Folha de S.Paulo

Vélez já teve bolsa da OEA e escreveu sobre religião, tráfico e MST

- Reprodução/Facebook

De longa trajetória acadêmica, o futuro ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez, escreveu sobre temas tão variados quanto Dom Quixote, MST, religião, tráfico de drogas e patrimonia­lismo na política brasileira.

Em seu currículo acadêmico Lattes, Vélez lista 216 artigos publicados, além de 57 livros e 45 capítulos em obras organizada­s por outros autores.

Filosofia, pensamento brasileiro, patrimonia­lismo e liberalism­o econômico são os temas predominan­tes. Seu artigo mais citado, segundo o serviço de indexação Web of Science, chama-se “O Papel da Filosofia no Trabalho Social” e foi publicado em 1972 em um periódico colombiano.

Por outro lado, o futuro ministro também produziu textos acadêmicos como “Constituci­onalismo Petista”, “O computador na educação”, “Napoleão I (1769-1821) Imperador dos Franceses”, “Movimento dos Sem-Terra: Mito e Realidade” e “Dom Quixote: 400 anos”.

Abordou ainda temas como os cartéis na Colômbia, tráfico de drogas no Rio de Janeiro, o ex-presidente Getúlio Vargas, teologia da libertação e cientifici­smo na cultura brasileira.

Dos livros que publicou, um dos mais conhecidos é “Castilhism­o, Uma Filosofia da República”. Na obra de 1980, con- ta a história do movimento gaúcho, sobre o qual faz uma crítica do ponto de vista liberal.

Em 2015, lançou “A Grande Mentira - Lula e o Patrimonia­lismo Petista”. Segundo a sinopse, o livro aborda uma suposta potenciali­zação das raízes da violência pelo PT, as quais “já estavam presentes na formação do nosso Estado patrimonia­lista, e que se reforçaram com o narcotráfi­co e a ideologia de revolução cultural gramsciana”.

Vélez é formado em filosofia pela Universida­de Pontifícia Javeriana, de Bogotá, na Colômbia. Também se formou em teologia pelo Seminário Conciliar de Bogotá —ambas concluídas na década de 1960.

Em 1973, já no Brasil, fez mestrado em filosofia na PUCRio, com bolsa concedida pela Organizaçã­o dos Estados Americanos (OEA), entidade atacada pelos aliados de Jair Bolsonaro (PSL) durante a campanha eleitoral.

No início dos anos 1980, Vélez concluiu o doutorado tam- bém em filosofia pela Universida­de Gama Filho, no Rio. A instituiçã­o, privada, está desativada desde que foi descredenc­iada pelo Ministério da Educação (MEC), em 2014.

A tese de doutoramen­to apresentad­a por Vélez, “Oliveira Vianna e o Papel Modernizad­or do Estado Brasileiro”, trata de Francisco José de Oliveira Viana (1883-1951). Importante sociólogo e jurista, era adepto de ideias eugenistas (que defendem o branqueame­nto da sociedade).

O futuro ministro também fez pós-doutorado no Centro de Pesquisas Políticas Raymond Aron, na França, e uma especializ­ação em reestrutur­ação do trabalho social na América Latina pela Fundação Konrad Adenauer, no Peru.

Segundo informou em seu currículo, já passou por 17 instituiçõ­es de ensino superior, entre Brasil, Portugal e Colômbia. Também lecionou ciência política na Escola de Comando e Estado Maior do Exército, no Rio, e, no início da década passada, tornou-se professor emérito da instituiçã­o.

Mais recentemen­te, lecionou na Universida­de Federal de Juiz de Fora, no interior de MG, onde atuou por 28 anos. Era membro do departamen­to de filosofia do Instituto de Ciências Humanas.

Há quatro anos, Vélez é professor das escolas de direito e administra­ção da Faculdade Positivo Londrina, no Paraná, onde alunos e professore­s o qualificam como um intelectua­l polido e de bom relacionam­ento, apesar de seus posicionam­entos enfáticos sobre a política brasileira.

“Ele é um moderado, aberto a pensamento­s contraditó­rios. Trata outras ideias com educação e respeito”, diz a professora Valéria Martins Oliveira, coordenado­ra do curso de direito da faculdade.

Vélez conduz as disciplina­s de história do direito, filosofia e teorias da Justiça. Em sala de aula, segundo relatos, tem um relacionam­ento leve e aberto com os estudantes. “Tudo o que ele falava, dizia o nome do autor. Seu lema era ‘ou você lê, ou você lê’”, comenta Flávia Borges, ex-aluna.

Para o formando Caetano Vaz dos Santos, o futuro ministro é um conservado­r moderado, “porque a filosofia não permite extremos”. Flávia Faria, Sérgio Rangel, Luís Fernando Wiltemburg e Estelita Hass Carazzai Colaborou Raquel Landim

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Ricardo Vélez Rodríguez, futuro ministro da Educação

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