Folha de S.Paulo

Felipão, 70, supera desconfian­ça e lidera arrancada da equipe

Contratado em julho, técnico buscava vencer Copa do Brasil e Libertador­es, mas levou a melhor no Brasileiro

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Visto com desconfian­ça quando contratado, em julho deste ano, Luiz Felipe Scolari, 70, é o maior símbolo da virada do Palmeiras no Brasileiro, que culminou com a conquista do título neste domingo (25).

Na época da sua chegada, a equipe era apenas figurante na disputa pelo troféu. Após a derrota para o Fluminense, pela 15ª rodada, o time caiu para a sétima colocação e ficou oito pontos atrás do Flamengo, então líder.

Roger Machado foi demitido, e Felipão, contratado. Na sequência, o time alviverde reagiu. Embalou a maior sequência invicta da história dos pontos corridos —22 jogos — e sagrou-se campeão, algo considerad­o improvável há quatro meses.

A busca pelo técnico pentacampe­ão mundial foi uma aposta na sua especialid­ade em torneios de mata-mata. Com o Palmeiras em situação difícil no Brasileiro, na época a esperança para salvar a temporada era ganhar a Copa do Brasil ou a Libertador­es, principal obsessão da torcida.

Felipão tem histórico positivo nas duas competiçõe­s. Venceu o mata-mata brasileiro em quatro oportunida­des (1991, 1994, 1998 e 2012), as duas últimas pelo Palmeiras, e o continenta­l em outras duas (1995 e 1999), a segunda pelo time alviverde. O técnico, porém, nunca havia sido campeão brasileiro na era dos pontos corridos.

“Estamos trazendo um perfil vencedor, um técnico que tem amplo conhecimen­to dos valores do Palmeiras, das competiçõe­s que estamos disputando. Esperamos um time que tenha bastante entrega, uma postura diferente daquela que vínhamos tendo”, afirmou o presidente do Palmeiras, Maurício Galliote, em agosto.

Felipão chegou também com a incumbênci­a de melhorar o clima no vestiário. Dudu demonstrav­a irritação com Roger, enquanto Lucas Lima não conseguia reeditar o futebol apresentad­o no Santos. O elenco, um dos mais fortes do país, também era pouco usado pelo antigo comandante.

Com a sequência de jogos em três torneios, o técnico praticamen­te montou dois times. Um para o Campeonato Brasileiro e outro para Copa do Brasil e Libertador­es. Assim, nomes que tinham poucas oportunida­des com Roger Machado, começaram a ser usados com frequência, como Mayke, Victor Luís, Gustavo Gómez, Luan e Deyverson.

“O Roger fez um grande trabalho, mas o Felipão mudou o ambiente”, disse o meia Lucas Lima.

Dessa forma, o Palmeiras chegou às seminais da Copa do Brasil e da Libertador­es. Ao mesmo tempo, o time arrancou no Nacional e entrou definitiva­mente na briga pelo título com a vitória sobre o Corinthian­s, quando a diferença para o líder Internacio­nal caiu para três pontos.

Nas copas, porém, o Palmeiras não conseguiu chegar aonde gostaria. Parou diante do Cruzeiro na Copa do Brasil e no Boca Juniors na Libertador­es.

Entre os jogos contra o time argentino, em outubro, Felipão teve que mostrar o seu lado motivador. Três dias após a derrota em Buenos Aires, ele fez o time se concentrar no Brasileiro e arrancar um empate contra o Flamengo no Maracanã. Assim, a diferença, que poderia cair para dois pontos, permaneceu em quatro.

Na rodada seguinte, três dias após a desclassif­icação do torneio sul-americano, o Palmeiras alcançou uma vitória crucial sobre o Santos.

Com a vantagem na liderança, o técnico montou o time para que encarasse cada partida como uma decisão.

Felipão já havia faturado a competição com o Grêmio, em 1996. Na época, a fase final do torneio tinha o formato mata-mata.

“Tínhamos a pretensão de seguir em frente em todas as competiçõe­s. Fomos até a semifinal da Libertador­es e também da Copa do Brasil, que há muito tempo o Palmeiras não chegava, mas não conseguimo­s passar. Eu não esperava essa situação no Brasileiro, esperava passar na Libertador­es e na Copa do Brasil, e não passei”, disse Felipão recentemen­te.

O título faz o profission­al afastar a sombra de técnico ultrapassa­do que passou a acompanhá-lo nos últimos anos, principalm­ente após a goleada de 7 a 1 sofrida contra a Alemanha, na semifinal da Copa do Mundo de 2014, disputada no Brasil.

Após o Mundial, Felipão teve passagem pelo Grêmio, onde ficou 11 meses e não venceu nenhum título. Em 2015, trocou o time gaúcho pelo Guanzhou Evergrande, da China. Ficou dois anos e meio e ganhou sete títulos, três deles de pontos corridos. Ele já havia conquistad­o um nesse formato pelo Bunyodkor, do Uzbequistã­o.

Agora, terá a chance de se tornar o treinador com mais pontos conquistad­os em um turno do Brasileiro.

O recorde é de Fábio Carille, que somou 47 na primeira metade da competição do ano passado, com o Corinthian­s. Para atingir a marca, o Palmeiras terá que ganhar do Vitória, no domingo (2), no Allianz Parque, pela última rodada. AN, LC e RC

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Nayra Halm/Fotoarena/Folhapress Felipão é jogado para o alto por jogadores do Palmeiras

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