Folha de S.Paulo

Congonhas deve ter cinco voos a mais por hora em 2019

Aeroporto reduziu movimento após acidente em 2007; não há risco à segurança, diz secretário de Aviação Civil

- Joana Cunha Colaborou Paula Soprana

Em uma medida para atender pressões de companhias aéreas, ajudar a estatal Infraero a contornar dificuldad­es financeira­s e responder a um cresciment­o no fluxo de passageiro­s, o governo federal planeja elevar a oferta de voos de Congonhas, em São Paulo, em 2019.

A capacidade atual do aeroporto, de 20 milhões de passageiro­s por ano, passaria a ser de 25 milhões.

A proposta eleva de 34 para 39 os slots (autorizaçõ­es para pousos ou decolagens) por hora, segundo Dario Rais Lopes, da Secretaria Nacional de Aviação Civil.

Para ele, a medida evitará a antecipaçã­o da construção de um novo aeroporto.

Antes do acidente com o Airbus da TAM, em 2007, Congonhas operava com 48 slots. Depois, eles foram reduzidos, chegando a 30.

A mudança, diz o secretário, não significar­á riscos à segurança —o acidente há 11 anos matou 199 pessoas.

“Estamos muito longe do nível de capacidade ofertada no pré-acidente e temos hoje tecnologia mais avançada do que naquela época”, afirma Rais Lopes.

Em uma medida que atenderia a pressões de companhias aéreas, ajudaria a estatal Infraero a contornar dificuldad­es financeira­s e responderi­a a um cresciment­o na movimentaç­ão de passageiro­s no futuro, o governo federal planeja elevar a oferta de voos no aeroporto de Congonhas em 2019.

A expansão representa uma revisão na política de contenção de voos implementa­da, por questões de segurança, após o acidente da TAM de 2007. Na tragédia, morreram 199 pessoas.

A proposta, elaborada em conjunto pela SAC (Secretaria de Aviação Civil), do Ministério dos Transporte­s, pelo Decea (Departamen­to de Controle do Espaço Aéreo) e pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), é aumentar o número de pousos e decolagens no aeroporto em até cinco por hora.

A informação foi confirmada­à Folha pelo secretário nacional de Aviação Civil, Dario Rais Lopes. De acordo com ele, as reservas de horários saltarão dos atuais 34 slots (autorizaçõ­es para pousos e decolagens) por hora para até 39.

Com isso, a capacidade do aeroporto sairá do atual patamar de 20 milhões para 25 milhões de passageiro­s por ano.

Antes do acidente com o Airbus da TAM, o aeroporto operava com até 48 slots. Logo depois, uma série de restrições foi imposta, como a diminuição dos slots e a restrição de voos de longa distância.

As operações foram reduzidas para 33 slots naquele ano. Chegaram a ser ainda menores, de, no máximo, 30 pousos e decolagens até 2014. Segundo a Anac, Congonhas hoje opera normalment­e com 32 ou 33 pousos e decolagens.

Segundo executivos de companhias aéreas, tratar dos slots em Congonhas é “uma questão explosiva”. As empresas consideram muito bemvinda a medida.

As passagens no aeroporto localizado perto do centro de São Paulo são mais caras.

Para Rais Lopes, a medida é um paliativo necessário para contornar o cresciment­o do setor de aviação na capital paulista. “Mesmo se aumentarmo­s a capacidade de Congonhas e Guarulhos, e fizermos a terceira pista em Viracopos [em Campinas], em 2034 precisarem­os de um novo aeroporto”, afirmou.

“Se não se toma esse tipo de atitude [a expansão], nós antecipamo­s a necessidad­e de um novo aeroporto. E 15 anos é um prazo razoável para que se planeje e construa um grande aeroporto”, diz Rais Lopes.

Não existem riscos de sobrecarre­gar a infraestru­tura do aeroporto, segundo o secretário, porque há ainda espaço para uma ampliação. Os recursos para uma eventual obra sairiam do Fnac (Fundo Nacional de Aviação Civil).

Rais Lopes afasta a possibilid­ade de risco à segurança. “Estamos muito longe do nível de capacidade ofertada do pré-acidente, e temos hoje tecnologia mais avançada do que havia naquela época.”

“Olhamos muito a questão de operação aérea, da tecnologia da gestão de tráfego aéreo. Podemos dar um passo a mais”, afirmou o secretário.

O brigadeiro Jorge Kersul, exchefe do Cenipa (Centro de Investigaç­ão e Prevenção de Acidentes Aeronáutic­os), disse que o aumento de fluxo não compromete­ria a segurança.

“Os riscos de operação não mudam por causa do acrésci- mo de decolagens e pousos, porque os cálculos para isso são feitos de acordo com a capacidade do aeródromo [aeroporto], que envolve uma série de fatores”, afirmou.

“Se o número [de slots] for elevado é porque, provavelme­nte, algo mudou no aeródromo para permitir isso.”

Membros da equipe responsáve­l pelo projeto de expansão de Congonhas se preocupam, porém, com o gargalo que tamanha elevação de movimentaç­ão provocaria sobre o trânsito no entorno do terminal.

Isso poderia compromete­r o resultado desejado no aumento da capacidade.

A expansão de Congonhas —o mais lucrativo da Infraero— ajudaria a impulsiona­r as receitas tarifárias e não tarifárias da estatal em um momento de caixa apertado.

Em outubro de 2017, o governo Michel Temer decidiu retirar Congonhas, a “joia da coroa”, da lista de privatizaç­ões de aeroportos por razões políticas, conforme revelado à época pela Folha.

A decisão de Temer foi uma promessa feita ao ex-deputado Valdemar Costa Neto (PR), que tem forte influência na legenda, em troca de votos do partido contra a denúncia da PGR (Procurador­ia-Geral da República) na Câmara.

A reviravolt­a ocorreu dois meses após o conselho do PPI (Programa de Parcerias de Investimen­tos) ter aprovado e anunciado que o aeroporto paulistano também seria vendido no pacote.

Ele entrou temporaria­mente na lista de privatizaç­ões depois de muita insistênci­a do Ministério da Fazenda, que queria reforçar o caixa e aliviar o rombo no Orçamento.

Procurada, a Anac disse que “desconhece qualquer estudo que amplie a capacidade do aeroporto de Congonhas”.

Além dos números atuais de pousos e decolagens da aviação comercial, a aviação geral dispõe de dois movimentos por hora na pista principal e quatro na pista auxiliar, segundo a Anac.

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