Governo faz acordo para reduzir até 62% do açúcar em alimentos
Um acordo firmado entre governo e indústria de alimentos prevê reduzir em níveis de até 62,4% a quantidade de açúcar em algumas categorias de alimentos, como biscoitos, bolos, refrigerantes, achocolatados e iogurtes.
A redução máxima varia conforme a categoria. O grupo com a maior redução prevista é o de biscoitos recheados (até 62,4%, valor previsto para rosquinhas). Em seguida, estão produtos lácteos, com redução prevista em até 53,9%, seguido de misturas para bolos (até 46,1%), refrigerantes (33,8%) e, por último, achocolatados (10,5%).
A redução deve ser gradual até 2022. Somadas as metas, o acordo prevê retirar 144 mil toneladas de açúcar nestes alimentos, conforme adiantou nesta segunda-feira (26) a coluna Mônica Bergamo, da Folha.
A possibilidade de redução já era alvo de estudos desde julho do ano passado. Negociações com o setor, no entanto, acabaram por atrasar a definição das metas, previstas inicialmente para serem anunciadas no fim de 2017.
O objetivo do acordo é diminuir o alto consumo de açúcar, tido como fator de risco para obesidade e doenças crônicas não transmissíveis, como diabetes.
A OMS (Organização Mundial de Saúde) recomenda que cada brasileiro reduza o consumo de açúcar para até 25g por dia. Já o máximo recomendado é de 50g por dia.
O brasileiro, porém, consome hoje cerca de 80 gramas de açúcar ao dia. Segundo o ministério da Saúde, 64% desse total é equivalente a açúcares adicionados aos alimentos, enquanto o restante está presente em alimentos industrializados.
Já a indústria dá valores diferentes: 56,3% dos açúcares são adicionados pelo consumidor, e só 19,2% são adicionados pela indústria. Os demais são intrínsecos ao alimento, informa.
O acordo foi registrado com quatro associações que representam o setor produtivo. São elas a Abia (Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação), Abir (Associação Brasileira das Indústrias de Refrigerantes e de Bebidas não Alcoólicas), Abimapi (Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias, e Pães e Bolos Industrializados) e Viva Lácteos. Juntas, representam 68 empresas e 87% do mercado.
As metas devem ser monitoradas a cada dois anos. Questionados, ministério e indústria não divulgaram as metas parciais.
Segundo a pasta, o acordo envolve 2.397 produtos. Destes, apenas 47,8% precisariam reduzir os índices. Os demais já estariam dentro da média geral ou abaixo da meta.
Ainda de acordo com o ministério, a retirada de 144 mil toneladas de açúcar representa 2% da quantidade total desse ingrediente se considerados todos os produtos no mercado —alguns, porém, teriam redução maior, e outras, menor.
Os dados reforçam uma preocupação comum entre entidades de defesa do consumidor, que têm criticado esse modelo de acordo, já usado para redução de sódio, por avaliar que as metas acordadas costumam ser tímidas.
Outro temor é que a medida dê margem para que a indústria passe a anunciar os produtos como “saudáveis” —ainda que seu consumo em excesso seja prejudicial.