Folha de S.Paulo

Posto segura queda no preço do combustíve­l

Desde que a Petrobras começou a reduzir valor nas refinarias, margem das revendas já registrou aumento de 27,2%

- Nicola Pamplona

A margem de lucro dos postos brasileiro­s com a venda de gasolina aumentou 27,2% desde que a Petrobras começou a reduzir o preço do combustíve­l nas refinarias, de acordo com a ANP (Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombust­íveis).

O aumento é um dos fatores que vêm impedindo o repasse total da queda da gasolina ao consumidor, ao lado dos impostos estaduais, que ainda não acompanhar­am a redução.

Segundo a ANP, a fatia que fica com os postos chegou na semana passada a R$ 0,542 por litro, o maior valor desde a virada de maio para junho, quando a paralisaçã­o dos caminhonei­ros provocava problemas de abastecime­nto no país.

A alta ocorre em um momento em que a Petrobras pratica cortes sucessivos no preço da gasolina em suas refinarias, acompanhan­do o recuo da taxa de câmbio e das cotações internacio­nais.

Entre 24 de setembro, quando a estatal iniciou o ciclo de cortes, e sexta-feira (16), a queda acumulada era de 28,5%, ou R$ 0,642 por litro.

No mesmo período, as distribuid­oras, que compram gasolina pura da Petrobras e misturam ao etanol antes de revender aos postos, reduziram seus preços em 4,64%, ou R$ 0,198 por litro. Nos postos, porém, a queda é de apenas 1,75%, ou R$ 0,08 por litro.

De acordo com a ANP, a margem dos postos cresceu R$ 0,11 por litro no mesmo período, em movimento contrário ao dos demais elos da cadeia.

Na semana passada, a fatia da revenda represento­u 11,7% do preço final, ante 9,1% na semana de 24 de setembro.

Crítica da pesquisa de preços da ANP, A Fecombustí­veis (federação que representa os donos de postos) questiona os dados e diz que a queda de preços ao consumidor depende também da velocidade dos repasses promovidos pelas distribuid­oras de combustíve­is.

“Esse processo demora um pouco porque as distribuid­oras costumam trabalhar com estoques altos e normalment­e demoram a repassar para a gente, porque vendem primeiro o estoque a preços mais altos”, afirma o presidente da entidade, Paulo Miranda.

Ele diz que, em períodos de alta, os postos costumam segurar repasses diários, comprimind­o duas margens, e o mesmo movimento pode estar acontecend­o no ciclo de baixa. “Essa margem atual não está muito longe da margem histórica”, afirmou.

Os dados da ANP mostram que as margens dos postos se situavam em 12% a 13% do preço final até o fim de 2017, quando se iniciou a escalada de preços nas refinarias em resposta ao aumento do dólar e das cotações internacio­nais.

Em março, caem abaixo de 10% pela primeira vez desde que a ANP passou a compilar os dados, em 2002.

Para o consultor Luiz Henrique Sanches, o movimento pode refletir recomposiç­ão de margens após um período de gasolina cara e forte competição com o etanol. “Os postos estão trabalhand­o com margens muito baixas”, diz ele.

A carga tributária sobre a gasolina também não acompanhou a queda do preço nas refinarias. Pelo contrário, o ICMS vem subindo na maior parte dos estados brasileiro­s, o que funciona para também segurar o repasse da queda de preço para o consumidor.

O ICMS é cobrado sobre um valor definido quinzenalm­ente pelas secretaria­s de Fazenda, conhecido como PMPF (preço médio ponderado ao consumidor final). Sobre esse preço, incide a alíquota, que varia de 25% a 34%, dependendo do estado.

Desde a segunda quinzena de setembro, apenas dois estados não aumentaram o PMPF: Bahia e Pará. Todos os demais e o Distrito Federal elevaram o valor usado como referência para o recolhimen­to do imposto.

As maiores altas foram promovidas pelos estados do Amapá e Ceará —10,97% e 10,31%, respectiva­mente.

Em São Paulo, o PMPF foi elevado em 6,51% desde a segunda quinzena de setembro. Atualmente, o ICMS no estado é cobrado sobre o valor de R$ 4,499 por litro, acima do preço médio verificado pela ANP, de R$ 4,377.

Os estados alegam que definem os valores de acordo com pesquisa de preços nos postos. Ou seja, o ICMS só é alterado depois de os postos baixarem ou aumentarem seus preços.

“Embora o preço de venda da gasolina na refinaria tenha sofrido reduções a partir do mês de outubro, verificamo­s, com base nos documentos fiscais eletrônico­s disponívei­s nos bancos de dados da Secretaria da Fazenda, que essa redução ainda não foi repassada aos preços praticados pelos setores de distribuiç­ão e varejo”, disse, em nota, a Secretaria de Fazenda de São Paulo.

Esse modelo de cobrança é questionad­o pelo setor de combustíve­is, por alavancar movimentos de alta e retardar movimentos de baixa.

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