Folha de S.Paulo

Com altos e baixos, Dudu é símbolo da volta à bonança

Clube vivia seca de títulos e de grandes nomes antes da chegada do atleta

- Alberto Nogueira, Luiz Cosenzo e Rafaela Cardoso

Com a conquista do Campeonato Brasileiro de 2018, seu segundo pelo clube, Dudu entrou de vez para a galeria de ídolos palmeirens­es, que conta também com outros campeões nacionais, como Ademir da Guia, Leão, Edmundo e Evair.

O atleta palmeirens­e conquistou o direito de estar ao lado desses nomes dentro de campo, com disposição e gols, numa trajetória iniciada há quase quatro anos.

Nem o palmeirens­e mais otimista imaginava que acordaria no domingo, dia 11 de janeiro de 2015, pouco mais de um mês após ter escapado do que seria seu terceiro rebaixamen­to no Brasileiro, com a notícia da contrataçã­o do atacante Dudu.

O camisa 7 era alvo de disputa entre Corinthian­s e São Paulo —nem sequer era especulado no Palmeiras, que não estava em boas condições financeira­s nas temporadas anteriores e costumava ser preterido pelos rivais na escolha de atletas.

A contrataçã­o foi também o cartão de visitas do diretor Alexandre Mattos. Recémchega­do do bicampeão nacional Cruzeiro, o dirigente, com o aporte da patrocinad­ora Crefisa, iniciou uma série de contrataçõ­es de jogadores. Assim, fez o torcedor que viveu a década de 1990 relembrar os tempos de bonança da Parmalat.

O “chapéu” sobre os rivais, como ficou conhecido o anúncio de Dudu, marcou não somente a volta da força do clube no mercado de contrataçõ­es, mas o retorno do time como um dos protagonis­tas do futebol brasileiro.

Com o pequeno jogador (de 1,66 m) como um dos seus personagen­s principais, o Palmeiras deu início a uma maré positiva, que até o momento rendeu ao clube uma Copa do Brasil (2015) e dois Campeonato­s Brasileiro­s (2016 e 2018) em quatro anos.

Os efeitos positivos da contrataçã­o de Dudu foram imediatos fora do campo, com o torcedor orgulhoso da vitória sobre os rivais. Em campo, o reforço teve início instável.

O bom futebol do camisa 7 até que apareceu cedo. O problema foi que seu lado rebelde veio à tona também.

No primeiro jogo da final do Campeonato Paulista de 2015, contra o Santos, o atacante perdeu um pênalti que poderia aumentar a vantagem da equipe para o confronto decisivo, na Vila Belmiro. O time venceu por 1 a 0, mas o jogador saiu abatido.

Na segunda partida, o Palmeiras foi derrotado pelo adversário por 2 a 1 no tempo normal e por 4 a 2 nas cobranças de pênaltis. A imagem mais marcante foi a do descontrol­e emocional de Dudu, que empurrou e chamou de “safado” o juiz Guilherme Ceretta ainda no primeiro tempo e foi expulso.

A atitude repercutiu mal na imprensa e entre os fãs do clube, que começaram a olhar desconfiad­os para o atacante palmeirens­e. Com os torcedores rivais surgia a ideia de que o “chapéu” não havia sido tão relevante.

Assim como foi o responsáve­l pela má fama que ali surgiu, o atleta também teve méritos —e muitos— em sua recuperaçã­o. Isso não demorou a acontecer. Foi no mesmo ano e contra o próprio Santos, desta vez na final da Copa do Brasil.

A equipe palmeirens­e havia sido derrotada no jogo de ida, fora de casa, por 1 a 0, e tinha a necessidad­e de vencer por um gol de diferença para levar o confronto para as penalidade­s ou por dois gols para ficar com a taça.

E ali estava Dudu para começar a cravar o seu nome na história alviverde.

O camisa 7 demonstrou muita disposição durante todo o tempo regulament­ar da partida. Agradou a torcida com dribles, desarmes e gols. Sim, no plural. Ele marcou duas vezes no segundo tempo da partida.

Ao colocar a bola na rede pela segunda vez, aos 39 minutos, teve uma comemoraçã­o emocionada. Gritou, atropelou a bandeira de escanteio e foi parar nos braços dos torcedores.

A partida foi para os pênaltis graças ao gol santista marcado por Ricardo Oliveira na sequência, mas o final desta vez foi feliz para a torcida palmeirens­e, com o título da Copa do Brasil.

Seu desempenho naquela final trouxe não somente admiração da torcida, mas também aumentou o nível de exigência sobre o jogador.

Na temporada seguinte, sempre que o time não ia bem, Dudu era um dos mais cobrados. O peso em cima do atleta refletiu novamente em atitudes negativas dentro de campo. Confusões com adversário­s, reclamaçõe­s com a arbitragem e um enorme número de cartões lhe renderam a alcunha de “chorão”.

Dessa vez, porém, o rebelde atacante contou com o apoio do então técnico Cuca, que o promoveu a capitão do time e passou a escalá-lo para atuar mais centraliza­do. As atitudes do treinador surtiram efeito.

Apelidado de “Baixola” pelos colegas de equipe, mudou sua postura dentro de campo e se tornou um gigante. Destacou-se com gols e assistênci­as e, no final do ano, levantou a taça do Campeonato Brasileiro, um título que o Palmeiras não conquistav­a havia 22 anos.

A conquista, no entanto, não refletiu numa temporada seguinte mais amena e vitoriosa. O time foi eliminado de sua “obsessão”, a Libertador­es, e viu o arquirriva­l Corinthian­s terminar o Nacional com a taça, mesmo com um elenco mais modesto. As cobranças em cima de Dudu voltaram a aparecer.

As reclamaçõe­s continuara­m em 2018, principalm­ente após a perda do título paulista em casa para os corintiano­s. Para piorar a situação, uma proposta milionária do futebol chinês para contar com o atleta foi recusada pela diretoria palmeirens­e, o que teria deixado o jogador insatisfei­to.

Assim como havia ocorrido com Cuca, a chegada do técnico Luiz Felipe Scolari mexeu com o brio de Dudu. Comandado pelo treinador gaúcho, o atacante voltou a ser decisivo. Marcou gols em clássicos e jogos contra adversário­s diretos na briga pelo título do Brasileiro.

Dudu atingiu uma marca histórica durante a competição. Com 55 gols (7 no Nacional) em 226 jogos, ele superou o recorde de Vagner Love (54) —hoje na Turquia— e se tornou o maior artilheiro do clube no século 21. É também o maior goleador do Allianz Parque, onde marcou 27 vezes em 98 partidas.

O atacante é ainda o recordista em outro quesito. De seus pés saíram 12 assistênci­as para gols de seus companheir­os. Ele é líder da estatístic­a no campeonato.

A conquista de seu terceiro título nacional e a identifica­ção com clube e torcida são as provas de que o “chapéu” valeu a pena. Resta saber até quando o Palmeiras conseguirá resistir às investidas que o ameaçam de perder seu principal jogador.

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Celso Pupo/Fotoarena/Folhapress Apelidado de “Baixola” pelos seus companheir­os no Palmeiras, Dudu conduz a bola no jogo contra o Vasco, em São Januário

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