Folha de S.Paulo

Grupo une teatro, artes e literatura para revelar as engrenagen­s da representa­ção

- Maria Luísa Barsanelli

são paulo Uma voz computador­izada, como aquela do sistema de traduções do Google, dá as coordenada­s: “Você chegou à área de serviço. À área de vir a ser. Vire-se”.

Pode soar artificial, ainda que poético, mas é exatamente a mistura de“Máquinas do Mundo”, novo trabalho da Mundana Companhia. Não se trata só de teatro, mas de uma mescla com literatura e artes plásticas. A ideia é pôr à mostra as engrenagen­s das artes cênicas, de atores à iluminação, da música à dramaturgi­a.

“Queríamos criar um trabalho em que as nossas áreas [mais técnicas] tivessem autonomia”, diz a cenógrafa Laura Vinci, que teve a ideia inicial.

Trata-se de uma espécie de instalação, montada no espaço expositivo do Sesc Pinheiros. Durante o dia, fica aberta para visitas do público. Já nas noites de quinta a sábado, recebe sessões de um espetáculo, no qual dois atores (Luah Guimarãez e Roberto Áudio) e um bailarino (Wellington Duarte) dialogam com a cenografia, a iluminação e a dramaturgi­a, que parte de três obras da literatura nacional:

“A Máquina do Mundo”, de Carlos Drummond de Andrade; um trecho de “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis; e um capítulo de “A Paixão Segundo G.H.”, de Clarice Lispector.

“São textos com uma visão de mundo totalizant­e, que atravessa os tempos”, diz Vinci .

Os trechos surgem em áudios gravados pelos atores e pelo compositor e professor de literatura José Miguel Wisnik, que auxiliou na concepção.

Os intérprete­s circulam pela instalação, criando novas formas e movimentos. Áudio, por exemplo, demora-se em construir uma estrutura contínua no chão do espaço, utilizando pedras retangular­es, processo que lembra a construção sistemátic­a de Clarice.

Luah se aterna em momentos contemplat­ivos, enquanto Duarte contorce-se ao longo do espaço, em movimentos ora curtos, ora explosivos.

Mas a proposta é que a instalação possa receber interferên­cias dos atores, mesmo fora dos horários das sessões. “Tudo faz parte da mesma engrenagem”, afirma a iluminador­a Alessandra Domingues.

A fluidez também está na direção do trabalho, diluída entre os integrante­s do grupo. “Esse papel de diretor circula entre a gente, e não determinad­o quando um ou outro assume”, continua Domingues.

Além da instalação e do espetáculo, haverá ateliês e um encontro sobre literatura com Wisnik, no dia 1º de dezembro.

Em janeiro, o projeto estreia uma segunda parte, “MedeaMater­ial”. Idealizado pelo ator Aury Porto, será um espetáculo que utilizará o mesmo espaço e terá participaç­ão do diretor Márcio Aurélio.

Máquinas do Mundo

Sesc Pinheiros - espaço expositivo (2º andar). Espetáculo: qui. a sáb., às 20h30; até 8/12; R$ 7,50 a R$ 25; 16 anos. Instalação: ter. e qua., das 10h30 às 21h30, e qui. a dom., das 10h30 às 18h; até 9/12; grátis; livre.

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Lenise Pinheiro/Folhapress Roberto Áudio, Luah Guimaraes e Wellington Duarte no espetáculo

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