Folha de S.Paulo

Galeria em NY exibe experiment­os da fase inicial da carreira de Hélio Oiticica

Exposição mais intimista mostra trabalhos que antecipam investigaç­ões tridimensi­onais do artista

- Danielle Brant

Um ano depois de ocupar dois andares no museu Whitney, em Nova York, o carioca Hélio Oiticica ganha uma exibição mais íntima na galeria Lelong & Co., com dois quadros da série Metaesquem­as expostos pela primeira vez nos Estados Unidos.

As quase 20 obras foram produzidas entre 1955 e 1959 e fazem parte da mostra “Spatial Relief and Drawings” (relevo espacial e desenhos, em tradução livre).

A exposição fica em cartaz até 22 de dezembro.

São trabalhos do Grupo Frente e da série “Metaesquem­as”, que antecipam as investigaç­ões tridimensi­onais que marcariam a fase Relevo Espacial do artista.

No Grupo Frente, no qual entrou aos 18 anos, ele conheceu as artistas plásticas Lygia Clark e Lygia Pape.

As experiment­ações com esculturas da primeira serviriam como inspiração para algumas obras de Oiticica, que acabou mergulhand­o nesse campo mais que a própria colega.

Segundo Mary Sabbatino, vice-presidente e sócia da Galerie Lelong & Co., a proposta era aproveitar a ampla exposição de Oiticica no museu Whitney e dar ao público a chance de descobrir um novo olhar sobre o trabalho do artista brasileiro.

No Whitney, a exposição “To Organize Delirium” percorreu toda a carreira de Oiticica, narrando a influência da ditadura e suas tentativas de atrair uma faixa mais popular para sua obra, em contraposi­ção a uma hostilidad­e cada vez maior da classe que dominava o país.

Na galeria nova-iorquina, o Brasil que serve de inspiração a Oiticica ainda é democrátic­o, e o artista leva na bagagem a influência do Grupo Frente.

“A mostra evidencia nossa compreensã­o da fase inicial da carreira de Oiticica, que levou, mais tarde, a suas investigaç­ões do espaço tridimensi­onal”, explica Sabbatino.

Após o grupo se desfazer, Oiticica continuou a criar inovações em cores, linhas e formas em seus Metaesquem­as e Relevos Espaciais, complement­a.

Alguns desses experiment­os estão na mostra. Há dois quadros da série Sêco, ambos de 1957, em que os objetos pintados com tinta guache preenchem os espaços de forma a criar a sensação de profundida­de e perspectiv­a.

Dois exemplares de tamanho maior da série “Metaesquem­as” de 1958, inéditos nos EUA, também estão na mostra. São composiçõe­s de pinturas pretas sobre uma superfície bege, com tamanhos e inclinaçõe­s que conferem ao quadro movimento.

“Temos orgulho de trabalhar com o Projeto Hélio Oiticica no Brasil para preservar seu legado, o que inclui exibir trabalhos que nunca foram mostrados nos Estados Unidos”, diz Sabbatino.

Com os “Metaesquem­as”, Oiticica explora a geometria e o espaço e ensaia romper os limites impostos pela moldura dos quadros.

Em outros quadros da mostra, essa busca por linhas e cores que tentam extrapolar o espaço fica igualmente evidente. O artista experiment­a tons mais vibrantes e outros mais frios, enquanto que, nas formas, dá mais ênfase a retas, em detrimento das curvas —há exceções, como em três quadros sem título de 1955.

Movimento também é o que Oiticica queria alcançar com a única obra de Relevo Espacial exposta em Nova York. São pedaços de madeira pintados de amarelo que, a exemplo do que buscava Lygia Pape, exigem a interação do público para ganhar sentido.

A mostra termina no final dos anos 1950, antes de o artista explorar o neoconcret­ismo e de desenvolve­r mais suas estruturas tridimensi­onais em núcleos ou ambientes multissens­oriais como em “Tropicália” e “Penetrável”.

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Divulgação Obra sem título de Hélio Oiticicaex­posta na galeria Lelong &Co., em Nova York

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