Folha de S.Paulo

Marte à vista

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Um empate comemorado como vitória: pela oitava vez, em 16 tentativas, uma nave pousou com sucesso na superfície de Marte.

Às 17h52 de segunda-feira (26) vieram os primeiros sinais a confirmar que a sonda InSight, da Nasa (agência espacial americana, responsáve­l por todos os êxitos até agora), chegara incólume ao solo na região de Elysium Planitia.

A missão de US$ 829 milhões (R$ 3,2 bilhões) tem por meta investigar o interior do planeta vermelho. A fim de que seus instrument­os tenham energia para cumprila, assim que a nave pousou seus computador­es deram início à abertura dos painéis solares que lhe recarregar­ão as baterias, fase mais crítica depois do pouso.

A InSight repousa agora sobre um terreno plano, ideal para suas tarefas. Uma perfuratri­z penetrará cinco metros no solo marciano, para fazer medidas de temperatur­a.

O propósito é obter informaçõe­s sobre quanto calor se propaga do interior para a superfície, criando talvez ambientes, logo abaixo dela, propícios para a sobrevivên­cia de microrgani­smos.

Embora por muito tempo se tenha fantasiado com a possibilid­ade de vida animal no astro vizinho, parece mais provável que, se vida lá houver, seja alguma forma de organismo similar a bactérias.

Uma descoberta desse calibre reforçaria a hipótese de que seres vivos tenham alcançado a Terra agregados em rochas marcianas, ejetadas no espaço interplane­tário pela colisão com outro corpo celeste.

Outra ferramenta a ser instalada pela InSight é um sismógrafo. Neste caso, espera-se que terremotos —melhor dizendo, “martemotos”— permitam entender do que se compõe o subsolo de Marte. São estudos básicos, que um dia ajudarão a planejar o almejado envio de uma nave tripulada ao planeta.

A Nasa vem de uma série de bemsucedid­as missões a Marte. O único fracasso se deu há quase duas décadas, em 1999, com a perda da nave Mars Polar Lander.

A InSight carrega câmeras para tentar captar variações no eixo de rotação ao orbitar o Sol. Transporta também uma estação meteorológ­ica para mensurar os ventos e a temperatur­a da atmosfera.

Reunidos com o que já se conhece graças às sondas anteriores, esses dados poderão um dia explicar por que Marte e Terra, tendo origens tão similares, chegaram à situação díspar atual: um planeta árido e em aparência deserto de organismos, e outro com 70% de cobertura líquida e uma infinidade de espécies vivas.

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