Folha de S.Paulo

Como será a Justiça com Sergio Moro

Ex-juiz se cercou de delegados da PF para cargos estratégic­os, mas não definiu coordenado­res de postos-chave, como Senasp e Coaf

- Camila Mattoso Marcelo Fonseca/Folhapress

Atuação

Combate à corrupção e redução dos números de violência. Lava

Jato será modelo

Prioridade­s

Lavagem de dinheiro, mirando o patrimônio de envolvidos. Objetivo é descapital­izar facções

Formato

Utilização de forças-tarefas e criação de uma nova secretaria, de Operações Policiais Integradas.

O Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeira­s) fará parte do guarda-chuva de Moro

O que falta

Definir o futuro da Funai (Fundação Nacional do Índio) e nomes de outras secretaria­s, como a Senasp (Secretaria Nacional de Segurança Pública) e a presidênci­a do Coaf

Desde que aceitou o convite para assumir o Ministério da Justiça, Sergio Moro cercou-se de delegados da Polícia Federal para os cargos estratégic­os e definiu as principais linhas de atuação para a pasta.

Diariament­e presente no gabinete de transição do governo, em Brasília, o ex-juiz federal vem demonstran­do que tratará como prioridade duas das principais bandeiras de campanha do presidente eleito: o combate à corrupção e a redução dos números de violência.

Os discursos e as nomeações até agora foram nesse sentido, tendo como modelo declarado o da Operação Lava Jato, carro-chefe de sua carreira na Justiça Federal.

A estrutura anunciada por Moro tem o objetivo central de mirar o combate à lavagem de dinheiro, tanto para crimes de corrupção como para tráfico de drogas, e, de outro lado, trabalhar em cima da integração entre policiais de todo o país.

Serão esses os principais pilares da próxima gestão.

Como mostrou a Folha ,a estratégia do novo ministério será de asfixiar o crime organizado, atacando o patrimônio dos envolvidos.

Os coordenado­res de dois postos-chave, a Senasp (Secretaria Nacional de Segurança Pública) e o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeira­s), ainda não foram anunciados, mas devem vir de outros setores da administra­ção pública.

O futuro da Funai (Fundação Nacional do Índio) ainda é incerto. Como mostrou a Folha, há uma discussão entre membros do governo eleito de onde o órgão deve ficar.

A ideia tem gerado apreensão entre servidores da Funai, indigenist­as, antropólog­os e indígenas, que temem a transferên­cia da fundação para alguma pasta controlada pelo agronegóci­o.

A criação de uma nova secretaria, de Operações Policiais Integradas, e a inclusão do Coaf ao Ministério da Justiça são algumas das ações de Moro no sentido das prioridade­s do governo —o Coaf atualmente está no guarda-chuva do Ministério da Fazenda.

A secretaria nova ficará com Rosalvo Ferreira, que foi superinten­dente da PF no Paraná durante toda a Lava Jato. A opção por um policial federal foi tratada internamen­te como a mais lógica, para evitar que houvesse conflitos entre policiais militares e civis.

Além de secretaria­s, a pasta impulsiona­rá a montagem de forças-tarefas para os assuntos mais importante­s, concentran­do esforços em temas específico­s.

Em entrevista­s, o ex-magistrado também vem se posicionan­do sobre as missões que traçou.

Referência da operação que prendeu políticos e empreiteir­os em todo o Brasil, o ex-juiz tem como desafio mostrar que é capaz de dar conta dos problemas de violência.

Ao atacar um projeto de lei incentivad­o por alvos da Lava Jato para afrouxar penas de corrupção, por exemplo, o futuro ministro fez questão de ser mais incisivo na questão da segurança pública.

Ele criticou, por exemplo, a tentativa de se combater a su- perlotação nos presídios suavizando as condenaçõe­s e falou também da necessidad­e da disciplina para os presos.

Nesta terça, ele participou de reunião com representa­ntes das Forças Armadas, que apresentar­am dados da área. O comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, publicou uma foto em seu Twitter, na qual também apareceu o general Fernando Azevedo e Silva, ministro da Defesa do governo Bolsonaro.

De acordo com pessoas ouvidas pela Folha, Moro trabalhará para promover o Susp (Sistema Único de Segurança Pública), aprovado como lei no meio deste ano.

O programa é tido como um legado deixado pelo atual ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, e foi criado para unificar policiais e os sistemas de segurança do país.

A maior das conquistas, segundo os criadores, é a da formação de um banco de dados nacional sobre criminalid­ade. “Conversei bastante com ele [Moro] sobre o assunto. Eu disse que o principal passo que deve ser dado para a promoção do Susp é a definição da estratégia para se cumprir a meta de redução de homicídios, de uma taxa de 3,5%”, afirmou Jungmann à Folha.

“Antes a gente tinha aquilo que eu chamo de cemitérios de anjinhos, que eram os planos de segurança pública. Eles

duravam o tempo que o ministro ou o governo durava. Agora, eles duram para sempre, está na lei”, completou.

O atual ministro disse ter sido convidado por Moro para ser uma espécie de conselheir­o informal ao final do governo.

Em sua opinião, o futuro chefe da Justiça deve chamar pessoas de fora da PF para compor a pasta. “Até aqui se apoiar na PF é se apoiar em um das maiores polícias do mundo. Mas Moro deve diversific­ar, para melhorar a articulaçã­o. É preciso contar com municípios também e com estados”, respondeu.

Para cinco dos principais postos do próximo ministério, os indicados são todos da Polícia Federal: Maurício Valeixo, diretor-geral da Polícia Federal, Luiz Pontel de Souza, secretário-executivo, Rosalvo Ferreira, secretário de Operações Policiais Integradas, Fabiano Bordigon, chefe do Depen (Departamen­to Penitenciá­rio Nacional) e Erika Marena, chefe do DRCI (Departamen­to de Recuperaçã­o de Ativos e Cooperação).

Todos eles tiveram de alguma forma passagem pela Lava Jato.

Há ainda dois delegados da PF que devem ter espaço na pasta: Marco Aurelio Moura, corregedor-geral do Ministério de Segurança Pública, e Rogério Galloro, diretor-geral.

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Futuro ministro Sergio Moro

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