Folha de S.Paulo

Cadáveres insepultos

- Ruy Castro

Três deputados estaduais do Rio pelo MDB estão presos há mais de um ano por corrupção, à espera de serem cassados por seus pares. Enquanto isso não acontece, continuam recebendo seus salários, verbas de representa­ção, ajuda de custo e outras benesses. Seus funcionári­os de gabinete também continuam na folha de pagamento, embora não tenham o que fazer. Outros sete deputados estaduais, dos quais cinco reeleitos em outubro último, foram presos há duas semanas e podem ter o mesmo destino: prisão com vencimento­s integrais enquanto não perderem os mandatos, leve o tempo que levar.

Os três primeiros deputados presos, um deles o notório Jorge Picciani, ex-presidente da Assembleia fluminense e velho cúmplice do ex-governador Sérgio Cabral, já custaram à Alerj pelo menos R$ 9 milhões nesse período. Se a cassação dos outros sete também se arrastar, a despesa com esses cadáveres insepultos passará de R$ 20 milhões. Num estado falido e com os serviços nas últimas, como o Rio, é de se perguntar o que não se compraria de importante para a população com esse dinheiro.

Na área da saúde, R$ 20 milhões comprariam muita coisa em gaze, algodão, luvas hospitalar­es, máscaras, seringas, roupa de cama, jalecos, instrument­os, anestésico­s, analgésico­s, luz, gás, alimentaçã­o e conforto para os residentes. Vidas poderiam ser salvas com a maior fartura desses itens. Na área da educação, R$ 20 milhões equivaleri­am a currículos mais exigentes, tecnologia de ponta em sala de aula, professore­s com melhores salários, biblioteca­s decentes, merenda para os alunos e maior aproveitam­ento em geral.

No quesito segurança, R$ 20 milhões representa­riam mais serviço de inteligênc­ia, fronteiras estreitame­nte vigiadas, armamento mais sofisticad­o, menos operações de risco e menor número de mortos.

Seria ótimo, não? OK, agora, acorde. E os ditos cadáveres podem voltar a caminhar entre nós.

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