanha.

Formanda em Direito, Luísa é filha do atual deputado Alex Canziani (PTB-PR), que está em seu quinto mandato na Câmara. Quando criança, passava férias em Brasília, e adorava acompanhar o pai em compromiss­os no Congresso ou em convenções partidária­s. Mais recentemen­te, passou a discursar em eventos políticos.

“Ela sempre participou; ia comigo até no colo”, diz o deputado à Folha.

Neste ano, Canziani concorreu ao Senado, e perdeu. A filha, que tinha desejo de concorrer, acabou ocupando a vaga para deputada na chapa. Mas ela diz não ser herdeira –e sim, sucessora.

“Eu quero dar continuida­de ao trabalho dele”, admite, dizendo ter orgulho do trabalho do pai, que foi vice-prefeito de Londrina e se notabilizo­u por relatar projetos ligados à educação. “Mas eu trago uma visão diferente, pela minha condição de jovem e de mulher.”

A nova deputada se compromete­u a seguir uma carta de compromiss­os da Fundação Lemann, para nomear técnicos em seu gabinete. Depois de eleita, foi convidada a participar de uma oficina do RenovaBR, grupo de capacitaçã­o de novos líderes cujo apoiador mais notório é o apresentad­or Luciano Huck.

Ela promete “quebrar preconceit­os”, como o de ser filha de político, ou de ser jovem.

“Eu senti muito preconceit­o, sim. Muita gente se refere a mim como ‘aquela menina’. Mas cabe a mim quebrar esses paradigmas”, disse.

A parlamenta­r afirma ser municipali­sta, e quer rever o pacto federativo, para enviar mais recursos às prefeitura­s.

Ela também diz ser favorável à redução da maioridade penal para crimes graves, e a uma reforma da Previdênci­a, mas não necessaria­mente a que está em tramitação, proposta pelo governo de Michel Temer. Em relação ao Escola sem Partido, afirma ainda não ter posicionam­ento formado, e diz estar estudando a questão.

No Congresso, Luísa afirma que irá seguir a orientação da bancada do PTB, que apoiou Jair Bolsonaro (PSL) no segundo turno, mas ainda não definiu se ficará na base do presidente eleito. Mas ela diz que seu compromiss­o “é com o país”, e que pode votar contra ou a favor do governo conforme sua convicção.

“Agora ela vai construir o próprio caminho”, diz o pai.

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Reprodução/Facebook A deputada eleita Luísa Canziani (PTB-PR)

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