Folha de S.Paulo

De sua casa, Nelson Motta fala dos artistas de quem é íntimo em novo programa

- Thales de Menezes

rio de janeiro Jornalista, escritor, roteirista, produtor musical e compositor de mais de 300 canções, em parcerias com Lulu Santos, Rita Lee, Guilherme Arantes e Erasmo Carlos, entre tantos, Nelson Motta, 74, tem muitas histórias para contar. E elas agora passam para a TV a partir deste sábado (23), com a estreia de “Em Casa com Nelson Motta”. Em uma primeira temporada de dez episódios, gravada em seu apartament­o em Ipanema, Nelson conversa com a jornalista Cristina Aragão, supervisor­a de programaçã­o da GloboNews, e elenca relatos protagoniz­ados por ele e por alguns dos maiores nomes da MPB. “Eu tenho de repartir com todo mundo essas coisas que tive o privilégio de viver”, diz. “É uma forma de pagar minha conta com a sorte.”

Ele concorda com Caetano Veloso, para quem Nelson é o único crítico musical que se firmou sem esculhamba­r ninguém. “É verdade. Eu tenho temperamen­to delicado, respeito as pessoas.” Nelson escrevia a respeito do que mais gostava. “O que eu fazia, já naquela época, era curtir e compartilh­ar. Eu era um Facebook humano!”

Na série, ele escolhe falar dos artistas com os quais teve mais intimidade. “Tom Jobim. Lulu Santos, que é meu parceiro da vida. Marisa Monte, que tinha 19 anos quando começamos a trabalhar em seu primeiro show e em seu primeiro disco. E Rita Lee, minha amiga desde sempre.”

Rita é destaque no primeiro programa, quando Nelson conta como surgiu uma parceria que foi sucesso, “Perigosa”, gravada pelas Frenéticas.

“A letra que mandei para a Rita terminava ‘eu vou fazer você ficar louco/ muito louco’, e ponto. Acabava ali. Quando ela me mandou a música gravada, estava lá ‘eu vou fazer você ficar louco/ muito louco/ dentro de mim’.”

A música estourou rapidament­e. “O Brasil todo cantava ‘eu sei que eu sou/ bonita e gostosa’. No Carnaval foi um sucesso total”, lembra. “Um marco, numa época de muita repressão. Foi um drible na censura, do qual me orgulho muito, e devo isso à Rita.”

Entre os gigantes com os quais teve oportunida­de de conviver, alguns nomes estão fora da área musical. Nos episódios, fala de Nelson Rodrigues, com quem chegou a frequentar redações e também as arquibanca­das nos jogos do Fluminense.

Ao comentar que não tem muita disposição para escutar artistas novos, diz que sua longa vivência com mestres faz seu padrão de exigência ser muito alto. E, para ilustrar, recorre a uma tirada de Glauber Rocha.

Lembrou que o cineasta baiano, quando desafiado por Nelson a conhecer um escritor novato, disse: “É melhor que James Joyce?”. Não, não era. “Então não me interessa”, disparou Glauber.

Na série, Nelson ainda abre algum espaço para ídolos que não conheceu pessoalmen­te. “Apesar de tudo, tenho uma memória fabulosa. Por isso, me pedem para falar sobre muitas coisas.” Esse assédio por seus comentário­s gerou um dos episódios mais inusitados da série, dedicado ao “ator de documentár­ios”.

Quando percebeu que quase todos os documentár­ios musicais recentes tinham depoimento­s seus, encontrou nesse exagero uma desculpa para recusar boa parte dos novos convites. “Decidi só falar sobre coisas com as quais tive mesmo um contato pessoal.” Com certeza, já é muita coisa.

 ?? Divulgação ?? Foto de Nelson Motta ao lado de Marisa Monte
Divulgação Foto de Nelson Motta ao lado de Marisa Monte

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil