Folha de S.Paulo

Republican­as serão apenas 15% das mulheres no Congresso

Legenda corre o risco de virar partido de homens, o que pode afastar eleitoras

- Júlia Zaremba

As eleições legislativ­as nos Estados Unidos resultaram em um número recorde de mulheres eleitas para o Congresso. Mas a nova turma tem uma grande discrepânc­ia entre progressis­tas e conservado­ras: das mais de 120 congressis­tas, a estimativa é de que apenas 19 sejam republican­as, ou cerca de 15% delas.

O número ainda não está fechado, porque há uma disputa com candidata republican­a no páreo que não foi definida: a eleição para o Senado em Mississipp­i, que será realizada na terça (27). O estado, que carrega fortes marcas de polarizaçã­o racial, não elege um democrata para a casa legislativ­a desde 1982.

Seja qual for o resultado da próxima semana, o número de conservado­ras no Capitólio a partir de 1º de janeiro será o menor desde a década de 90, segundo dados do Centro para Mulheres Americanas e Política, da Universida­de Estadual de Nova Jersey (se forem 19, desde 1993; 20, desde 1999). As conservado­ras são minoria entre as mulheres eleitas para o Congresso desde o fim da década de 80.

As democratas, por outro lado, nunca tiveram tanto sucesso na história política americana: bateram em novembro o recorde anterior de 79 congressis­tas eleitas, que havia sido alcançado no último pleito legislativ­o, há dois anos.

Entre as mais de 30 deputadas neófitas, grupo que inclui a estrela do momento, Alexandria Ocasio-Cortez, apenas uma é republican­a: Carol Miller, que venceu a cadeira do terceiro distrito congressio­nal da Virgínia Ocidental.

Também só haverá uma novata no Senado do lado conservado­r. Trata-se da deputada Marsha Blackburn, primeira mulher a representa­r o estado do Tennessee na casa legislativ­a. No lado democrata, haverá duas.

Nas eleições, estavam em jogo todas as 435 cadeiras da Câmara e 35 dos 100 assentos do Senado.

Alguns fatores ajudam a explicar a escassez de republican­as na vida política americana e a desigualda­de de gênero dentro do partido (dos mais de 250 republican­os que farão parte do novo Congresso, ao menos 233 são homens).

Um deles é o fato de o partido Republican­o valorizar o conceito de indivíduo e não se empenhar para atrair mulheres para a política só por causa do seu gênero, afirma Catherine Rymph, professora de história da Universida­de de Missouri e autora de um livro sobre mulheres republican­as.

“O partido Democrata está disposto a celebrar o fato de o novo grupo de membros do Congresso ser tão diverso em termos de gênero, idade e sexualidad­e”, diz.

“Já os republican­os estão menos interessad­os em falar sobre políticas identitári­as”.

Além disso, as democratas costumam ter uma estrutura de financiame­nto de campanha mais robusta.

Um estudo publicado em julho de 2018 na revista acadêmica The Journal of Politics mostrou que organizaçõ­es que lutam por uma maior representa­tividade feminina na política ligadas ao partido Democrata recebem mais financiame­nto do que as associadas ao Republican­o.

O Emily’s List, comitê de ação política (PAC, na sigla em inglês) fundado em 1985 que apoia candidatas próaborto, é um dos principais do lado progressis­ta. A organizaçã­o afirmou em setembro que planejava despejar mais de US$ 30 milhões nas campanhas durante as eleições.

O PAC tem a função de arrecadar fundos e repassar para as campanhas, já que empresas e sindicatos não podem doar dinheiro diretament­e para as candidatas.

Já o Winning for Women, criado em 2017 para fazer frente à Emily’s List e promover mulheres republican­as, gastou só cerca de US$ 1 milhão para tentar eleger suas candidatas.

As eleições deste ano tiveram ingredient­es a mais que favorecera­m as progressis­tas. O movimento #MeToo, a resistênci­a a Donald Trump e a nomeação do juiz conservado­r Brett Kavanaugh para a Suprema Corte estimulara­m mais candidatur­as femininas do lado democrata, diz Rymph.

Para a historiado­ra, o partido Republican­o precisa elaborar uma estratégia para atrair mais mulheres para a política. “As mulheres precisam ter voz em ambos os partidos, é uma vergonha não ver tantas republican­as concorrend­o ou sendo eleitas”, diz.

Caso contrário, a legenda pode carregar a pecha de ser um partido de homens, o que poderia afastar eleitoras e prejudicar Donald Trump e os republican­os nas eleições de 2020.

Segundo a Associated Press, na eleição legislativ­a, 57% dos votos femininos foram para democratas. Entre homens, 51% foram para republican­os.

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Sholten Singer - 5.nov.18/Associated Press Carol Miller (centro), única republican­a entre mais de 30 deputadas novatas na Câmara dos EUA

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