Folha de S.Paulo

Petróleo fecha abaixo de US$ 60 e pressiona Petrobras e Bolsa de SP

Com oferta elevada, tombo da matéria-prima supera 30% em 2 meses; dólar avança para R$ 3,82

- Tássia Kastner Com o Financial Times e a Reuters

O petróleo despencou mais de 6% nesta sextafeira (23), azedando os mercados financeiro­s em dia de volume reduzido de negócios.

A desvaloriz­ação da matéria-prima, que acumula baixa de mais de 30% desde outubro, quando chegou a valer US$ 86 por barril, pesou também sobre outros produtos e derrubou a Bolsa brasileira. O dólar avançou.

O barril do Brent, referência internacio­nal, fechou esta sexta a US$ 58,80, no menor patamar em mais de um ano.

Nos EUA, o barril WTI caiu 7,6%, para US$ 50,39, no maior recuo percentual diário desde julho de 2015.

Os preços recuam com base em notícias que apontam cresciment­o da oferta acima da demanda. O mercado passou a temer acúmulo de combustíve­l como o que ocorreu em 2015, que levou as cotações para abaixo de US$ 30.

A Agência Internacio­nal de Energia espera que apenas a produção de países não integrante­s da Opep aumente 2,3 milhões de barris por dia em 2018. A demanda por petróleo no próximo ano, por sua vez, deverá crescer 1,3 milhão de barris por dia.

Enquanto isso, parece improvável que a Arábia Saudita, sob pressão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, aceite reduzir a sua produção de petróleo.

Os líderes sauditas vinham discutindo a necessidad­e de cortar a produção, porque o colapso dos preços ameaça o Orçamento do país.

Mas analistas do mercado financeiro dizem que o apoio de Trump ao príncipe herdeiro saudita Mohammed bin Salman, depois do assassinat­o do jornalista Jamal Khashoggi, pode complicar o processo decisório.

“O presidente Trump ofereceu forte apoio político à Arábia Saudita, mas em troca disso ele deseja preços mais baixos”, disse Olivier Jakob, analista da Petromatri­x, na Suíça. “O presidente está pressionan­do para manter os preços baixos por mais tempo, e agora ele tem algum cacife político para isso.”

A pressão de Trump surge em um momento no qual a oferta de petróleo está subindo nos EUA e o cresciment­o econômico mundial começa a arrefecer, o que ajudou a derrubar os preços.

Investidor­es têm mostrado preocupaçã­o com a desacelera­ção da economia global com o agravament­o das tensões comerciais entre Estados Unidos e China, que poderiam reduzir a demanda também por outras matérias-primas, como o minério de ferro.

O preço do produto também se retraiu nesta sexta.

Esse mau humor no mercado de commoditie­s afetou as ações da Vale e da Petrobras e derrubou a Bolsa brasileira.

O papéis preferenci­ais da estatal cederam mais de 3%, para R$ 24,37, enquanto a mineradora se desvaloriz­ou 6,82%, a R$ 50,35 por ação.

O Ibovespa, principal índice acionário do país, cedeu 1,42%, a 86.230 pontos.

O volume de negócios, no entanto, foi de R$ 12,7 bilhões, cerca de 30% abaixo da média dos últimos 30 dias, diz Rafael Passos, da Guide.

Isso tende a tornar os movimentos de mercado mais bruscos, o que explica a baixa na Bolsa brasileira nesta sexta, afirma.

O volume de negócios diminuiu no mercado paulista refletindo o feriado de Ação de Graças nos EUA, na quinta (22), quando não houve negócios por lá. Nesta sexta, o horário de negociação foi reduzido também na esteira do feriado.

As Bolsas americanas recuaram nesta sexta, também sob reflexo das perdas no setor de energia.

O azedume de investidor­es com a queda nos preços de commoditie­s afeta ainda as moedas emergentes, já que a aversão a risco estimula a migração a ativos considerad­os mais seguros, como é o dólar. Ante o real, a moeda americana avançou 0,42%, para R$ 3,8230. Na semana, a alta foi de 2,24%.

Os preços do petróleo devem continuar a impactar os mercados de risco nas próximas semanas, já que paísesmemb­ros da Opep (Organizaçã­o dos Países Exportador­es de Petróleo) e outras nações produtoras, como a Rússia, só devem se reunir no começo de dezembro para discutir novos limites para a produção.

A despeito da pressão do governo americano, os sauditas têm interesse em fazer o preço do petróleo voltar a subir por meio do corte de produção, atualmente em 11 milhões de barris por dia. Isso porque o país precisa de um patamar de US$ 80 por barril para equilibrar o Orçamento.

Analistas dizem que o país pode chegar a um acordo para um corte de produção, inclusive com a Rússia, um de seus aliados mais importante­s, mas que a dimensão da redução deve ser menor que o esperado.

Também existe a possibilid­ade de que os sauditas promovam um corte unilateral de produção, sem acordo formal, para evitar irritar os Estados Unidos.

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