Folha de S.Paulo

Nova fase da Lava Jato mira OAS e fundo de pensão da Petrobras

Primeira etapa sob comando de juíza Gabriela Hardt tem 22 mandados de prisão

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Em nova etapa da Lava Jato, a Justiça Federal no Paraná determinou a prisão nesta sexta-feira (23) de dois expresiden­tes da Petros, fundo de pensão da Petrobras, e do atual do dono da empreiteir­a OAS, César Mata Pires Filho.

É a primeira fase da operação sob responsabi­lidade da juíza Gabriela Hardt, que substitui Sergio Moro, e a 56ª da investigaç­ão deflagrada em 2014 no Paraná.

No total, foram expedidos 22 mandados de prisão por suspeitas de desvios na construção da sede da Petrobras na Bahia. Pires Filho, que era vice-presidente da OAS na época da construção, está em viagem aos Estados Unidos e prometeu se entregar neste domingo (25).

O prédio, apelidado de Torre Pituba, foi construído com recursos da Petros com a finalidade de ser alugado pela companhia. O custo estimado do projeto foi de R$ 1,3 bilhão —dos quais R$ 68 milhões foram desviados em pagamento de propina, segundo o Ministério Público Federal.

Os ex-presidente­s da Petros presos preventiva­mente são Luis Carlos Fernandes Afonso e Carlos Fernando Costa. Outro ex-dirigente do fundo de pensão, Newton Carneiro da Cunha, também teve a prisão preventiva decretada.

Também foi alvo da operação Valdemir Garreta, ex-dirigente petista e responsáve­l pelo marketing de campanhas eleitorais do partido. Ele foi preso temporaria­mente (por cinco dias), em São Paulo, suspeito de intermedia­r pagamentos em prol do PT.

Entre os presos está também o sindicalis­ta Armando Ramos Tripodi, que foi chefe de gabinete da presidênci­a da Petrobras e diretor da Federação Única dos Petroleiro­s.

Construída sob medida pela Petros para abrigar escritório­s da Petrobras em Salvador, a Torre Pituba estava orçada inicialmen­te em R$ 320 milhões. Ao final, só a construção custou cerca de R$ 747 milhões. “Era um valor inicialmen­te palatável, dentro dos percentuai­s de investimen­to permitidos pela Petrobras. Mas depois, imediatame­nte, já incluíram itens”, afirmou a procurador­a Isabel Vieira Groba.

O aluguel mensal para a Petrobras gira em torno de R$ 6,5 milhões, segundo o MPF. O contrato com a Petros tem validade de 30 anos, no valor total de R$ 1,4 bilhão.

Segundo a PF, os valores, tanto do aluguel quanto da construção, foram superfatur­ados “para viabilizar o pagamento de vantagens indevidas para agentes públicos da Petrobras e dirigentes da Petros”.

“Todos os contratos [para construção e gerenciame­nto da obra] foram precedidos de procedimen­tos fraudados. A fraude estava instalada dentro da Petros”, disse Groba.

Segundo o despacho da juíza, Pires Filho “se envolveu pessoalmen­te nos contratos fictícios celebrados” pela empreiteir­a para viabilizar o repasse de valores indevidos. De acordo com a decisão, ele ainda é suspeito de ter autorizado o pagamento de propinas na obra.

O prédio foi erguido pela OAS e Odebrecht —ambas investigad­as na Lava Jato. Delações de executivos ajudaram a fundamenta­r a apuração.

A cunhada do ex-tesoureiro do PT João Vaccari, Marice Correa de Lima, também foi detida temporaria­mente sob suspeita de intermedia­r repasses para o partido dentro do esquema.

A operação foi batizada de Sem Fundos, numa alusão ao “saco sem fundos” de crimes investigad­os na Lava Jato, disse a PF.

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Edson Ruiz 28.set.15/Coofiav/ Folhapress Torre Pituba, que foi construída em Salvador para abrigar sede da Petrobras e virou alvo de nova etapa da Lava Jato

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